Saturday 12 March 2022

EINSTEIN E O PRECONCEITO RACIAL

Albert Einstein afirmou que: “O descobrimento das leis da natureza pela ciência, pode tornar o homem erudito, mas não torna o homem bom. O homem bom é aquele que realiza os valores que estão dentro de sua consciência, pois do mundo dos fatos, que é a ciência, não conduz nenhum caminho para o mundo dos valores, que é a consciência. Fatos não produzem valores, porque os valores vêm de outra região.”

E que região é essa a que Einstein se refere? Uma região geográfica no planeta, ou no Cosmos, ou ainda um sinal enigmático situado nos seus complexos cálculos matemáticos? 

Não! Essa região é a consciência crística intrínseca na alma humana, que cria valores e que conduz o homem ao seu avanço espiritual. Mas o homem tem que se permitir a esse avanço ou corre o risco de ficar estagnado em sua evolução e até mesmo sua desintegração. No entanto, essa consciência é dormente na vasta maioria dos indivíduos que ainda necessitam do uso de artifícios ardilosos nas suas ações e reações, que são os reflexos primários de seus instintos ou da mente intelectualizada, que nem sempre acrescenta, ou até mesmo retarda esse avanço, pois os elementos formadores da personalidade e do caráter humano estão sedimentados em sua história de vida e que vem desde os primórdios dos tempos de sua existência, onde a ele foi dado o livre arbítrio que o conduz para o seu destino. 

Num dos momentos mais efervescentes da história dos Estados Unidos, quando o racismo fazia inúmeras vítimas na brutalidade do homem branco contra as minorias étnicas e principalmente negras, Einstein, em 1946, fez um eloquente pronunciamento sobre o preconceito racial, mostrando que a sua mente racional científica, viveu também a mística da Realidade e da verdadeira consciência humana. Foi uma atitude corajosa, um alerta para uma situação que se arrasta há mais de 400 anos, quando o primeiro navio negreiro chegou aos Estados Unidos, em um país que aproveitou imensamente essa mão de obra e se tornou o país mais rico, mas ainda algemada em suas memórias, e da qual se recusa a se libertar, como evidenciam os recentes episódios sangrentos contra sua população de origem africana, ainda no início do século XXI. 

Nos anos após a Segunda Guerra Mundial, Einstein se posicionou no enfrentamento contra o racismo na América. Como músico e grande amante da música clássica, tornou-se amigo íntimo do notável cantor de ópera Paul Robeson e Marian Anderson, uma das mais célebres cantoras líricas americanas do século XX. 1

Einstein foi co-presidente de uma campanha contra o linchamento, além de defensor das ideias de William Edward Burghardt Du Bois, que foi um sociólogo, socialista, historiador, ativista dos direitos civis, pan-africanista, escritor e editor americano e o primeiro afrodescendente a receber o título de PhD da Universidade de Harvard. Mas foi em janeiro de 1946 que escreveu um de seus ensaios mais articulados e eloquentes em defesa dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. E, como descrito em Einstein sobre Raça e Racismo, o famoso físico equivaleu a segregação na América, com à idêntica sofrida pelos judeus na Alemanha, chamando o racismo, de “pior doença” americana.

Originalmente publicado na edição de janeiro de 1946 da revista Pageant, o ensaio de Albert Einstein teve como objetivo abordar o público predominantemente branco da audiência: “Escrevo como uma forma de séria advertência e como alguém que está vivendo entre vocês na América há pouco mais de dez anos. Muitos leitores podem perguntar: “Que direito ele tem de falar sobre coisas que nos dizem respeito e que nenhum recém-chegado deve abordar?”

O que um devotado recém-chegado faz é o de notar o traço democrático entre o povo. Não estou pensando aqui tanto na constituição política democrática deste país, por mais louvável que seja, e sim, na relação entre as pessoas e na reação que mantém entre elas.

Nos Estados Unidos, todos se sentem seguros de seu valor como indivíduo. Ninguém se humilha diante de outra pessoa ou classe. Mesmo a grande diferença de riqueza, o poder superior de poucos, não pode minar essa autoconfiança saudável e o respeito natural pela dignidade do próximo.

