Sunday 23 June 2019

ANNO DOMINI NOSTRI IESU CHRISTI - MDCXIX

“Nunca haverá tempo disponível no futuro, para trabalharmos nossa salvação. O desafio está no momento; agora, é a hora.” James Baldwin
O ano de 1619, marcou, segundo os historiadores - em particular Leo Huberman (1903-1968) em seu livro “Nós, o Povo” – descrevendo de forma brilhante e acurada, o drama da colonização norte americana iniciada no descobrimento, em todos os seus aspectos e em particular, a chegada dos primeiros escravos forçadamente vindos da África, para adoçar o apetite ganancioso dos interessados em fazer riqueza fácil num pais de muitos recursos, longe da matriz tirânica de alguns países europeus, e conquistado aos nativos indígenas que sucumbiram durante os massacres do explorador.
No país da chamada liberdade no mundo livre, distante de todo tipo de opressões encontradas na Europa, partem de lá, extensas populações de homens de cor branca, dos mais diversos credos e ideologias. Uns por vontade própria; outros forçadamente exilados.
A travessia do Atlântico, que segundo bons ventos ou não, duravam entre 7 a 12 semanas até atingir a Filadélfia, sempre provocavam baixas humanas, se não pelas condições marinhas e do transporte em si, ou pela contaminação alimentar, sanitária e transmissão de doenças em barcos precários e superlotados pelos mais diferentes tipos de populações. Quem vinha com algum dinheiro, podia ainda usufruir do convés arejado. Aquele destituído, amargava as piores condições humanas. E dessa forma eles vieram, por livre vontade ou não... sendo assim, pouco a pouco, conquistado o território norte americano.
A migração se iniciou com pouco número de pessoas. No início do século XVII cresceu para centenas, depois milhares e 300 anos depois tiveram que ser medidos em centenas de milhares - em 1907, mais de um milhão de pessoas entraram nos Estados Unidos durante o ano. Nos anos de 1903 a 1913 “toda vez que o relógio batia uma hora inteira, dia e noite, com base na média de 10 anos, 100 pessoas nascidas em algum país estrangeiro, sem incluir o Canadá e o México, desembarcaram nas costas dos Estados Unidos.
No entanto, “outro grupo de imigrantes foi trazido contra sua vontade. Quando os primeiros colonizadores acharam praticamente impossível fazer bons escravos dos índios que encontraram aqui - porque o pele-vermelha era orgulhoso demais para trabalhar sob o açoite do chicote - eles se voltaram para a África onde os negros podiam ser obtidos. Durante a maior parte do século XVIII, mais de 20.000 escravos foram transportados todos os anos. Negociar com escravos negros tornou-se um negócio muito lucrativo. Muitas grandes fortunas inglesas foram fundadas no tráfico de escravos. E um exemplo famoso é o da família de William Ewart Gladstone, primeiro-ministro do Reino Unido por 12 anos.
Como era de se esperar, as privações sofridas pelos brancos na travessia marítima não eram nada comparadas com a miséria da dos negros. Aqui está uma amostra das condições dos navios negreiros:
O barco tinha capturado na costa da África, 336 homens e 226 mulheres, perfazendo um total de 562 pessoas; durante os primeiros dezessete dias de travessia, foram jogados ao mar, 55 mortos. Eles ficavam todos amontoados e fechados nos porões do navio, sob escotilhas com grades, e os espaços entre esses porões eram tão baixos que os obrigavam a se sentar entre as pernas uns dos outros, tão próximos, que não havia possibilidade de se deitarem ou de mudar de posição, dia e noite... Sobre o alçapão de entrada dos porões, havia sempre um sujeito de aparência feroz com um chicote na mão, que ao menor ruído, fazia o chicote vibrar em sinal de alerta e pronto para entrar em ação...
Mas o que mais impressionava, foi de como era possível que tal número de seres humanos pudessem viver como que empacotados e espremidos juntos, em celas baixas, com no máximo 90 cm de altura, a maior parte das quais, no escuro e sem ar, num ambiente onde o termômetro atingia a casa dos 55 graus!
