Wednesday 29 May 2019

MÚSICA PARA ESTUDAR

O artigo abaixo é de autoria de Tina Broad, consultora em educação artística e estratégia, e que trabalha no projeto SongMakers na Austrália. Ela dirigiu anteriormente o Music: Play for Life, uma campanha nacional do Conselho de Música da Austrália com a finalidade de fazer com que os australianos desenvolvessem mais projetos sobre música em escolas e comunidades espalhadas por todo o país. Este artigo foi publicado pela primeira vez para acompanhar o álbum Music to Study By, lançado pela ABC Classics em 2012. 

Transcrevo este interessante ensaio, com algumas adaptações, como complemento aos artigos anteriores escritos neste blog: A MÚSICA COMO FORÇA INSPIRADORA, MÚSICA PARA A MENTE, MÚSICA EM NOSSAS VIDAS e HINO À ALEGRIA. Acrescentando que, em se tratando de escrever, pensar, estudar, ler, e no cotidiano em geral, meus ouvidos e mente estão sempre sintonizados na boa música que inspira. E muitas vezes, não importa o ritmo. Importa que acrescente, que construa com a areia, cimento e ferro da imaginação, uma ponte segura que ligue, de um lado a inspiração, ao outro da intuição.

"A humanidade e a música estão intrinsicamente ligadas". 

“Platão afirmou que a música "dá alma ao universo, asas à mente, fuga à imaginação, encanto e alegria à vida e a tudo." Portanto, não é de se admirar que a maioria das grandes cabeças pensantes, através dos tempos, tenham tido a música como um companheira para todos os momentos.

Quão importante foi a música para Thomaz Jefferson? Era importante o suficiente para que ele dedicasse milhares de horas ao estudo do violino, considerando a música como a favorita de sua alma, acrescentando que: "fornece uma deliciosa recreação para as horas de descanso e das preocupações do dia, e nos perdura pelo resto da vida.” E ao embalo dos sons, também nasceu o rascunho da Declaração de Independência dos Estados Unidos. 

A relação de Albert Einstein – esse cientista místico - com a música, era também altamente presente, pois usava no intervalo de seus pensamentos, além do silêncio que o inspirava, o violino e o piano, produzindo assim uma revolução na ciência, afirmando que a música era sua alegria; e será que devemos a ele, nesse seu colóquio com a música, a famosa fórmula E=Mc2? Mais recentemente, existem relatos de que um grande número dos maiores empresários do Vale do Silício, são músicos.

Talvez seja Beethoven quem melhor nos conduz ao terreno da música como auxílio ao estudo, quando afirmou: "A música é o terreno vibratório onde o espírito vive, pensa e inventa." consequente, avançando no tempo, nos deparamos com os saltos quânticos onde a música nos ajuda no desenvolvimento do cérebro. 

A ciência do século XXI, no que diz respeito ao cérebro, afirma que benefícios positivos, profundos e duradouros surgem quando ouvimos e fazemos música. O Efeito Mozart, que há duas décadas surgiu, aparentemente surtiu efeito, tanto é que, motivado pela comercialização, e de seus possíveis resultados no desenvolvimento da mente, apresentou coleções de sonatas e que ainda hoje fazem parte das prateleiras das lojas de discos que vendem as músicas desse grande gênio. 

Mais recentemente, Daniel Levitin, um músico e ex-produtor de discos que se tornou neurocientista, entrou na lista dos mais vendidos do New York Times com seu livro “This Is Your Brain on Music.” Ele e sua equipe da Universidade McGill, no Canadá, pesquisam os efeitos da música no humor das pessoas. Em um dos experimentos, mediram as respostas dos ouvintes às musicas de Mozart, John Coltrane e até do Tubular Bells of Mike Oldfield, por meio de medidas como frequência cardíaca, pressão sanguínea e atividade cerebral, concluindo que a música que as pessoas apreciam pode agir como um estimulante do cérebro, regulando o humor e ajudando na concentração - condições positivas para o aprendizado.

Embora ainda não se chegue à uma melhor conclusão sobre quais gêneros musicais podem induzir essas condições positivas, as amostras musicais de Levitin concordam que ouvir música cantada na língua materna do ouvinte, em particular, não ajuda na concentração. O córtex pré-frontal fica sobrecarregado ao ajustar os estímulos verbais que distraem, de modo que o ouvinte se sente em desvantagem no aprendizado. Qualquer pessoa que tenha tentado meditar percebe que exige esforço e atenção mental, e quanto menos distrações, melhor.