Há, no entanto, um aspecto sombrio na perspectiva social dos americanos. Seu senso de igualdade e dignidade humana é limitado a homens de pele branca. Mesmo entre estes há preconceitos dos quais eu, como judeu, sou claramente consciente; mas não são tão relevantes se comparados com a reação dos “brancos” em relação aos seus concidadãos de pele mais escura, particularmente os negros. Quanto mais americano me sinto, mais me magoa essa situação e tanto mais eu consigo escapar dessa sensação de cumplicidade, dando meu brado de alerta.

Muitas pessoas sinceras dirão: “Nossas reações para com os negros são o resultado de experiências desfavoráveis na vivência com eles. Eles não são nossos iguais em inteligência, senso de responsabilidade, confiabilidade.”

Mas eu estou firmemente convencido de que quem acredita nisso sofre de um equívoco histórico fatal. Seus ancestrais arrastaram esses negros de sua pátria africana pela força; e o homem branco, na busca da riqueza e vida fácil, os explorou impiedosamente, degradando-os à escravidão. E o preconceito moderno contra os negros é o resultado do desejo de manter essa condição indigna.

Os antigos gregos também tinham escravos. Eles não eram negros, mas homens brancos que haviam sido capturados na guerra. Assim, não se pode falar em diferenças raciais. E, no entanto, Aristóteles, declarou serem os escravos, seres inferiores e que foram justamente subjugados e privados de sua liberdade. É que ele estava sendo influenciado por um preconceito tradicional do qual, apesar de seu extraordinário intelecto, não se libertava.

Grande parte de nossas reações em relação às coisas é condicionada por opiniões e emoções que inconscientemente absorvemos como crianças, de nosso ambiente e convívio. Em outras palavras, é tradição - além de aptidões e qualidades herdadas - que nos torna o que somos. Nós raramente refletimos quão relativamente diminuto em comparação com a poderosa influência da tradição, é a influência de nosso pensamento consciente sobre nossa conduta e convicções.

No entanto, seria insensato desprezar a tradição. Mas, com nossa crescente autoconsciência e crescente inteligência, precisamos começar a controlar a tradição e assumir uma postura crítica em relação a ela, fazendo com que as relações humanas mudem para melhor. Devemos procurar reconhecer se a nossa tradição aceita, é ou não prejudicial para nosso destino e dignidade - e moldar nossas vidas de acordo.

Acredito que quem tentar pensar com honestidade logo reconhecerá quão indigno e até fatal é o tradicional preconceito contra os negros.

O que o homem de boa vontade deve fazer para combater esse preconceito profundamente arraigado? Deve ter a coragem de dar o exemplo por palavras e atitudes e ter cuidado para que seus filhos não sejam influenciados por esse preconceito racial.

Eu não acredito que haja uma maneira desse mal profundamente arraigado na sociedade branca, ser rapidamente curado. Mas até que esse objetivo seja alcançado, não há maior satisfação para uma pessoa justa e bem-intencionada, do que o conhecimento de que ele devotou suas melhores energias ao serviço de uma boa causa.”

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1)- Tanto Paul Robeson quanto Marian Anderson ficaram famosos pelos seus feitos artísticos, mas também pelo ativismo político na causa do Movimento de Direitos Civis; por serem ambos negros, sofreram muito com o preconceito racial.

Paul Robeson foi um cantor baixo-barítono americano, ator de teatro e cinema que se tornou famoso tanto por suas realizações culturais quanto por seu ativismo político. Ele foi acusado por ter sido membro do Partido Comunista, mas não existem evidências claras sobre isso. De acordo com registros divulgados sob a Lei de Liberdade de Informação, o FBI acreditava que Robeson poderia ter ingressado no Partido sob o nome de “John Thomas”, mas o número do livro de membro do Partido Comunista não é conhecido.

Quando Marian Anderson foi convidada para apresentar um recital em Princeton, onde Einstein era o catedrático e fundador do Instituto de Estudos Avançados, o hotel em que ela iria se hospedar, proibiu sua presença. Assim que Einstein soube do incidente, de pronto convidou-a para se hospedar em sua residência, no que a artista aceitou!

