Bem-aventurados os pobres pelo espírito, porque deles é o reino dos céus;
Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados;
Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão
saciados;
Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;
Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus;
Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de
Deus;
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque
deles é o reino dos céus;
Bem-aventurados sois vós
quando vos insultarem, e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra
vós, por minha causa.
Exultai e alegrai-vos, porque é grande a vossa recompensa nos céus; porque
assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós.
A Mística das Beatitudes resume, em duas palavras, o que o Cristo
Jesus disse depois de proferir essas proclamações, que representam a plataforma
do Reino de Deus e o auto-retrato de sua própria alma:
--- “Vós sois o sal da terra“.
--- “Vós sois a luz do mundo“.
Estas duas alegorias formam basicamente o alicerce, e ao mesmo tempo, a
pedra de fecho do majestoso santuário sustentado pelas colunas das
bem-aventuranças. Essas colunas tem o seu fundamento nas alturas do céu, como a
cidade santa de Deus, que, segundo o Apocalipse, desce de cima para baixo; tem
as raízes no céu, e se ramifica, floresce e frutifica na terra.
Quando algum homem já é sal e luz, ele realiza com espontânea facilidade o
conteúdo das Beatitudes, que aos profanos e inexperientes podem parecer absurdas
ou extremamente difíceis.
O sal dá sabor a todos os alimentos – assim como a experiência espiritual é
um misterioso condimento que penetra de sabedoria todas as ignorâncias, e da
sabor Divino a qualquer insipidez da vida humana. O sal, se fosse tomado em
estado puro, não seria agradável, mas, quando usado discretamente como
condimento, dá sabor a tudo. É a espiritualidade sensata e dosada que transforma
todas as materialidades e preserva-as, ao mesmo tempo, da corrupção.
A luz, essa realidade mais sutil e invisível do Universo, dá vida, alegria
e beleza a todas as creaturas da terra. Sem ela, o Universo não seria um Cosmos,
mas um caos de morte e treva.
E é importante acrescentar às Beatitudes esse desfecho metafísico-místico,
coroa e alicerce do santuário da sabedoria cósmica de Jesus. Estas duas
alegorias, sal e luz, sabor e vida, são a quintessência da filosofia e poesia de
Jesus. Nelas se aliam a metafísica da Verdade e a mística da beleza. Bem se
poderiam aplicar a estas alegorias as palavras de Mahatma Gandhi: “A verdade é
dura como o diamante – e delicada como flor de pessegueiro”.