Não era de se surpreender que tivessem enfrentado tantas doenças e mortes. Apenas 17 dias do início da viagem e 55 foram jogados ao mar, sabendo que deixaram o porto africano em boa saúde. Muitos dos que ainda sobreviveram só o conseguiram por terem sido colocados no convés em estado de degradante miséria física.”
O que se tornou desse enxame de pessoas depois que chegaram lá? Acabaram se tornando a mais poderosa nação do planeta!
E a saga de todos esses 400 anos da exploração, do racismo, do preconceito, da segregação e da discriminação desencadeada contra as populações negras, continua. O país da Declaração Universal dos Direitos do Homem (onde o homem negro se inclui!), cerrou os olhos a um povo que foi e continua sendo um considerável contribuinte de toda riqueza criada, em todos os aspectos e atividades, deixando um imenso legado na história dessa nação.
Desde o mais modesto movimento de reconhecimento enquanto ser humano, e que deixou muitos mártires, do circo de horrores onde homens negros eram enforcados em galhos de árvores parecendo frutas estranhas, mulheres e crianças assaltadas em suas sacralidades, segue essa procissão considerada e chamada de miseráveis e inferiores, sendo conduzidas pelo látego do homem branco. O movimento de desobediência civil de Thoreau, a grande marcha liderada por Martin Luther King (esse brilhante humanista e discípulo de Gandhi) e outras lideranças negras pelo movimento dos direitos civis, algumas tentativas de líderes políticos brancos em amenizar essa saga e chaga que se tornou indelével na história dos Estados Unidos, nada resolveu até os dias de hoje, fazendo continuar essa mancha na moral e na ética fragmentada de um país chamado cristão.
Paradoxalmente, o Cristianismo branco católico nos Estados Unidos (igreja que muito contribuiu para sedimentar essa situação), se esqueceu da ética máxima do segundo mandamento, mas continua reclamando um sentimento religioso em suas ações e reações, mas não nas atitudes, e em DEUS NÓS CONFIAMOS, é o lema oficial na moeda norte-americana! Entretanto, continuam relegando sua população negra, sob a rígida casta social, às sarjetas da ordem social.
Em 1968, Martin Luther King é assassinado! Ouros líderes que lutaram pela causa da igualdade social, ficaram para as páginas da história. Diariamente nos noticiários se publicam relatos de mortes e violência contra a população negra. E assim se arrasta pela história um processo que parece não ter fim... no país da liberdade!
A chamada supremacia branca jamais irá existir! A arrogância e ignorância de vasto setores de todas as sociedades guiadas pelo poder do homem branco, não tem a habilidade de compreender que a cor da pele, hábitos e costumes culturais são apenas uma circunstância geográfica; o ser humano é um só, em todos os lugares do planeta. Assim, não aceitando a convivência harmônica entre as diversidades. Advogar essa supremacia branca é apenas uma cínica e hipócrita metáfora para o poder. A humanidade nunca vai ser apenas branca, vai ser negra também, vai ser amarela, vermelha e todas as outras nuances de cores apresentadas pela miscigenação.

ANNO DOMINI NOSTRI IESU CHRISTI - MDCXIX

There is never time in the future in which we will work out our salvation. The challenge is in the moment; the time is always now. James Baldwin
The year 1619 is referred, according to historians - in particular Leo Huberman (1903-1968) in his book "We, the People" - describing in a brilliant and accurate manner the dramas of the North American colonization since its discovery in all its aspects, in particular, the arrival of the first fleet of slaves forced from Africa to sweeten the greedy appetite of those interested in making easy wealth in a country of many resources, far from the tyrannical matrix of European countries, and conquered from the natives whom succumbed during the massacres triggered by the explorers.
In the so-called land of liberty, distant from the oppression found in Europe, there comes vast populations of white men of diverse creeds and ideologies. Some by will, others forcibly exiled.
The Atlantic crossing, which according to the weather lasted from 7 to 12 weeks until reaching Philadelphia, always caused large human casualties, if not by marine conditions and the precarious transportation itself, or by food contamination, sanitary and disease transmission in ships overcrowded by the most different kinds of populations. Whoever came with some money, could still enjoy the airy deck; the destitute ones bittered the worst human conditions.
And so, the North American continent was little by little been conquered... off to the American dream!
