Friday 27 November 2015

TOLERÂNCIA – OU COMPREENSÃO?

 
“A mais sábia atitude diante das diferenças entre os seres humanos é a da aceitação, aceitando as pessoas como elas são, pois aceitando, vivemos o céu; rejeitando, o inferno”.
 
 
Dizer que alguém é tolerante diante de outras religiões ou filosofias, não é louvor, é censura.
 
O homem pode ser tolerante:
 
1) ou por ser de absoluta indiferença diante da existência de um mundo superior;
2) ou por desdenhar de maneira arrogante as idéias dos outros.
 
Mas, quando o homem compreende a Verdade Universal, ele deixa de ser simplesmente tolerante; sabe que a Verdade é uma só, mas que muitos são os caminhos que conduzem a essa meta final – assim como muitos são os afluentes, de águas límpidas ou turvas, que se lançam ao Amazonas, a qual se afunda na imensidade do oceano; compreende que cada homem tem que seguir o caminho adaptado à sua personalidade e caráter peculiar.  Sabe que alguns dos seus companheiros de jornada estão no marco 10, outros no 20, outros no 50 da estrada – mas que importa?
 
E eu mesmo, em que ponto estou?  No marco 20, 70, 90?  Esteja eu onde estiver, o certo é que há muitos viajores abaixo e muitos acima de mim.  Por isto, eu não apenas “tolero” os meus companheiros rumo ao Infinito, eu os compreendo e aprovo; sei que estão comigo na mesma direção.  Mesmo que alguns deles estejam ainda ziguezagueando, incertos, para a direita e para a esquerda, que importa?  O erro também é aliado da verdade; um dia, também eles entrarão na linha reta e iniciarão a sua ascensão.  O que eu posso fazer por eles é prosseguir em linha reta e ser tão bom e feliz de maneira que eles também tenham o desejo de seguir o mesmo caminho.
 
 
Texto extraído do livro Ídolos ou Ideal?
 

Sunday 22 November 2015

ORAÇÃO - ESSÊNCIA DE TODAS AS RELIGIÕES

 
Não há hereges em matéria de oração. Todos os homens espirituais de todas as religiões concordam que a oração é a quintessência nas relações do homem com Deus.
Duas premissas na vida do ser humano são absolutamente certas:
 
1)- Que a oração, quando genuína, é sempre um elemento positivo e benéfico na vida do homem;
2)- Que ignoramos totalmente como a oração atua sobre a vida humana; a sua técnica peculiar é para nós ainda desconhecida. Sabemos apenas o porque da oração – ignoramos como a oração age.
 
Ninguém sabe se a nossa oração vai ser eficiente na direção em que a desejamos ou esperamos; ignoramos se o que se tem em mente vai acontecer ou não. A oração parece algo como um jogo de azar, totalmente arbitrária. Na realidade, o que é certo é que a oração obedece a leis invariáveis - mas o homem não conhece essas leis.
 
 
Texto extraído do livro Ídolos ou Ideal? 
 

PRAYER - ESSENCE OF ALL RELIGIONS

 

There are no heretics in the field of prayer. All spiritual men of all religions agree that prayer is the quintessence of the relationship between man and God.
 
Two premises in human life are absolutely certain:
 
1) - That prayer when genuine is always a positive and beneficial element in man's life;
2) - That we totally ignore how prayer works on human life; its peculiar technique is for us still unknown. We know only its purpose - but we ignore how prayer may work.
 
Nobody knows whether our prayer will be effective in the direction we desire or expect; we ignore if what we have in mind is going to happen or not. Prayer looks something like a gamble, totally arbitrary. In reality, what it is certain is that prayer obeys invariable laws - but man does not know these laws.

Thursday 19 November 2015

A ABELHINHA ISIS

 
Dentre os quase 100 livros escritos por Rohden, consta uma coleção de Mistérios da Natureza.  Quatro livros que, de forma ficcional, porém místico, utópico, realista... expõe os mistérios da Natureza, em diálogos que Rohden travava com alguns seres não humanos.
 
 
Dentre eles, uma conversa hipotética com Isis, uma abelhinha com o qual, em quase 150 páginas, ele explora a vida e a sociedade das abelhas, descobrindo nelas, a sabedoria da inteligência instintiva, que nos animais, é o reflexo da grandeza da Inteligência Cósmica, fazendo com essas alegorias, uma analogia ao homem sábio que, em ultrapassando seu nível de inteligência, se guia também pela intuição, governando-se a si mesmo.
 
 
Utopia?  Não... Se isso é possível na Natureza - porque não pode ser possível entre os seres humanos – a assim chamada coroa da creação?
 
