Nós vivemos na ilusão de que sejamos responsáveis
pela ordem do Universo - como se o cosmos pudesse acabar em caos, se nós não o
salvarmos!...
Achamos que devemos resistir aos malignos, para
que os benévolos não sejam exterminados pelos malévolos...
Quanta insensatez! Quanta miopia!
Assim diz o insensato na sua erudita ignorância:-
"Se eu não resistir ao injusto, amanhã a injustiça eclipsará a justiça;
portanto é meu dever resistir ao injusto"...
"Mete a tua espada na bainha!"...
"Não resista ao malévolo!"...
Esta foi a linguagem irracional do maior Mestre
que a humanidade conhece - mas os seus discípulos humanos julgam dever serem
mais racionais, corrigem o Mestre e se julgam Super Mestres. Só de vez em quando
aparece um "mahatma", uma grande alma, e resolve ser tão irracional
como o Mestre e proclamar a não violência, e crer incondicionalmente no poder da
verdade... Mas as pequenas almas humanas que creem nas armas, não creem nessa
grande alma que detesta as armas...
Se por exemplo, hoje existirem no planeta Terra,
50% de maus contra 50% de bons, e se estes não resistirem à aqueles, amanhã
haverá 100% de maus contra 0% de bons - e que é nosso dever evitar esse
descalabro. E, por isso concluímos, nós os bons, nos tornarmos maus, resistindo
aos maus, para que os maus não tomem conta do mundo e destruam a Terra.
Que lógica é essa... que matemática é essa? Como
poderíamos salvar do extermínio os bons, se nós mesmos nos tornarmos maus?
O primeiro passo para garantirmos a vitória dos
bons é em sermos bons nós mesmos, e não nos nivelarmos com os maus!
Toda essa confusão vem da nossa miopia, de
identificarmos a existência do gênero humano com a sua efêmera vivência neste
planeta Terra. Pois a vitória do bem sobre o mal nada tem que ver com esse
cenário telúrico - essa vitória é essencialmente um processo
cósmico. Ainda que todos os bons fossem exterminados pelos maus,
nenhuma derrota teria sofrido a causa do bem! Mas se os bons resolverem
tornar-se maus, afim de salvar a causa do bem, então a causa do bem sofreu
grande derrota - as potências do inferno prevaleceram sobre as potências do céu.
A nossa tarefa não consiste em salvarmos a causa
do bem, mas simplesmente em sermos bons nós mesmos, incondicionalmente
bons. Nós não temos que salvar o Universo - temos que salvar somente a nós
mesmos. O resto não é da nossa conta... pois se eu me salvar e todos os demais
se salvarem, o Universo está salvo!
É tão fácil envolver numa aura de amor abstrato a
humanidade toda - mas é tão difícil amar concretamente o ser humano ao nosso
lado, esse ser individual, A, B, ou C!...
As nossas teorias abstratas produzem em nós uma
embriaguez de gloriosidade pois nos levam a altas conquistas, nem sempre
significativas – a prática concreta de uma diminuta parcela dessas teorias nos
mantém num nível de silenciosa humildade...
A única ordem e harmonia ao nosso
alcance é a ordem e harmonia dentro de nós mesmos...
Texto extraído do livro Roteiro Cósmico.
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