ENSAYO DE EINSTEIN SOBRE EL SESGO RACIAL

Albert Einstein afirmó que: “El descubrimiento de las leyes de la naturaleza por la ciencia puede hacer a un hombre erudito, pero no lo convierte en una buena persona. El hombre bueno realiza los valores dentro de su conciencia, porque el mundo de los hechos, que es la ciencia, no conduce al mundo de los valores, que es la conciencia. Los hechos no producen valores porque los valores vienen de otra región”.

¿Y a qué región se refiere Einstein? Una región geográfica en el planeta, o en el Cosmos... ¿un signo enigmático ubicado en sus complejos cálculos matemáticos?

 

¡No! Esta región es la conciencia crística intrínseca al alma humana, que crea valores y conduce al hombre a su evolución espiritual. Sin embargo, el hombre tiene que permitirse esta evolución o corre el riesgo de estancarse en su evolución e incluso de desintegrarse. Pero esta conciencia está latente en la mayoría de los individuos que todavía necesitan herramientas astutas en sus acciones y reacciones, que son los reflejos primarios de sus instintos o de la mente intelectualizada. Estos instintos primarios no siempre añaden o incluso retrasan esta evolución, ya que los elementos formadores de la personalidad y el carácter están enraizados en la historia de su vida, que se remonta a los días primitivos de la existencia cuando al hombre se le dio el libre albedrío que lo conducía a su destino.

 

En uno de los momentos más efervescentes de la historia de los Estados Unidos, cuando el racismo cobró innumerables víctimas en la brutalidad del hombre blanco contra las minorías étnicas y principalmente africanas, Einstein, en 1946, hizo un elocuente pronunciamiento sobre el prejuicio racial, demostrando que su mente científica racional también vivía la mística de la Realidad y la verdadera conciencia humana. Fue una actitud valiente, un toque de atención sobre una situación que se arrastra desde hacía más de 400 años, cuando llegó el primer barco negrero a Estados Unidos, en un país que aprovechó inmensamente esta mano de obra y se convirtió en el país más rico, pero aún esposada en sus memorias, y de la que se niega a liberarse, como lo demuestran los recientes y sangrientos episodios contra su población de origen africano, incluso a principios del siglo XXI.


En los años posteriores a la Segunda Guerra Mundial, Einstein subió al estrado para enfrentar el racismo en Estados Unidos. Como músico y gran amante de la música clásica, se hizo muy amigo del destacado cantante de ópera Paul Robeson y de Marian Anderson, una de las cantantes de ópera estadounidenses más célebres del siglo XX. 1

 

Einstein copresidió una campaña contra los linchamientos y fue un partidario abierto de William Edward Burghardt Du Bois, un sociólogo estadounidense, socialista, historiador, activista de los derechos civiles, panafricanista, autor, escritor y editor y el primer afroamericano en ganar un Doctor. de la Universidad de Harvard. Pero fue en enero de 1946 cuando escribió uno de sus ensayos más articulados y elocuentes en defensa de los derechos civiles de los afroamericanos. Y, como se describe en Einstein sobre raza y racismo, el icónico físico equiparó los guetos de los judíos en Alemania y la segregación en Estados Unidos, llamando al racismo la “peor enfermedad” de Estados Unidos.

 

“La cuestión del negro” es un ensayo escrito por Einstein y publicado inicialmente en la edición de enero de 1946 de la revista Pageant, destinado a dirigirse principalmente a lectores blancos:

 

“Escribo como alguien que ha vivido entre ustedes en Estados Unidos sólo un poco más de diez años, y escribo con seriedad y advertencia. Muchos lectores pueden preguntar: “¿Qué derecho tiene él a hablar sobre cosas que nos conciernen únicamente a nosotros y que ningún recién llegado debería tocar?”

Lo que pronto hace que el recién llegado se dedique a este país es el rasgo democrático entre la gente. No estoy pensando tanto aquí en la constitución política democrática de este país, por mucho que deba ser alabado. Pienso en la relación entre personas individuales y en la actitud que mantienen entre sí.

En los Estados Unidos, todos se sienten seguros de su valía como individuo. Nadie se humilla ante otra persona o clase. Incluso la gran diferencia en la riqueza, el poder superior de unos pocos, no puede socavar esta sana confianza en uno mismo y el respeto natural por la dignidad del prójimo.

