Sunday 10 May 2015

UM HOMEM MAU QUE QUERIA SER BOM

 

 
 “Lembra-te de mim, Senhor, quando entrares no teu reino”...
 
“Em verdade te digo, ainda hoje estarás comigo no paraíso”...
 
Diálogo mais estranho nunca se travou no mundo do que este, de cruz a cruz, entre dois moribundos.
 
“Lembra-te de mim” – quem pede apenas uma gotinha de amor no meio dum inferno de dores não é homem mau.
 
O homem intimamente mau maldiz os seus sofrimentos e os autores dos mesmos.
 
O homem mesquinho pede libertação dos tormentos ou aceleração da morte.
 
O ladrão na cruz pede apenas uma lembrança, um pouco de amor...
 
Pede uma migalha daquilo cuja falta o tornara delinquente, perverso, cruel... um pouco de amor...
 
Desde pequeno, queria ele ser bom – mas os homens o fizeram mau, porque lhe negaram compreensão e amor...
 
Deu um passo em falso – e as leis desumanas dos homens o condenaram como malfeitor...
 
A companhia perversa do cárcere induziu a ser mau a quem queria ser bom...
 
E, quando terminou a sua pena, andou pelo mundo com o estigma de criminoso – e nunca mais encontrou entre os “homens honestos” quem lhe desse uma migalha de amor...
 
Arrastou-se pela existência noturna com a alma gelada de um frio polar...
 
Só na hora suprema da vida, no alto do patíbulo, encontrou, finalmente, um homem humano – seu companheiro de suplício...
 
Encontrou um homem que mais cria nas saudades de sua alma do que nas maldades de sua vida...
 
Encontrou um homem que o amava e lhe queria bem...
 
E o “bom ladrão” sentiu uma calorosa aura de benevolência a envolver-lhe a alma gelada...
 
E, por entre o degelo primaveril desse olhar de amor, pediu ao colega de tortura que dele se lembrasse, à luz do seu reino...
 
Não pediu vingança para seus inimigos, não pediu alívio na atroz agonia – pediu aquilo cuja falta fizera de sua vida um inferno: uma migalha de amor.
 
Uma lembrança apenas...
 
Um pensamento carinhoso...
 
Uma gotinha de amizade...
 
“Lembra-te de mim, quando entrares no teu reino”...
 
E conseguiu na morte, de um moribundo, o que em vida jamais conseguira dos vivos...
 
E, pelo pouco que pediu, recebeu o muito que não ousara pedir: “Ainda hoje estarás comigo no paraíso”...
 
Sobre as cabeças da multidão ululante trava-se, então, de cruz a cruz, entre dois moribundos, uma amizade sincera, sagrada, eterna...
 
Amizade entre um homem divinamente bom – e um homem mau que queria ser bom, e que se fez bom pelo amor...
 
Entre o Cristo Redentor – e um homem redimido.
 
 
Texto extraído do livro De Alma para Alma.

A BAD MAN WHO WANTED TO BE GOOD

 
 
"Remember me when you come into your kingdom"...
 
"Verily I say unto thee, today shalt be with me in paradise"...
 
Strange dialogue that never was caught before in the world, cross to cross between two moribund.
 
"Remember me" - who asks for only one drop of love in the midst of a hell of pain is not a bad man at all.
 
Man intimately evil curses his sufferings and the authors thereof.
 
The petty man seeks liberation from the torments, or acceleration of death.
 
The thief on the cross asks only for a remembrance, a little love...
 
He asked for a crumb whose lack made him a criminal, vicious, cruel... a little love...
 
Since childhood he wanted to be good - but men made him bad because was denied to him, comprehension and love...
 
He gave a false step - and the inhuman laws of men condemned him as criminal...
 
The perverse environment of the prison led to be bad who wanted to be good...
 
And when he finished his sentence, he walked the world with the stigma of a criminal - and never found among the "honest men" anyone to give him a bit of love...
 
He dragged himself to a dark existence with an icy polar soul…
 
Only in the ultimate moments of his life, hanging on the cross, he finally found someone - his partner in torture...
 
He found a man who believed in the eager of his soul, than to the wickedness of his life...
 
He found a man who loved him and wanted him well...
 