They came, both the willing and the unwilling. The movement begun with a few people in the early seventeenth century grew to hundreds, then thousands and 300 years later had to be measured in hundreds of thousands – in 1907 more than a million people entered the United States within the year. In the years 1903 to 1913 “every time the clock struck the hour, day and night (taking the average for the whole 10 years) 100 persons born in some foreign country, not including Canada and Mexico, landed on the shores of the United States.
However, “still another group of immigrants were brought against their will. When the early settler found it practically impossible to make good slaves of the Indians they found here because the red man was too proud to work under the lash, they turned to Africa where Negroes could be obtained. For the most of the eighteenth century over 20,000 slaves were transported every year. Negro slave-trading became a very profitable business. Many great English fortunes were founded on the slave trade. It is a famous example, the fortune of William Ewart Gladstone’s family, Prime Minister of the United Kingdom for 12 years.
As might be expected, the privations suffered by the whites in the sea crossing were as nothing compared to the misery of the Negroes. Here is a sample account of conditions on the slave ships:
She had taken in, on the coast of Africa, 336 males, and 226 females, making in all 562, and had been out seventeen days, during which she had thrown overboard 55. The slaves were all enclosed under grated hatchways, between decks. The space was so low, that they sat between each other’s legs, and stowed so close together, that there was no possibility of their lying down, or at all changing their position, by night or day… Over the hatchway stood a ferocious looking fellow, with a scourge of many twisted thongs in his hand, who was the slave-driver of the ship, and whenever he heard the slightest noise below, he shook it over them, and seemed eager to exercise it…
But the circumstance which struck us most forcibly was, how it was possible for such of number of human beings to exist, packed up and wedged together as tight as they could cram, in low cells, three feet high, the greater part of which, except that immediately under the grated hatchways was shut out from light or air, and this when the thermometer, exposed to the open sky, was, standing on the shade, on our deck at 89 degrees!
It was not surprising that they should have endured much sickness and loss of life in their short passage. They had sailed from the coast of Africa on the 7th of May, and had been out but seventeen days, and they had thrown overboard no less than fifty-five, who had died of dysentery and other complaints, in that space of time thought they left the coast in good health. Indeed, many of the survivors were seen lying about the decks in the last stage of emaciation, and in a state of filth and misery not to be looked at.”
What become of these swarms of people after they got there? They ended up becoming the most powerful nation on the planet!
And the saga of all those 400 years of exploitation, racism, prejudice, segregation and discrimination unleashed against Negroes’ populations, continues. The country of the Universal Declaration of Human Rights (where the African descendant is included!), closed the eyes of a people who was and continues being a considerable contributor of all created wealth, in all aspects and activities, leaving an immense legacy in the history of this nation.
Since the most modest movement of recognition as a human being which left many martyrs, from the circus of horrors where black men were hanged on tree branches like strange fruits, women and children assaulted in their sacredness, progresses this procession of black men considered and called miserable and inferior, being led by the whip of the white man. Thoreau's Civil Disobedience movement, the great march led by Martin Luther King (this brilliant humanist and disciple of Gandhi) and other black leaders, of the Civil Rights movement, some attempts by white political leaders to soften this saga and scourge that has become indelible in the history of the United States, nothing solved until today, and still continues this stain on the moral and fragmented ethics of a country called Christian.
Paradoxically, white Catholic Christianity in the United States (church which contributed much to settle this situation), has forgotten the supreme ethics of the second commandment, but continues to claim a religious feeling in its actions and reactions, but not in attitudes; in GOD WE TRUST it's the official motto of the American currency! However, they continue to relegate their black population, under the rigid social caste, to the gutters of the social order.
In 1968, Martin Luther King is murdered! Many other leaders who fought for the cause of social equality, are now on the pages of history. Daily reports of deaths and violence against the black population are published on the news. And so, continues through history a process that seems to have no end... in the land of liberty!
The so-called white supremacy will never exist! The arrogance and ignorance of vast sectors of all societies guided by the power of white man does not have the ability to comprehend that skin color, cultural habits and customs are just a geographical circumstance; the human being is one, all over the planet. Thus, not accepting the harmonious coexistence between diversities. Advocating this white supremacy is just a cynical and hypocritical metaphor for power. Humanity will never be just white, it will be black too, it will be yellow, red and all other nuances of color presented by miscegenation.