Sin embargo, hay un punto sombrío en la perspectiva social de los estadounidenses. Su sentido de igualdad y dignidad humana se limita principalmente a los hombres de piel blanca. Incluso entre estos, hay prejuicios de los que yo, como judío, soy claramente consciente; pero carecen de importancia en comparación con la actitud de los “blancos” hacia sus conciudadanos de tez más oscura, particularmente hacia los negros. Cuanto más me siento estadounidense, más me duele esta situación. Puedo escapar del sentimiento de complicidad en él solo hablando.

Muchas personas sinceras responderán: “Nuestra actitud hacia los negros es el resultado de experiencias desfavorables que hemos tenido al convivir con los negros en este país. No son nuestros iguales en inteligencia, sentido de responsabilidad, confiabilidad”.

Estoy firmemente convencido de que quien crea esto sufre un error fatal. Tus antepasados sacaron a la fuerza a estos negros de sus hogares; y en la búsqueda del hombre blanco de riqueza y una vida fácil, han sido reprimidos y explotados sin piedad, degradados a la esclavitud. El prejuicio moderno contra los negros es el resultado del deseo de mantener esta condición indigna.

Los antiguos griegos también tenían esclavos. No eran negros sino hombres blancos que habían sido capturados en la guerra. No se podía hablar de diferencias raciales. Y, sin embargo, Aristóteles, uno de los grandes filósofos griegos, declaró a los esclavos seres inferiores, justamente sometidos y privados de su libertad. Estaba enredado en un prejuicio tradicional del que, a pesar de su extraordinario intelecto, no podía liberarse.

Una gran parte de nuestra actitud hacia las cosas está condicionada por opiniones y emociones que inconscientemente absorbemos como niños de nuestro entorno. En otras palabras, es la tradición, además de las aptitudes y cualidades heredadas, lo que nos hace lo que somos. Rara vez reflejamos cuán relativamente pequeña, en comparación con la poderosa influencia de la tradición, es la influencia de nuestro pensamiento consciente sobre nuestra conducta y nuestras convicciones.

Sería una tontería despreciar la tradición. Pero con nuestra creciente conciencia de nosotros mismos y nuestra creciente inteligencia, debemos comenzar a controlar la tradición y asumir una actitud crítica hacia ella, si las relaciones humanas van a cambiar para mejor. Debemos tratar de reconocer lo que en nuestra tradición aceptada está dañando nuestro destino y dignidad, y moldear nuestras vidas en consecuencia.

Creo que quien intente pensar las cosas honestamente pronto reconocerá cuán indigno e incluso fatal es el prejuicio tradicional contra los negros.

Sin embargo, ¿qué puede hacer el hombre de buena voluntad para combatir este prejuicio profundamente arraigado? Debe tener el valor de dar ejemplo de palabra y obra y debe velar por que sus hijos no se vean influenciados por este prejuicio racial.

No creo que haya una forma en que este mal profundamente arraigado pueda curarse rápidamente. Pero hasta que se alcance este objetivo, no hay mayor satisfacción para una persona justa y bien intencionada que saber que ha dedicado sus mejores energías al servicio de la buena causa”.

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1)- Tanto Paul Robeson como Marian Anderson fueron famosos por sus logros artísticos y su activismo político por la causa del Movimiento por los Derechos Civiles. Ambos eran afrodescendientes y padecían prejuicios raciales.

 

Paul Robeson fue un cantante de bajo barítono, actor de teatro y cine estadounidense que se hizo famoso por sus logros culturales y su activismo político. Fue acusado de ser miembro del Partido Comunista, pero no hay pruebas claras. Según los registros publicados en virtud de la Ley de Libertad de Información, el FBI creía que Robeson podría haberse unido al Partido con el nombre de “John Thomas”, pero se desconoce el número de libro del miembro del Partido Comunista.


Cuando Marian Anderson fue invitada a dar un recital en Princeton, donde Einstein era profesor y fundador del Instituto de Estudios Avanzados, el hotel donde se suponía que iba a hospedarse prohibió su presencia. Tan pronto como Einstein se enteró del incidente, la invitó de inmediato a quedarse en su residencia, ¡lo que el artista aceptó!


