Nenhum homem neste mundo viveu uma vida tão abundante como Jesus, apesar de
que algumas literaturas religiosas querem nos fazer acreditar que ele somente
levou uma vida de misérias e sofrimentos. Os sofrimentos físicos de Jesus
durante os seus 33 anos de vida, não passaram de 15 horas, horas essas que foram
aceitas voluntariamente. Os seus aborrecimentos morais vieram constantemente
iluminados pela consciência da grande missão que o trouxe para a Terra, dando a
esse sofrimento um brilho de divina poesia e profunda felicidade. “Eu lhes dou a
minha paz, eu os deixo com a minha paz – ele disse na véspera de sua morte – de
tal maneira que minha alegria esteja em vocês e suas alegrias sejam perfeitas.”
Aquele que fala das profundezas da alma – da Presença constante do Pai em
sua alma - tem vida abundante e pode fazer essa vida transbordar nas almas
humanas receptivas à essa abundância. E a vida de Jesus foi abundante não
somente em espírito, mas também de corpo e mente: perfeita santidade, sabedoria
e sanidade, perfeita felicidade de alma através do amor, da mente, através do
conhecimento de todas as leis da Natureza e do corpo, graças a uma saúde que
nunca foi afetada pela mais leve doença.
Não é possível passar direto do estado de profanidade para o estado
crístico, sem antes passar pelo estado ascético e da auto-disciplina – do
auto-conhecimento para a auto-realização.
Sendo que o homem comum é mais materialista do que espiritual, é normal que
os mestres da vida espiritual sejam determinados ascetas, insistindo grandemente
na necessidade da renúncia, do radical desapego das coisas materiais e dos
prazeres dos sentidos que escravizam o homem comum.
Nota:
Existe muita especulação sobre a vida de Jesus durante seu período de
infância, adolescência, juventude, até o início de sua vida pública, aos 30 anos
de idade. O Jesus histórico, humano, parece que tem mais importância do que a
mensagem do Jesus divino. Existe nesse período uma lacuna premeditada e um
profundo mistério, pois todo profeta tem a necessidade de ser iniciado, dai a
razão desse desconhecimento de sua vida durante quase 30 anos. É preciso que a
alma desse profeta seja desperta e que ela tome conhecimento de suas forças para
cumprir sua nova missão. Após esse período, até sua crucificação aos 33 anos de
idade, contam os evangelhos que Jesus vivia uma vida nômade, entre cidades de
sua região, pregando seus princípios morais e éticos, vivendo-os sem um endereço
fixo, sem ganhos financeiros de nenhuma espécie, mas sobrevivendo com a ajuda de
amigos e fiéis aos seus ensinamentos. Eventualmente, evitava ir a Jerusalém,
pois ali estavam esperando, aqueles que o iriam imolar, e assim desviava seu
curso pois seu tempo ainda não tinha chegado.
Dado ao seu carisma, era admirado, recebido e convidado por pobres e ricos,
por homens e mulheres comuns e de posição social e política; sentando-se à mesa
de pobres e nos banquetes de ricos e famosos. Com certeza, dado ao descrédito de
muitos, deve ter passado por privações voluntárias, mas que foram de sua
escolha, caso contrário, sua missão não teria sentido e as escrituras não teriam
sido escritas. No final de sua vida, conta-se que durante a crucificação,
despido das vestes, essas foram disputadas pelos soldados romanos, devido a
excelente qualidade dos tecidos que ele vestia, em particular seu manto sem
costura, que na época, era vestimenta exclusiva de ricos. Ao ser sepultado, José
de Arimatéia, um rico comerciante e dono de uma
frota de navios, senador e membro do Sinédrio, e principalmente amigo e seguidor, ofereceu sua
própria sepultura para acomodar o corpo de Jesus. Portanto é prematuro e incerto
afirmar que Jesus viveu uma vida só de sofrimentos e pobreza.
Texto extraído do livro Assim Dizia o Mestre