And the "good thief" felt a warm aura of goodwill to commit his cold soul…
 
And amid the spring thaw of that look of love he asked for to the fellow in torture to remember him through the light of his kingdom…
 
He did not ask for revenge to his enemies, did not request relief in excruciating agony - asked what the lack of which had made his life a hell: a bit of love.
 
Just a remembering...
 
An affectionate thought...
 
A drop of friendship...
 
"Remember me when you come into your kingdom"...
 
And succeeded in death, from a moribund, what in life he never received from the living...
 
And from the little he asked for, received much more than haven't dared to ask: "Today you will be with me in paradise"...
 
Over the heads of the howling crowd happens then, cross to cross, between two dying a sincere friendship, sacred, eternal...
 
Friendship between a man divinely good - and a bad man who wanted to be good, and love made him good...
 
Between the Christ Redeemer - and a man redeemed.

Wednesday 6 May 2015

SPIRITUALITY


 
When man “disborn” from matter and reborn in spirit, he enters the anonymous zone of mystical contemplation – then, he passes through the world like a somnambulant, alien to earthly realities...
 
"To be born, live, "disborn", reborn in spirit, is the synthesis of mankind evolution in his pilgrimage through Universe."
 
Nothing binds him to the things of the past.
 
He became a stranger in Earth - an alien in his own country...
 
His kingdom is no longer from this world, and therefore, "is not understood by anyone".
 
Life to him has no longer its natural bitterness.
 
He also suffer but does not suffer like the profane man.
 
No longer feels the fatigue of the work.
 
All runs with lightness and spontaneous naturalness.
 
His life is no longer a "walk" but a noticeable "slide”.
 
Contemplates all things with a kind of contempt, but not with this fierce and pessimistic contempt of a disillusioned from life - but with mild and benevolent contempt of a superior and free spirit, that uses benevolence towards all beings because he knows that he is intangible and invulnerable like Jesus, the Christ...
 
This man, knows no more about the sick itching of censoring the faults and weaknesses of others and no takes note of human misery, unless to relieve it.
 
In addition, in this atmosphere of spirit is natural and easy for him to speak words like these: "Father, forgive them for they not know what they do”...
 
It is also in this intimate climate, when is understandable the supreme wisdom of that immense madness crystallized in the Sermon on the Mount:
 
"Blessed are those who suffer...
Blessed are those who mourn...
Blessed are those with hunger and thirst...
Blessed are those who are in persecution...
When someone slaps you on your right cheek – turn to him the other…
When someone steals your coat - gives him the cover...
When someone forces you to go with him one mile - go to miles...
Love your enemies; do good to those who hurt you"...
 
For the non spiritual man this seems absolute madness, and for the semi-spiritual seems extraordinary heroism - but for man fully spiritual and mystical, it is clear and perfectly natural.
 
It is his mood, his daily bread, his true Christianity.
 
When man reaches this serene and undisturbed spirit of freedom, this universal psychic neutrality, this easy inner feeling, this ineffable bliss of wanting to possess anything - then he finds that his apparent emptiness is overwhelming fullness.
 
Then he understands the divine philosophy of the most spiritual human being that ever walked on Earth:
 
"It is necessary to lose – to receive...
It is necessary to be a fool - to become wise...
"It is necessary to die - to live...
"You must make of yourself a child - in order to enter the kingdom of heaven”...

Saturday 2 May 2015

JESUS FUNDOU ALGUMA IGREJA?

 
 
Sim - e não.
 
Depende do que se entende por igreja.
 
A palavra grega ekklesia, e o vocábulo latino ecclesia, ocorrem repetidas vezes no Evangelho. A tradução portuguesa é igreja.
 
Mas o que se entende por igreja nos dias de hoje, é algo totalmente diferente do sentido primitivo desta palavra. Igreja é para nós, uma organização hierárquica, com seu chefe humano e com sua constituição jurídica. Tomás de Aquino define a igreja como uma sociedade perfeita, dotada de poder executivo, legislativo e judiciário. A igreja, segundo esse conceito teológico, desenvolvido desde o quarto século, é uma organização estatal, cujo funcionamento obedece às mesmas normas de qualquer outro governo.
 
Este é o aspecto jurídico-legal da igreja visível.
 