EINSTEIN'S ESSAY ON RACIAL BIAS

Albert Einstein stated that: “The discovery of the laws of nature by science can make an erudite man but does not make him a good person. The good man realizes the values within his consciousness, for the world of facts, which is science, leads no way to the world of values, which is consciousness. Facts do not produce values because values come from another region.”

And what region is this that Einstein refers to? A geographical region on the planet, or in the Cosmos... an enigmatic sign located in his complex mathematical calculations?

No! This region is the Christlike consciousness intrinsic to the human soul, which creates values and leads man to his spiritual evolvement. However, he has to allow himself to this evolvement or is at risk of becoming stagnant in his evolution and even disintegration. But this awareness is dormant in most individuals who still need cunning tools in their actions and reactions, which are the primary reflexes of their instincts or intellectualized mind. These primary instincts do not always add or even delay this evolvement since the forming elements of personality and character are rooted in his life story, dating back to the primaeval days of existence when man was given the free will leading to his destiny.

In one of the most effervescent moments in the history of the United States, when racism claimed countless victims in the brutality of the white man against ethnic and mainly African minorities, Einstein, in 1946, made an eloquent pronouncement on racial prejudice, showing that his rational scientific mind also lived the mystique of Reality and true human consciousness. It was a courageous attitude, a wake-up call about a situation that had dragged on for over 400 years, when the first slave ship arrived in the United States, in a country that took immense advantage of this labour force and became the wealthiest country but still handcuffed in its memories, and from which it refuses to free itself, as shown in the recent and bloody episodes against its population of African origin, even at the beginning of the 21st century.

In the years after World War II, Einstein took the stand to confront racism in America. As a musician himself and a great lover of classical music, he became close friends with prominent opera singer Paul Robeson and Marian Anderson, one of the most celebrated American opera singers of the 20th century. 1

Einstein co-chaired an anti-lynching campaign and was an outspoken supporter of William Edward Burghardt Du Bois, an American sociologist, socialist, historian, civil rights activist, Pan-Africanist, author, writer and editor and the first African American to earn a PhD. from Harvard University. But it was in January 1946 he penned one of his most articulate and eloquent essays advocating for the civil rights of African-Americans. And, as described in Einstein on Race and Racism, the iconic physicist equated the ghettoization of Jews in Germany and segregation in America, calling racism America’s “worst disease.”

 

“The Negro Question” is an essay written by Einstein and initially published in the January 1946 issue of Pageant magazine, intended to address a primarily white readership:

 

“I am writing as one who has lived among you in America only a little more than ten years, and I am writing seriously and warningly. Many readers may ask: “What right has him to speak about things which concern us alone and which no newcomer should touch?”

What soon makes the new arrival devoted to this country is the democratic trait among the people. I am not thinking here so much of the democratic political constitution of this country; however highly it must be praised. I am thinking of the relationship between individual people and of the attitude they maintain toward one another.

In the United States, everyone feels assured of his worth as an individual. No one humbles himself before another person or class. Even the great difference in wealth, the superior power of a few, cannot undermine this healthy self-confidence and natural respect for the dignity of one’s fellowman.

There is, however, a sombre point in the social outlook of Americans. Their sense of equality and human dignity is mainly limited to men of white skin. Even among these, there are prejudices of which I, as a Jew, am clearly conscious. Still, they are unimportant compared to the attitude of the “Whites” toward their fellow citizens of darker complexion, particularly toward Negroes. The more I feel like an American, the more this situation pains me. I can escape the feeling of complicity in it only by speaking out.

Many a sincere person will answer: “Our attitude towards Negroes is the result of unfavourable experiences we have had by living side by side with Negroes in this country. They are not our equals in intelligence, sense of responsibility, reliability.”

I am firmly convinced that whoever believes this suffers from a fatal misconception. Your ancestors dragged these black people from their homes by force, and in the white man’s quest for wealth and easy life, they have been ruthlessly suppressed and exploited, degraded into slavery. The modern prejudice against Negroes is the result of the desire to maintain this unworthy condition.

The ancient Greeks also had slaves. They were not Negroes but white men who had been taken captive in war. There could be no talk of racial differences. And yet Aristotle, one of the great Greek philosophers, declared slaves inferior beings who were justly subdued and deprived of their liberty. He was enmeshed in a traditional prejudice from which, despite his extraordinary intellect, he could not free himself.