Nosso relacionamento com a música começa antes do nascimento, com a musicalidade particular da voz da mãe criando um vínculo poderoso que os cientistas acreditam ser fundamental para o desenvolvimento do feto. Já na fase infantil, adquirimos as habilidades de linguagem e aritmética quando a música é envolvida: aprendemos o alfabeto na música, a fazer contas em um padrão rítmico. Na adolescência, a pesquisa mostra que a relação com a música é tão importante quanto o relacionamento com amigos, e o que escolhemos ouvir é uma fonte poderosa de afirmação de identidade. Ao longo de toda vida, seja qual for o ambiente cultural, a música está presente, marcando vidas e definindo o clima para todas as ocasiões. 

Essa habilidade que a música apresenta de mudar nosso humor, parece estar relacionada à produção de diferentes substâncias químicas no cérebro. A Dra. Katrina McFerran, do Centro de Música, Mente e Bem-Estar da Universidade de Melbourne, na Austrália, diz que as endorfinas desencadeadas por ouvir e fazer música proporcionam uma espécie de alívio natural da dor, onde a dopamina leva a sentimentos de otimismo, energia e poder. Isso pode explicar as experiências de "fluxo" e "pico" que as pessoas costumam descrever como tendo sido estimuladas pela audição musical e por uma participação musical mais ativa. 

Infelizmente, um dos maiores impedimentos para o aprendizado é o estresse - e sabemos que ouvir música é excelente para o alivio desse sintoma. Estudos envolvendo residentes de lares de idosos e pessoas com doença mental mostram ligações entre fazer música e ouvir, na redução dos níveis de cortisol, hormônio esse, relacionado ao estresse. Há relatos, também, de que tocar certos tipos de música clássica, como Beethoven e J.S. Bach, em Unidades de Terapia Intensiva, produz um efeito calmante que ajuda a reduzir a dependência de medicamentos após a cirurgia. Por outro lado, muito tem sido feito em experimentos envolvendo música de bandas “heavy metal,” que podem também causar uma resposta ao estresse, ou os “tambores de vodu,” que, talvez não surpreendentemente, tornou os pobres ratos de laboratório hiperativos e agressivos. 

Os estudos também analisaram a ligação entre os ritmos cerebrais e os compassos da música com os batimentos do coração, para observar os tipos de estados cerebrais que podem ou não ser induzidos por diferentes tempos. Existem inclusive debates envolvendo certos ritmos melodiosos que induzem estados delta e de sono profundo. Ou se a música barroca, que normalmente está na faixa de 50 a 80 compassos por minuto, pode desenvolver a calma, enquanto alerta o estado cerebral alfa que é ideal para o aprendizado. Na década de 1960, o psicólogo Georgi Lozanov, apelidado de "pai da aprendizagem acelerada", interpretou Handel e J.S. Bach, como fundo musical em uma aula de língua estrangeira, descobrindo que assim, aumentava a velocidade de aprendizado dos alunos e a retenção de memória. Curiosamente, foi a música de 60 compassos por minuto que foi mais eficaz - uma taxa que corresponde de perto a um batimento cardíaco relaxado.” 

E creio que estamos ainda muito longe de interpretar os efeitos que um som melodioso, de um ritmo sincopado, de uma lírica que inspira, da harmonia conjunta de instrumentos na elaboração musical, apresenta, e que consegue influenciar e mudar nossas atitudes e ratificar valores dormentes em nossos estados de consciência. 

Por exemplo, J.S. Bach prefaciava suas músicas com os dizeres: “Em nome de Jesus” e que de certo deva ter influenciado a vida de Albert Schweitzer, um sábio humanista, organista, médico, escritor e prêmio Nobel da Paz, que após uma tomada de consciência, numa meta ao completar seus 30 anos de idade, resolveu viver numa remota região da África e lá curar e educar a humilde população de Lambaréné. 

Huberto Rohden, inspirador deste blog, passava horas inteiras, junto a seus estudos e escritos, ouvindo o que há de melhor em composições clássicas. Em um de seus livros, A Experiência Cósmica, enquanto escrevia, ouvia as suaves melodias e a lírica inspiradora de um dos melhores de seus discos: "14 Hymns of the Mariners," dizendo sentir-se envolvido por essa maravilhosa música mística.