No Evangelho, porém, a palavra igreja nada tem a ver com este conceito. Todo o Evangelho de Jesus, o Cristo, gravita em torno do conceito central do "reino de Deus", ou o "reino dos céus" - e esse reino coincide exatamente com o que o Evangelho entende por igreja, mas a igreja invisível.
 
O quinto evangelho do apóstolo Tomé, encontrado no Egito por beduínos em 1945, e traduzido em muitas línguas, trata explicitamente deste reino de Deus, no mundo e no homem, dessa igreja verdadeira, interna, real, invisível.
 
Jesus nega explicitamente que o reino de Deus possa ser descoberto pelo cumprimento e obediência de regras e dogmas; que o reino de Deus tenha uma localização geográfica e possamos indicar neste ou naquele endereço dizendo: -"Aqui está o reino dos Céus".
 
Depois, resumindo tudo, termina ele: -"O reino de Deus está dentro de vós".
 
A tradução "está entre vós", como se fosse um fenômeno apenas social, é falsa; tanto o texto grego do primeiro século como o texto latino posterior dizem "está dentro de vós", i.e., no interior da alma humana. Com isto, Jesus nega que se trate de uma organização social.
 
O reino de Deus existe potencialmente em toda a creatura humana, e o homem tem de conscientizar e desenvolver este reino.
 
A verdadeira igreja de Jesus nada tem que ver com uma organização social ou jurídico-legal.
 
Por que então foi fundada a igreja visível?
 
A igreja visível foi fundada pelos homens, pelos teólogos, e pode coexistir com a igreja invisível, assim como o corpo é o aspecto material da alma espiritual. Mas seria absurdo dizer que a alma tem cabeça, pernas, braços, etc.
 
A alma ou essência da igreja é o reino interno em cada indivíduo; o corpo ou a existência da igreja, pode ser uma sociedade visível, contanto que esta não procure ser superior àquela, mas viva em perfeita harmonia como manifestação visível da igreja invisível. Em caso de conflito entre o corpo da igreja e a alma da igreja devemos abandonar o corpo e afirmar somente alma.
 
A alma invisível do reino de Deus pode manifestar-se através de vários corpos visíveis - contanto que não haja identificação entre a alma e o corpo, entre o reino interno e a organização externa.
 
Sendo que o grosso da humanidade é espiritualmente imatura, aparece a mensagem metafísica de Jesus em forma de pedagogia infantil, como é toda a teologia. Essa interpretação pedagógica da sua mensagem cósmica é um mal necessário, porque a maior parte da humanidade não está, e nem nunca esteve em condições de compreender e assimilar o espírito do reino invisível - mas é melhor que as massas pouco evoluídas espiritualmente tenham uma disciplina pedagógica, do que ficar sem ela.
 
Já no primeiro século escrevia Paulo de Tarso aos cristãos: "Aos que, entre vós, são infantes em Cristo, dei-lhes leite para beber - mas aos que são adultos em Cristo, dei-lhes comida sólida".
 
Vinte séculos não foram suficientes para que muitas dessas crianças se tornassem adultas em espírito. A evolução vai com passos mínimos em espaços máximos.
 
Infelizmente, muitos chefes cristãos tem interesse - social, político e financeiro - em manter a cristandade no seu estágio infantil de obediência cega, porque nenhum chefe pode governar homens espiritualmente adultos. A adultez espiritual é autônoma e auto-determinante, e não obedece servilmente a ordens estabelecidas por necessidades e paixões. Se toda a cristandade estivesse espiritualmente adulta, não haveria necessidade da existência de uma igreja visível, porque a igreja é essencialmente invisível, o reino de Deus dentro do homem. Na razão direta que crescer a Cristocracia, descerá a clerocracia. E, quando a Cristocracia tiver atingido 100, a clerocracia descerá a 0.
 
Parece que João, no Apocalipse, previu essa Cristocracia triunfante, quando escrevia: "Haverá um novo céu e uma nova terra, e o reino de Deus será proclamado sobre a face da terra".
 
Os chefes espirituais podem e devem ser orientadores do povo, como setas indicadoras no meio do caminho, mas não intermediários entre o homem e Deus. Mas, para ser orientador e guia para outros, deve o homem ter realizado em si mesmo o reino de Deus. Do contrário, será um "guia cego guiando outros cegos".
 