 A large part of our attitude toward things is conditioned by opinions and emotions, which we unconsciously absorb as children from our environment. In other words, it is tradition — besides inherited aptitudes and qualities — which makes us what we are. We but rarely reflect how relatively small as compared with the powerful influence of tradition is the influence of our conscious thought upon our conduct and convictions.

It would be foolish to despise tradition. But with our growing self-consciousness and increasing intelligence, we must begin to control tradition and assume a critical attitude toward it if human relations are ever to change for the better. We must try to recognize what in our accepted tradition is damaging to our fate and dignity — and shape our lives accordingly.

Whoever tries to think things through honestly will soon recognize how unworthy and even fatal is the traditional bias against Negroes.

What, however, can the man of goodwill do to combat this deeply rooted prejudice? He must have the courage to set an example by word and deed and watch lest his children become influenced by this racial bias.

I do not believe there is a way in which this deeply entrenched evil can be quickly healed. But until this goal is reached, there is no greater satisfaction for a just and well-meaning person than the knowledge that he has devoted his best energies to the service of the good cause.”

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1)- Both Paul Robeson and Marian Anderson were famous for their artistic achievements and political activism in the cause of the Civil Rights Movement. They were both afro-descendants and suffered from racial prejudice.

 

Paul Robeson was an American low-baritone singer, theatre and cinema actor who became famous for his cultural achievements and political activism. He was accused of being a member of the Communist Party, but there is no clear evidence. According to records released under the Freedom of Information Act, the FBI believed that Robeson could have joined the Party under “John Thomas”, but the Communist Party member book number is not known.

 

When Marian Anderson was invited to do a recital in Princeton, where Einstein was the professor and founder of the Institute for Advanced Studies, the hotel she was supposed to stay banned her presence. As soon as Einstein learned of the incident, he promptly invited her to stay at his residence, which the artist accepted!

Thursday 3 March 2022

GUERRA MUNDIAL, I, II – III?

 

O pequeno capítulo abaixo, extraído de um dos livros de Huberto Rohden (1893-1981), primeiramente editado em 1961, foi escrito durante o período sombrio da guerra fria entre os EUA e a União Soviética, no auge da crise dos misseis nucleares instalados em Cuba, e que foram chamados de “defensivos” pelos russos! Rohden também passou por dois conflitos mundiais, além de ter presenciado os eventos da Revolução Soviética, o que lhe deu argumentos para produzir suas ideias com relação à uma provável terceira guerra mundial.

Nele, o autor revela, com a sua sapiência intuitiva, um tempo da história da civilização, o que as mentes intuitivas dos sábios videntes do passado remoto, já anunciavam que estava para acontecer. Naquele momento, temendo uma nova devastação no planeta, que ceivou durante a segunda guerra mundial, em torno de 80 milhões de pessoas, houve, felizmente, um trabalho diplomático, uma espécie de armistício na guerra de palavras travadas pelas duas nações, e suportadas pelos seus aliados.

E hoje, na primavera do século 21, os poderes constituídos, se voltam novamente a alimentar uma outra possível conflagração mundial, pois a constante realidade histórica na formação das civilizações, tiveram como adubo, o sangue que corre nas veias da mediocridade humana.

Rohden, em um outro de seus livros, afirmou que: “O grosso da humanidade conhecida, não é, de forma alguma, “feita à imagem e semelhança de Deus,” a que se refere o Gênesis. Não se pode ver nos humanos, a “coroa da creação” - nesse animal bípede ligeiramente intelectualizado, cuja inteligência, o tornou o mais perigoso animal do planeta, pois a vasta maioria ainda vive a se rastejar pelas planícies estéreis da mediocridade. A intelectualização do instinto fez dos homens uns monstros de ganância e agressividade, cujas garras e dentes se aperfeiçoaram na forma de armas de destruição em massa, e cujos desejos só trabalha para satisfazer as vontades tirânicas do ego. Essa intelectualização os fez ainda, uma repugnante caricatura de sexualismo libertino, pois julga viver no cio, as vinte e quatro horas do dia, e assim, desenvolvendo um inferno de doenças físicas e mentais, que nenhum outro ser da natureza conhece ou experienciou.