O famoso coro em “Aleluia” de G.F. Handel, na sua visão mística dos anjos do céu; Paramahansa Yogananda, que produziu verdadeiras pérolas musicais para a intimidade da alma com Deus; do ritual de músicas religiosas de todas as crenças; algumas obras para piano de Chopin e Rachmaninov que arrebata e harmoniza; as brilhantes composições para a música de balé; algumas canções e melodias populares; e mais recentemente, a música para os jogos eletrônicos, algumas delas são verdadeiras pérolas de composição instrumental. E da influência de muitos outros talentos e gênios musicais de tantos países e que inspiram a humanidade... e neste momento em particular, quando escuto os sublimes acordes da Sinfonia número 5 de Gustav Mahler, nos 9 minutos de seu Adagietto. 

E tudo acima, sem falar da performance de todos os instrumentos musicais – de um simples berimbau à um sofisticado órgão, ou da variedade de sons emitidos por instrumentos eletrônicos - cada um em particular, não importando suas origens, revelam o sentimento do artista. E o que mais dizer do violão, ou guitarra, o mais popular, que virtualmente tem a habilidade que nenhum outro instrumento tem, o do alcance de expressão, como afirmou Beethoven, que: “Se algum instrumento tem a habilidade de duplicar uma orquestra, numa escala menor, este deve ser somente a guitarra!” 

Portanto... estudar com música, é a melhor opção!

MUSIC FOR STUDY

I'm transcribing this interesting essay as a supplement to the previous ones written on this blog about music: MUSIC AS AN INSPIRING FORCE, MUSIC FOR THE MIND, MUSIC IN OUR LIVES and ODE TO JOY. Adding that when it comes to write, think, studying, reading, and on everyday tasks in general, my ears and mind are always tuned to the good music which inspires. And doesn't matter the rhythm. It is important that music plays its role... to build with sand, gravel, cement and steel, the bridge of imagination - a safe connection from one end to the other, the paths of intuition.

It was written by Tina Broad who is a consultant in arts education and strategy, working on the APRA AMCOS SongMakers Project, and previously ran Music: Play for Life, the Music Council of Australia’s national campaign to get more Australians making music in schools, communities, everywhere. This article was first published to accompany the album Music to Study By, released by ABC Classics in 2012.

"Mankind and music are inextricably linked."

"Plato said music "gives soul to the universe, wings to the mind, flight to the imagination, and charm and gaiety to life and to everything." It is no wonder, then, that many of the giant intellects through the ages have had music as a lifelong companion.

Thomas Jefferson apparently picked up his violin to clear writer’s block when drafting the Declaration of Independence. Do we have Einstein’s relationship with music to thank for e=mc2? He, too, was a keen violinist, who said he got most joy in life from music. There are even reports that a high number of today’s top Silicon Valley entrepreneurs are musicians.

Perhaps it is Beethoven who best leads us into the music-as-study-aid terrain. He said, "Music is the electrical soil in which the spirit lives, thinks and invents." He was onto something. Fast forward a few centuries and there have been quantum leaps in our understanding of the many ways in which music helps our brains.

While 21st-century science tells us that the most profound and long-lasting benefits to our brain come when we make music, listening – and the choices we make about what we listen to – can have positive effects, too. The evidence about the effect of music listening on learning got off to a shaky start with the much quoted, but misrepresented, Mozart Effect. Conducted two decades ago, the research looked at three different listening states – silence, relaxation music and a Mozart sonata – and compared the effects of each on one aspect of listeners’ IQ tests. Granted, there were positive changes with the Mozart, but most lasted just ten minutes! The media picked up – and picked through – the research, exaggerated its findings, and the misnamed ‘effect’ has been with us ever since.

More recently, Daniel Levitin, a musician and former record producer turned neuroscientist has made it onto the New York Times bestseller list with his book This Is Your Brain on Music. He and his team at McGill University in Canada have been researching the effects of music on mood, among other things. In one experiment, he measured listeners’ responses to Mozart, John Coltrane and even Mike Oldfield’s Tubular Bells, through measures such as heart rate, blood pressure and brain activity. He concluded that the music people enjoy can act like a stimulant on the brain, regulating mood and aiding concentration – positive conditions for learning.

Though the jury is still out on what genres of music might best induce these positive conditions, Levitin’s musical samples support a more general agreement that listening to music with lyrics is out if you need to concentrate – or at least, lyrics in your mother tongue. The prefrontal cortex gets overtaxed tuning out the distracting verbal stimuli, so you don’t have the full advantage of all your grey matter on the learning task at hand. As anyone who has tried meditating knows, attention takes mental effort, and the fewer distractions, the better.

