Monday 31 December 2018

O TORMENTO DA CULPA E SUA CURA

O grande mal que assola a humanidade está na falência das consciências de cada ser humano. A desenfreada adoração do “deus-dinheiro” derrotou todas as considerações de ordem moral. Bom é aquilo que dá dinheiro; ótimo é aquilo que dá milhões – é esta infeliz mentalidade que vigora em nossos dias.
 
Enquanto o homem não passar por uma profunda reforma interior, as reformas externas impostas como lei pelos governos, são precárias e ineficientes.
 
A reforma interior, porém, supõe algo que não está em nossos códigos de leis nem se leciona em nenhuma escola. Supõe um conhecimento de si mesmo e uma inexorável fidelidade a esse Eu superior e divino do homem, porque esse Eu divino no homem exige imperiosamente equivalência entre o que se recebe e o serviço prestado aos outros. Quem recebe um salário e não presta o serviço correspondente ao quanto recebeu, é ladrão, é explorador, é réu de uma injustiça, seja qual for o seu cargo em qualquer instituição. Mesmo no caso em que as leis humanas absolvam esse réu, perante a justiça do Universo ele é culpado.
 
Cada injustiça que um ser humano comete é uma degradação do indivíduo, quer a lei humana a aprove, quer desaprove. O indivíduo que comete injustiça vai perdendo parcela do seu valor, acabando, dentro de algum tempo, em completa falência moral, embora tenha talvez se enriquecido materialmente com o produto dos seus roubos. Se esse ladrão é analfabeto em matéria de conhecimento próprio e auto-realização, será quase impossível fazer-lhe compreender o seu triste estado; se tornou milionário à custa do suor dos outros, mas quem será capaz de provar que é um desgraçado?
 
Entretanto, essa impossibilidade de provar-lhe esse fato e colocar-lhe diante dos olhos o autêntico retrato do mal que produziu não invalida o fato desse mal, pois a ignorância não isenta ninguém da culpa.
 
Esse homem vai acumulando dentro de si mesmo, débitos cada vez maiores, um débito moral que tem de ser neutralizado, de acordo com a inexorável justiça da Constituição Cósmica. Mas a neutralização desse débito acumulado em anos de abusos contra outras pessoas e instituições, acarretará sofrimentos inevitáveis, seja no mundo presente, seja em existências futuras. Ninguém sairá impune de sofrimentos enquanto não houver pago todos seu débitos. A Constituição Cósmica é um fato, e não uma fantasia. Ninguém pode derrubar o Himalaia batendo a cabeça contra seus maciços de pedra! Ninguém pode transgredir impunemente contra as leis eternas da Verdade e da Justiça!
 
O ser humano parasita e explorador só tem um caminho para se redimir: ser consciencioso e prestar aos seus semelhantes a parcela pela qual tem obrigação perante as Leis Cósmicas, e restituir-lhe o produto dos roubos anteriores, conforme o exemplo de um grande explorador de que nos fala a história, Zaqueu de Jericó, que, reconhecendo o seu triste estado, declarou:- “Se defraudei alguém, restituo quatro vezes mais, e, ainda por cima, dou aos pobres metade da minha fortuna.”
 
Os livros sacros de todos os povos chamam de “insensato” ou “tolo” o homem injusto e pecador – e esses livros tem plena razão! Pois é tolice e insensatez entrar em conflito com as leis eternas e ter que pagar enormes débitos por causa de umas pequenas vantagens imediatas! A mentira, a fraude, a injustiça, qualquer pecado ou crime, proporcionam, quase sempre, determinada vantagem imediata, e é precisamente por causa dessa vantagem que o delinquente pratica o mal. Se o pecador, burlando a lei eterna e lucrando certa vantagem imediata, pudesse passar impune para sempre, definitivamente; se, depois de embolsar o resultado do seu roubo, nenhum mal lhe acontecesse, nenhum sofrimento o aguardasse, por parte de um Supremo Tribunal extra-humano – então – seria ótimo negócio ser mau, injusto, desonesto, explorador, ganhar muito explorando os outros.
 
Mas, o Universo é um “Cosmos”, um sistema de ordem e harmonia, e não um “caos” de desordem e confusão. A Constituição Cósmica do Universo exige imperiosamente a prática da Verdade, da Justiça, do Amor, da Solidariedade, da Honestidade. Pode, certamente, a criatura livre burlar essa lei, mas as consequências dessa infração se voltam infalivelmente contra o infrator, em forma de sofrimento de qualquer espécie. O sofrimento é o eco automático a qualquer violação da Lei Cósmica. E ninguém sabe quantos anos, decênios ou séculos correspondem a cada violação. O certo é que esse doloroso castigo existe – tão certo como é certo que o Universo é um Cosmos.
 
Portanto, é evidente estupidez provocar enormes sofrimentos, embora talvez remotos, para gozar de uma pequena vantagem imediata. E, por outro lado, é real sabedoria renunciar a uma vantagem de momento e, assim, não provocar sofrimento futuros.
 
Ninguém pode fugir à lei inexorável de Causa e Efeito; uma vez posta a causa, segue-se o efeito com inevitável necessidade e perfeição. O Universo se reequilibra automaticamente – mas esse reequilíbrio é doloroso para o delinquente.
 
Ser bom, justo, honesto, verdadeiro, é doloroso por causa do falso ambiente da vida humana, criado por nossa pseudo-civilização em séculos de carma coletivo. Mas, em qualquer hipótese, ser bom, justo, honesto, verdadeiro, é, em última análise, ser feliz, embora essa felicidade íntima seja momentaneamente circundada de sofrimentos. Fundamentalmente, ser bom é ser feliz, e ser mau é ser infeliz. Podemos enganar os homens – mas ninguém pode enganar a lei eterna e sua própria consciência.
 

Texto extraído em parte, do livro Novos Rumos para a Educação