 
Mas por que abelhas, o leitor perguntaria?  Porque estes himenópteros fizeram parte ativa da  vida de Rohden, enquanto carpinteiro e principalmente apicultor nas suas horas de lazer.  Profundo conhecedor dessa fascinante sociedade e de estudioso que foi de apiologia, participando inclusive de congressos internacionais sobre o assunto.
 
 
De fato, a inspiração de Rohden nasceu a partir da obra de Waldemar Bonsels (1880 - 1952) escritor alemão responsável pelo livro (Die Biene Maja) A Abelha Maya, publicado em 1912, que antes de ser uma publicação infantil, como o livro sugere, tem uma conotação, além de social e política, profundamente mística, mostrando a unidade de toda a creação, e sua relação com o Deus creador.
 
 
A partir do livro original, a obra de Bonsels recebeu diversas adaptações no mundo inteiro e em diversas línguas... filmes, documentários, revistas infantis, jogos de vídeo, cinema e na TV, em um seriado animado de produção japonesa para o público infantil (e adulto), e até uma ópera, sendo ainda em nossos dias, transmitidos!
 
 
 
O DIÁLOGO...
 
 
 
HR-  Isis, por favor, explica para mim: Quanto mais perfeito é um governo, mais cósmico ele é?
 
 
I-  É como você diz. Tudo que é belo e grande tem caráter cósmico.  Também o indivíduo é tanto mais perfeito quanto mais cósmico, servidor do Todo, panorâmico, universal, amigo de seus semelhantes, uma nota pura sintonizada pela grande Sinfonia da Inteligência Universal…
 
 
HR-  Uma sociedade orientada por um fator cósmico seria então uma Cosmocracia...
 
 
I-  Exatamente, muitos indivíduos, governados, não por outro indivíduo, mas pela grande Alma do Universo, refletida na consciência de cada um. Seria o ideal.
 
 
HR-  Entre nós, seres humanos, há indivíduos que se julgam chefes e soberanos por conta própria, sem consultar a Alma do Cosmos!
 
 
I-  Que aberração! Nunca pensei que entre seres racionais fosse possível tamanha irracionalidade. É um crime contra a Grande Inteligência...
 
 
HR-  Mas a parte mais sadia entre os humanos pensa e age de outro modo: os próprios indivíduos designam aquele por quem querem ser governados.
 
 
I-  Já é meio caminho andado, rumo à Cosmocracia; mas ainda está longe do termo da jornada.  Nós não escolhemos soberano algum.  Não há intermediário entre nós e a Alma do Universo. É esta própria Alma, a Grande Inteligência, a Infinita Realidade, a Suprema Divindade, que nos rege e governa.  Quando os homens chegarem à perfeição, saberão governarem-se a si mesmos, sem chefe nem intermediário algum.  Não haverá ordens vindas de fora, só haverá uma ordem vinda de dentro, eco daquele grande Imperativo do Universo que tudo dirige com força e suavidade, de um a outro extremo do Cosmos.  Quando o vosso dever se transformar em querer, e esse delicioso querer se identificar plenamente com o onipotente dever, então será perfeita a vossa harmonia social, e perfeita será também a vossa felicidade individual.  E a vossa harmonia e felicidade serão infinitamente maiores do que as do povo das abelhas…
 
 
HR-  Pelo que vejo Isis, vós, o povo das abelhas, sois muito mais avançados no caminho da evolução do que nós, os seres humanos.
 
 
I-  É engano, grande engano, amigo homem! A nossa Cosmocracia é muito imperfeita.
 
 
HR-  Como assim, amiga Isis?
 
 
I-  Porque ainda nem atingiu o nível da inteligência individual, que é a atmosfera entre os humanos.  Essa inteligência individual é o vosso maior privilégio — e também o vosso maior perigo.  Ai de quem parar nesse nível e se negar a ultrapassar esse estágio evolutivo!…   Dia virá, porém, após muitos milhares de primaveras, dia virá em que o homem inteligente de hoje, atingirá as luminosas alturas da racionalidade, ou, como dizem os vossos livros, da espiritualidade.  Terminará então a luta de indivíduo contra indivíduo, de grupo contra grupo.  Será proclamada a grande Lei Cósmica, do amor espontâneo e universal — a perfeita e definitiva Cosmocracia…
 
 
Texto extraído do livro ISIS

Monday 16 November 2015

O SERMÃO DA MONTANHA E A MÍSTICA DAS BEATITUDES

 
Bem-aventurados os pobres pelo espírito, porque deles é o reino dos céus;
 
Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados;
 
Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;
 
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;
 
Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;
 
Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus;
 
Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus;
 
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus;
 
Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.
 
Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós.
 
A Mística das Beatitudes resume, em duas palavras, o que Jesus, o Cristo, disse depois de proferir essas proclamações, que representam a plataforma do Reino de Deus e o auto-retrato de sua própria alma:
 
---   “Vós sois o sal da terra“.
---   “Vós sois a luz do mundo“.
 