Não basta dizer e fazer - é necessário ser, em espírito e verdade, aquilo que recomendamos aos outros.
 
 
Texto extraído do livro Que vos Parece do Cristo?

DID JESUS ESTABLISHED ANY CHURCH?


 
Yes - and no.
 
It depends what you mean by church.
 
The Greek word ekklesia, and the Latin word ecclesia, repeatedly occurs in the Gospel. The English translation is church.
 
But what is mean by church today is something totally different from the original meaning of this word. Church is for us a hierarchical organization with its human head and legal constitution. Thomas Aquinas defines the church as a perfect society, endowed with executive, legislative and judicial power. The church, according to this theological concept, developed since the fourth century, is a state organization whose management obeys the same rules of any other government institution.
 
This is the juridical aspect of the visible (material) church.
 
In the Gospel, however, the word church has nothing to do with this concept. The whole Gospel of Jesus, the Christ, gravitates around the core concept of the "kingdom of God" or "kingdom of heaven" - and this kingdom coincides exactly with what the Gospel mean by church, but the invisible church (within man).
 
The Fifth Gospel of the Apostle Thomas, discovered by Bedouins in Egypt (1945) and translated into many languages, explicitly addresses this kingdom of God, in the world and man, this true church, real, internal, invisible.
 
Jesus explicitly denies that the kingdom of God can be discovered by compliance and obedience of rules and dogmas; that the kingdom of God has a geographic location and we can direct to this or that address saying: "Here is the kingdom of Heaven".
 
After summarizing everything, he ends: "The kingdom of God is within you".
 
The translation "among you", like it was just a social phenomenon, is false; either the Greek text of the first century, as the later Latin text says "is within you", i.e., within the human soul. With this Jesus denies that it is a social organization.
 
The Kingdom of God lies potentially within every human creature, and man must be aware and develop this kingdom.
 
The true church of Jesus has nothing to do with a social or juridical organization.
 
Why then the visible church was established?
 
The visible church was established by men, by theologians, and can coexist with the invisible church, thus as the body is the material aspect of the spiritual soul. But it would be an absurd to say that the soul has head, legs, arms, etc.
 
The soul or the essence of the church is the internal kingdom in each individual; the body or the existence of the church, can be a visible society, as long as this does not look for to be superior than that, but living in perfect harmony as a visible manifestation of the invisible church. In case of conflict between the church body and the soul of the church, we must abandon the body, asserting only the soul.
 
The invisible soul of the kingdom of God can manifest through various visible bodies - provided that there is no identification between the soul and the body, between the internal kingdom and the external organization.
 
Since the majority of humanity is spiritually immature, the metaphysical message of Jesus appears in the form of child pedagogy, as it is the whole theology. This pedagogical interpretation of His cosmic message is a necessary social malady, because the majority of humanity is not and never has been able to understand and assimilate the spirit of the invisible kingdom - but it is better for the poorly evolved spiritually masses to have a pedagogical discipline, than be without it.
 
Already in the first century, Paul of Tarsus wrote to the Christians: "To those among you who are infants in Christ, gave them milk to drink - but to adults who are in Christ, gave them solid food".
 
Twenty centuries were not enough for many of these children to become adults in spirit. The evolution goes with minimum steps in maximum spaces!
 
Unfortunately, many Christian leaders have social, political and financial interests in order to keep Christianity in its infantile stage of blind obedience, because no leader can govern spiritually adult men. The spiritual adulthood is autonomous and self-determining, and does not slavishly obey orders established by needs and passions. If all Christendom was spiritually mature there would be no need for the existence of a visible church, because the church is essentially invisible, the kingdom of God within man. In the direct proportion which grows the “Christocracy”, descends the “clergicracy”. And when the Christocracy has reached 100, the clergicracy will descend to 0.
 
It seems that John, in Revelation, predicted this triumphant Christocracy when he wrote: "There will be a new heaven and a new earth, and God's kingdom will be proclaimed upon the face of the earth".
 
Spiritual leaders can and should be guiders of people, like indicator arrows along the way, but not intermediaries between man and God. But to act as counsellors and guides for others, man must realized within the kingdom of God. Otherwise, he is another "blind guide leading the blinds".
 
Do not simply say and do - it is necessary to be, in spirit and truth, what we recommend to others.