Sunday 13 December 2015

SÓCRATES, O HOMEM ESPIRITUAL


O homem espiritual descobriu a grande verdade de que o seu Eu não é contrário a Deus. Descobriu, com Tertuliano, que a alma humana é cristã, divina por natureza.  Descobriu com os grandes metafísicos, que o verdadeiro Eu humano, na sua mais profunda essência, é idêntico a Deus.  Descobriu, com Jesus, o Cristo, que o reino de Deus está dentro do homem.  Descobriu, com o autor do Genesis, que a alma humana é imagem e semelhança de Deus.  Descobriu com Paulo de Tarso que o homem espiritual faz parte de um grupo divino.  Descobriu com Simão Pedro que o verdadeiro Eu humano é uma participação da natureza divina.
 
O homem espiritual não tem a louca pretensão de querer divinizar-se ou deificar-se, como os ignorantes pensam; não, ele apenas faz a grande descoberta da sua identidade com Deus.  Sabe, como todos os grandes gênios metafísicos e místicos, sobretudo com o maior dele, Jesus, que existe só uma Realidade eterna, infinita, absoluta, Deus, e que todas as demais "realidades" não são novas realidades, senão apenas novas modalidades, novos modos de ser dessa única Realidade.  Sabe também que ele mesmo é uma forma individualizada de Deus, consciente e livre como Deus, embora em grau inferior de consciência e liberdade.
 
Sócrates, aos 70 anos de idade, foi condenado à morte porque o tribunal de Atenas julgava que ele era um "desprezador dos deuses e corruptor da juventude".  Na noite que precedeu a sua execução, seu grande amigo Kriton subornou os guardas e abriu as portas do cárcere, convidando o velho filósofo a fugir.
 
--- Porque? - perguntou Sócrates.
--- Porque amanhã vão te matar - respondeu Kriton.
--- Matar? a mim? - inquiriu tranquilamente o sábio.
--- Ninguém pode matar Sócrates – disse ele.
 
E, beliscando a pele da mão e batendo com os dedos nos ossos do crânio, acrescentou: - Kriton, você pensa que este corpo aqui é Sócrates?  Este corpo é apenas um invólucro ao redor de mim, mas este corpo não sou eu.  Eu não sou o meu corpo, eu sou a minha alma.  Sócrates é imortal.
 
Na manhã seguinte, conforme ordem do governo de Atenas, ele bebeu a taça de cicuta, que acabou com a vida física desse grande cristão antes do Cristo.
 
Sócrates sabia intuitivamente que o homem é um ser universal, embora se manifeste em formas individuais.
 
Todo homem espiritual sabe com absoluta certeza que o seu verdadeiro Eu é divino, eterno, imortal, e não pode jamais estar em contradição com Deus, porque a alma humana é Deus em forma individual.
 
Por isto, a santidade do homem espiritual consiste na vigorosa afirmação do seu verdadeiro Eu, e na negação de seu pseudo-Eu.  O Céu não é, como ele sabe, a extinção do Eu, mas sim, a retificação cristã do conceito da personalidade, a definitiva e vitoriosa compreensão da natureza divina de sua alma e a perfeita harmonia da sua vontade individual humana com a vontade universal de Deus.
 
Diante dessa grande verdade, a vida espiritual deixa de ser de sacrifícios, penosa, acabando por tornar-se profundamente feliz e jubilosa.
 
O homem espiritual cumpre a vontade de Deus com o mesmo júbilo com que cumpriria a sua própria vontade, porque sabe que a perfeita realização da vontade de Deus é a única realização do seu verdadeiro Eu.
 
 
Texto extraído do livro Profanos e Iniciados

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