Portanto, diante dos fatos, julgar o ser humano como a “coroa da creação”, é insultar os outros seres da natureza que com o ser humano, dividem suas existências na Terra.

                                                   * * *

“Se a terceira guerra mundial acontecer, como afirmam os videntes e querem os fabricantes de todos os tipos de armas, inclusive as nucleares, será a destruição de todos os anticristos que hoje guerreiam o Cristo, ou seja, o Catolicismo romano, o Protestantismo norte-americano e o Ateísmo soviético. Nenhum desses três setores da igreja chamada cristã, tomou a sério a mensagem central de Jesus, resumida nos dois importantes mandamentos, dos quais dependem “toda a lei e os profetas”: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração e de toda a tua alma e com toda a tua mente – e amarás o teu próximo como a ti mesmo.”

O ideal do Cristo Jesus foi substituído pelo ídolo do anticristo, multiforme e multicor, no egoísmo eclesiástico e no egoísmo nacionalista, mas sempre sob a bandeira do Cristo. Só nos últimos decênios, a Rússia resolveu abaixar a bandeira do Cristianismo, que os outros dois conservam ainda na fachada dos seus edifícios; a Rússia hostiliza abertamente o que o Catolicismo e o Protestantismo hostilizam disfarçadamente... Com isso, o espírito do Cristo Jesus continua a ser crucificado, através dos séculos e milênios... A sinagoga mancomunada com Iscariotes continuam a bradar: “Nós temos uma lei – e segundo a lei ele deve morrer”.

Segundo todos os indícios, o Vaticano, a mais antiga potência anticristã, será derrotado, em primeiro lugar, pelo Comunismo Soviético, o anticristo mais recente. Depois disto, sucumbirá a potência anticristã da democracia anglo americana, juntamente com seus reboques latino-americanos; por fim, a Rússia, dona única do planeta Terra, apodrecerá no seu próprio poderio e luxo, como aconteceu com o Império Romano, no auge do seu absolutismo, porque “todo o poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente”.

Depois disto, removidas as três potências anticristãs que navegam sob a bandeira do Cristo Jesus, estará aberto o caminho para o triunfo do Evangelho e a definitiva vitória do Sermão da Montanha, que até hoje apenas serviu para sermões, filosofia e poesia.

Até a alvorada desse tempo, a humanidade terá sofrido horrores brutais, com guerras nucleares e seu sucedâneo, os aparelhos bélicos de matéria astralmente guiados, que são emanações do intelecto luciferino, ou seja, os pensamentos, que são coisas reais, em forma de energias ou forças, assim como o impacto de um martelo sobre a bigorna, ou como a corrente elétrica que se manifesta em força, luz ou calor, embora a eletricidade em si mesma seja invisível. Só assim então, é que os homens estarão maduros para compreender o espírito do Cristo-redentor.

E então haverá “um novo céu e uma nova Terra”.”

Texto revisado e acrescentado, extraído do livro Ídolos ou Ideal?

¿GUERRA MUNDIAL, I, II – III?


El breve capítulo a continuación, tomado de uno de los libros de Huberto Rohden (1893-1981), publicado por primera vez en 1961, fue escrito durante el período oscuro de la Guerra Fría entre los EE. UU. y la Unión Soviética, en el apogeo de la crisis de los misiles nucleares instalados en Cuba, ¡que fueron llamados de “defensivos” por los rusos! Rohden también pasó por dos conflictos mundiales y fue testigo de los acontecimientos de la Revolución Soviética, lo que le dio argumentos para producir sus ideas sobre una probable tercera guerra mundial.

En él, el autor revela, con su sabiduría intuitiva, un momento de la historia de la civilización en el que las mentes intuitivas de los sabios videntes del pasado remoto ya anunciaban que estaba a punto de ocurrir. En ese momento, ante el temor de una nueva devastación en el planeta, que durante la Segunda Guerra Mundial había costado la vida a alrededor de 80 millones de personas, hubo, afortunadamente, un arreglo diplomático, una suerte de tregua en la batalla de palabras librada por las dos naciones y apoyada por sus aliados.

Y hoy, en la primavera del siglo XXI, los poderes establecidos alimentan nuevamente otra posible conflagración mundial, pues la constante realidad histórica en la formación de civilizaciones, tuvo como abono, la sangre que corre por las venas de la mediocridad humana.

