O grande mal que assola a humanidade está na falência das
consciências de cada ser humano. A desenfreada adoração do “deus-dinheiro”
derrotou todas as considerações de ordem moral. Bom é aquilo que dá dinheiro;
ótimo é aquilo que dá milhões – é esta infeliz mentalidade que vigora em nossos
dias.
Enquanto o homem não passar por uma profunda reforma interior, as reformas
externas impostas como lei pelos governos, são precárias e ineficientes.
A reforma interior, porém, supõe algo que não está em nossos códigos de
leis nem se leciona em nenhuma escola. Supõe um conhecimento de si mesmo e uma
inexorável fidelidade a esse Eu superior e divino do homem, porque esse
Eu divino no homem exige imperiosamente equivalência entre o que se recebe e o
serviço prestado aos outros. Quem recebe um salário e não presta o serviço
correspondente ao quanto recebeu, é ladrão, é explorador, é réu de uma
injustiça, seja qual for o seu cargo em qualquer instituição. Mesmo no caso em
que as leis humanas absolvam esse réu, perante a justiça do Universo ele é
culpado.
Cada injustiça que um ser humano comete é uma degradação do indivíduo, quer
a lei humana a aprove, quer desaprove. O indivíduo que comete injustiça vai
perdendo parcela do seu valor, acabando, dentro de algum tempo, em completa
falência moral, embora tenha talvez se enriquecido materialmente com o produto
dos seus roubos. Se esse ladrão é analfabeto em matéria de conhecimento próprio
e auto-realização, será quase impossível fazer-lhe compreender o seu triste
estado; se tornou milionário à custa do suor dos outros, mas quem será capaz de
provar que é um desgraçado?
Entretanto, essa impossibilidade de provar-lhe esse fato e colocar-lhe
diante dos olhos o autêntico retrato do mal que produziu não invalida o fato
desse mal, pois a ignorância não isenta ninguém da culpa.
Esse homem vai acumulando dentro de si mesmo, débitos cada vez maiores, um
débito moral que tem de ser neutralizado, de acordo com a inexorável justiça da
Constituição Cósmica. Mas a neutralização desse débito acumulado em anos de
abusos contra outras pessoas e instituições, acarretará sofrimentos inevitáveis,
seja no mundo presente, seja em existências futuras. Ninguém sairá impune de
sofrimentos enquanto não houver pago todos seu débitos. A Constituição Cósmica é
um fato, e não uma fantasia. Ninguém pode derrubar o Himalaia batendo a cabeça
contra seus maciços de pedra! Ninguém pode transgredir impunemente contra as
leis eternas da Verdade e da Justiça!
O ser humano parasita e explorador só tem um caminho para se redimir: ser
consciencioso e prestar aos seus semelhantes a parcela pela qual tem obrigação
perante as Leis Cósmicas, e restituir-lhe o produto dos roubos anteriores,
conforme o exemplo de um grande explorador de que nos fala a história, Zaqueu de
Jericó, que, reconhecendo o seu triste estado, declarou:- “Se defraudei alguém,
restituo quatro vezes mais, e, ainda por cima, dou aos pobres metade da minha
fortuna.”
Os livros sacros de todos os povos chamam de “insensato” ou “tolo” o homem
injusto e pecador – e esses livros tem plena razão! Pois é tolice e insensatez
entrar em conflito com as leis eternas e ter que pagar enormes débitos por causa
de umas pequenas vantagens imediatas! A mentira, a fraude, a injustiça, qualquer
pecado ou crime, proporcionam, quase sempre, determinada vantagem imediata, e é
precisamente por causa dessa vantagem que o delinquente pratica o mal. Se o
pecador, burlando a lei eterna e lucrando certa vantagem imediata, pudesse
passar impune para sempre, definitivamente; se, depois de embolsar o resultado
do seu roubo, nenhum mal lhe acontecesse, nenhum sofrimento o aguardasse, por
parte de um Supremo Tribunal extra-humano – então – seria ótimo negócio ser mau,
injusto, desonesto, explorador, ganhar muito explorando os outros.
Mas, o Universo é um “Cosmos”, um sistema de ordem e harmonia, e não um
“caos” de desordem e confusão. A Constituição Cósmica do Universo exige
imperiosamente a prática da Verdade, da Justiça, do Amor, da Solidariedade, da
Honestidade. Pode, certamente, a criatura livre burlar essa lei, mas as
consequências dessa infração se voltam infalivelmente contra o infrator, em
forma de sofrimento de qualquer espécie. O sofrimento é o eco automático a
qualquer violação da Lei Cósmica. E ninguém sabe quantos anos, decênios ou
séculos correspondem a cada violação. O certo é que esse doloroso castigo existe
– tão certo como é certo que o Universo é um Cosmos.
Portanto, é evidente estupidez provocar enormes sofrimentos, embora talvez
remotos, para gozar de uma pequena vantagem imediata. E, por outro lado, é real
sabedoria renunciar a uma vantagem de momento e, assim, não provocar sofrimento
futuros.
Ninguém pode fugir à lei inexorável de Causa e Efeito; uma vez posta a
causa, segue-se o efeito com inevitável necessidade e perfeição. O Universo se
reequilibra automaticamente – mas esse reequilíbrio é doloroso para o
delinquente.
Ser bom, justo, honesto, verdadeiro, é doloroso por causa do falso ambiente
da vida humana, criado por nossa pseudo-civilização em séculos de carma
coletivo. Mas, em qualquer hipótese, ser bom, justo, honesto, verdadeiro, é, em
última análise, ser feliz, embora essa felicidade íntima seja momentaneamente
circundada de sofrimentos. Fundamentalmente, ser bom é ser feliz, e ser mau é
ser infeliz. Podemos enganar os homens – mas ninguém pode enganar a lei eterna e
sua própria consciência.
Texto extraído em parte, do livro Novos Rumos para a Educação