Our relationship with music begins before birth and is hard-wired in the womb, with the particular musicality of the mother’s voice creating a powerful bond which scientists think is pivotal to the infant’s survival. As young children, we acquire language and numeracy skills best when music is involved: we learn the alphabet in song, our times tables to a rhythmic pattern. As we reach our teen years, research shows that our relationship with music is as important to us as our relationship with our friends, and what we choose to listen to is one of our most powerful forms of asserting our identity at this time. Throughout our lifespan, whatever our cultural background, music is right there with us, marking every milestone in our lives and setting the mood for all occasions.

This ability of music to change our moods seems to be related to the production of different chemicals in the brain. Dr Katrina McFerran, at the University of Melbourne’s Centre for Music, Mind and Wellbeing, says that endorphins triggered by listening to and making music provide a kind of natural pain relief, where dopamine leads to feelings of buoyancy, optimism, energy and power. This may explain the kinds of ‘flow’ and ‘peak’ experiences people often describe as having been evoked by music listening and more active musical participation, she says.

Of course, one of the biggest impediments to learning is stress – and we know that listening to music is great for stress relief. Studies involving residents of nursing homes and people with mental illness show links between music making and listening, and reductions in the stress hormone, cortisol. There are reports, too, that playing certain types of classical music, such as Beethoven and J.S. Bach, in Intensive Care Units produces a calming effect which helps reduce patients’ dependence on medication after surgery. Conversely, much has been made of experiments involving heavy metal music, which can cause a stress response, or ‘voodoo drumming’, which, perhaps not surprisingly, made the poor lab mice hyperactive and aggressive.

Studies have also looked at the link between brain rhythms and beats per minute of the music or heart, to look at the kinds of brain states that may or may not be induced by different tempos. There is debate about whether certain pieces of music induce deep, delta states of sleep, for example. Or if Baroque music, which is typically in the 50–80 beats per minute range, can create the calm but alert alpha brain state which is ideal for learning. In the 1960s, psychologist Georgi Lozanov, since dubbed the ‘father of accelerated learning’, played Handel and J.S. Bach in the background of a foreign language class and found that it increased students’ speed of learning and boosted memory retention. Interestingly, it was the 60 beats per minute music that was most effective – a rate which closely matches a relaxed pulse."

And I think we are still a long way from interpreting the effects that  melodious sound, a syncopated rhythm, a lyric that inspires, the joint harmony of instruments in musical elaboration presents, which can influence and change our attitudes and ratify dormant values in our states of consciousness.

For example, JS Bach prefaced his songs with the words: "In the name of Jesus" which have influenced the life of Albert Schweitzer, a humanist scholar, organist, physician, writer and Nobel Peace Prize winner who, of conscience, on a goal at the end of his 30 years of age, decided to live in a remote region of Africa and there to heal and educate the humble population of Lambaréné.

Huberto Rohden, inspirer of this blog, spent whole hours, together with his studies and writings, listening to the best in classic compositions. In one of his books, The Cosmic Experience (available in Portuguese only), as he wrote, hearing the soft melodies and inspiring lyric of one of his best records: "14 Hymns of the Mariners," saying that he felt himself engulfed by this wonderful mystical music. 

The famous choir in "Hallelujah" by GF Handel, in his mystical vision of the angels of heaven; Paramahansa Yogananda, who produced true musical pearls for the intimacy of the soul with God; of the religious musics of all beliefs; some works for piano by Chopin and Rachmaninoff which enraptures and harmonizes; the brilliant compositions for ballet music; some songs and melodies of the popular repertoire; and more recently, music for electronic games, some of them true pearls of instrumental composition. And the influence of many other talents and musical geniuses from so many countries and who inspire humanity... and in this particular moment, when I hear the Symphony No. 5 by Gustav Mahler, in the 9 minutes of his Adagietto... so sublime! 

And everything above, not to mention the performance of all musical instruments - from a simple berimbau to a sophisticated organ, or to a set of sounds emitted by electronic instruments - each in particular, regardless of its origins, reveal the artist's feeling. And what else more to say about the guitar?, the most popular one, which has virtually the ability of any other instrument, that of the range of expression, as Beethoven says: "If any instrument has the ability to duplicate an orchestra, on a smaller scale, it must be just the guitar!"

So... studying with music is the best option!