“Quem uma vez saboreou uma gota de
Deus, não encontra descanso enquanto não se abisme no oceano dessa grande e
eterna realidade.”
Toda religião, por mais pura, espiritual e
divina, uma vez lançada ao meio dos homens e confiada às mãos profanas, corre o
perigo de ser asfixiada sob o excesso de elementos humanos que, no decorrer dos
séculos, se acumulam fatalmente em torno de seu núcleo divino. Assim, a religião
pode cair vitima de hipertrofia material e atrofia espiritual, portanto, triste
é a sorte das centelhas divinas quando do céu, caem sobre o planeta Terra.
Preservar a árvore da revelação divina dos
parasitas do formalismo humano, é a brilhante tarefa dos grandes gênios
religiosos que se sentem chamados a cumprir uma missão espiritual sobre a Terra.
A valente tentativa dos verdadeiros
reformadores espirituais do mundo é a de libertar a religião contaminada por
esses parasitas.
Jesus, o Cristo, foi o maior restaurador
religioso da humanidade, o mais arrojado revolucionário espiritual. Enfrentou
sem medo os poderosos pontífices da religião oficial e clássica da época e os
desmascarou diante do povo iludido como "sepulcros caiados". Arrancou, sem
piedade as raízes podres com que quarenta séculos de ritualismo judaico havia
contaminado a árvore da revelação que Deus plantara aos pés do berço da
humanidade. Por esse "crime" foi declarado "o que insulta a lei" pelo supremo
chefe da religião e teve de subir ao Calvário, onde expirou entre dois
perversos, como sendo o maior deles. E, de fato, aos olhos dos defensores do
formalismo religioso da época, proclamada como única religião divinamente
revelada, infalível e salvadora, não podia o Nazareno deixar de ser o maior
incrédulo e ateu - ao passo que, perante Deus e os verdadeiros espiritualistas,
ele era e é o homem mais religioso do mundo, o maior santo, o Filho de Deus
vivo.
É que muitas vezes, os grandes defensores da
pureza da revelação divina são incompreendidos pelos seus contemporâneos, que
tentam renovar essa incredulidade com a demolição dos seus ídolos e o retorno à
primitiva simplicidade da religião.
É que nem todos os homens religiosos atingem a
alma da religião, e os amigos das fórmulas feitas dificilmente compreenderão o
que seja "adorar a Deus em espírito e verdade", pois passar da periferia ao
centro não é tarefa indicada a todos.
Texto extraído do livro Paulo de Tarso
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