Estas duas alegorias formam basicamente o alicerce, e ao mesmo tempo a pedra de fecho do majestoso santuário sustentado pelas colunas das bem-aventuranças.  Essas colunas tem o seu fundamento nas alturas do céu, como a cidade santa de Deus, que, segundo o Apocalipse, desce de cima para baixo; tem as raízes no céu, e se ramifica, floresce e frutifica na terra.
 
Quando algum homem já é sal e luz, ele realiza com espontânea facilidade o conteúdo das Beatitudes, que aos profanos e inexperientes podem parecer absurdas ou extremamente difíceis.
 
O sal dá sabor a todos os alimentos – assim como a experiência espiritual é um misterioso condimento que penetra de sabedoria todas as ignorâncias, e da sabor Divino a qualquer insipidez da vida humana.  O sal, se fosse tomado em estado puro, não seria agradável, mas, quando usado discretamente como condimento, dá sabor a tudo.  É a espiritualidade sensata e dosada que transforma todas as materialidades e preserva-as, ao mesmo tempo, da corrupção.
 
A luz, essa realidade mais sutil e invisível do Universo, dá vida, alegria e beleza a todas as creaturas da terra.  Sem ela, o Universo não seria um Cosmos, mas um caos de morte e treva.
 
E é importante acrescentar às Beatitudes esse desfecho metafísico-místico, coroa e alicerce do santuário da sabedoria cósmica de Jesus.  Estas duas alegorias, sal e luz, sabor e vida, são a quintessência da filosofia e poesia de Jesus. Nelas se aliam a metafísica da Verdade e a mística da beleza.  Bem se poderiam aplicar a estas alegorias as palavras de Mahatma Gandhi*: “A verdade é dura como o diamante – e delicada como flor de pessegueiro”.
 
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Nota:
 
* Mahatma Gandhi foi por diversas vezes abordado por alguns de seus seguidores cristãos, a se juntar ao cristianismo, no entanto, recusava essa oferta, afirmando que aceitava Jesus mas não aceitava a forma com que o clero conduzia o cristianismo, numa flagrante crítica de que o clero está distante do Evangelho de Jesus.
Ainda em referência a Gandhi, é célebre sua afirmação de que: "Se se perdessem todos os livros sacros da humanidade, e só se salvasse O Sermão da Montanha, nada estaria perdido".

Thursday 5 November 2015

UM COQUEIRO E SUA SEMENTINHA

 
 Era uma vez um grande coqueiro de 10 metros de altura. E ao pé dele uma semente de aproximadamente uns 2 cm de diâmetro.
 
E o coqueiro disse para a semente: -- "tu és o que eu sou."
 
E a semente respondeu: -- "Não, eu não sou o que tu és... tu és uma árvore de 10 m de altura e eu sou uma semente pequenina."
 
-- "Não", disse o coqueiro, -- "eu não estou me referindo à tua casca. Estou me referindo ao teu germe vivo, a tua casca não é viva. Tu és no teu germe o que eu sou na minha vida. Porque a vida do teu germe é a mesma vida que está em mim."
 
-- "Como isso pode ser possível", disse a semente. "Eu serei algum dia como tu és agora?"
 
-- "Tu serás também externamente o que já és internamente o que eu sou. Porque a nossa essência é a mesma, somente a nossa existência por ora, é que é diferente. A qualidade é a mesma, apenas a quantidade é diferente."
 
-- "E o que tenho que fazer", perguntou a semente, "para ser o que tu és?"
 
-- "Bem", disse o coqueiro, "o teu invólucro, que é a tua casca, tem que um dia se desintegrar. Então tu serás também o que eu sou."
 
-- "O que é isso, desintegrar? Quer dizer que eu vou morrer?"
 
-- "Não, tu não vais morrer, porque se morresse nunca te tornarias coqueiro. Tu não vais morrer. O teu invólucro, algo ao redor de ti que agora te protege, vai desintegrar-se. Isto agora é um auxílio para ti, que é a sua casca. Mas daqui a pouco será um empecilho e este empecilho tem que ser destruído para que o teu conteúdo possa expandir-se."
 
E a semente, a princípio, não quis crer que ela fosse morrer; porque ela estava olhando sempre para a sua casquinha morta, que não era viva… uma casca dura, inerte. Mas ela nunca tinha fixado os olhos no seu germe vivo porque a vida não é coisa visível, só a casca é visível. Estava limitada em sua casca e tinha pavor de sua chamada desintegração. Pensava que ela ia morrer e não alguma coisa que ela tinha ao redor de si. Não tinha autoconhecimento, como nós diríamos em linguagem popular. Ela se confundia com o que ela parecia e não se identificava com o que ela era de fato.
 
E esse é o mal de todos nós. Não sabemos o que somos…
 
 
Texto extraído de uma palestra de Rohden