Rohden, en otro de sus libros, afirmó: “La mayor parte de la humanidad conocida de ninguna manera está “hecha a imagen y semejanza de Dios”, a la que se refiere Génesis. No se puede ver en los humanos, la “corona de la creación”, en este animal bípedo ligeramente intelectualizado, cuya inteligencia lo ha convertido en el animal más peligroso del planeta, ya que la gran mayoría aún vive arrastrándose por las llanuras yermas de la mediocridad. La intelectualización del instinto ha convertido a los hombres en monstruos de la codicia y la agresión, cuyas garras y dientes se han convertido en armas de destrucción masiva y cuyas intenciones sólo están dirigidas a satisfacer los deseos tiránicos del ego. Esta intelectualización los convirtió incluso en una repugnante caricatura de libertina sexualidad, ya que creen vivir en celo las veinticuatro horas del día, desarrollando así un infierno de enfermedades físicas y mentales, que ningún otro ser de la naturaleza conoce ni ha experimentado.

Por lo tanto, dados los hechos, juzgar a los seres humanos como la “corona de la creación” es insultar a otros seres de la naturaleza que están compartiendo, con los humanos, su existencia en la Tierra.

                                                         * * *

“Si sucede la tercera guerra mundial, como dicen los videntes y quieren los fabricantes de todo tipo de armas, incluidas las nucleares, será la destrucción de todos los anticristos que hoy luchan contra Cristo, es decir, el catolicismo romano, el protestantismo norteamericano y el ateísmo soviético. Ninguno de estos tres sectores de la llamada iglesia cristiana tomó en serio el mensaje central de Jesús, resumido en los dos importantes mandamientos, de los cuales depende “toda la ley y los profetas”: “Amarás al Señor tu Dios con todo tu corazón, con toda tu alma y con toda tu mente, y amarás a tu prójimo como a ti mismo”.

El ideal de Cristo Jesús fue reemplazado por el ídolo del anticristo, multiforme y multicolor, en el egoísmo eclesiástico y nacionalista, pero siempre bajo la bandera de Cristo. Solo en las últimas décadas Rusia decidió arriar la bandera del cristianismo, mientras que los otros dos aún la mantienen en la fachada de sus templos. Rusia antagoniza abiertamente lo que el catolicismo y el protestantismo encubiertamente hacen lo mismo... Con esto, el espíritu de Cristo Jesús sigue siendo crucificado a través de los siglos y milenios... La sinagoga en connivencia con Iscariote sigue clamando: “Tenemos una ley — y según la ley, él debe morir.”

Según todos los indicios, el Vaticano, la potencia anticristiana más antigua, será derrotado, en primer lugar, por el comunismo soviético, el anticristo más reciente. Después de eso, sucumbirá el poder anticristiano de la democracia angloamericana, junto con sus aduladores latinoamericanos; finalmente, Rusia, única dueña del planeta Tierra, se pudrirá en su propio poder y lujo, como sucedió con el Imperio Romano en el apogeo de su absolutismo, porque “todo poder corrompe, y el poder absoluto corrompe absolutamente”.

Después de eso, con la eliminación de los tres poderes anticristianos que navegan bajo el estandarte de Cristo Jesús, se abrirá el camino para el triunfo del Evangelio y la victoria del Sermón de la Montaña, que hasta el día de hoy solo ha servido para los sermones, la filosofía y poesía.

Hasta el amanecer de ese tiempo, la humanidad habrá sufrido horrores brutales, con guerras nucleares y su sustituto, los aparatos de guerra guiados astralmente, que son emanaciones del intelecto luciferino, es decir, los pensamientos, que son cosas reales, en forma de energías o fuerzas, como el impacto de un martillo sobre un yunque, o como la corriente eléctrica que se manifiesta en poder, luz o calor, aunque la electricidad en sí es invisible.

Sólo entonces los hombres serán lo suficientemente maduros para comprender el espíritu de Cristo Redentor.

Y entonces habrá “un cielo nuevo y una nueva Tierra”.

WORLD WAR, I, II – III?

The short chapter below, taken from one of Huberto Rohden's (1893-1981) books, first published in 1961, was written during the dark period of the Cold War between the US and the Soviet Union, at the height of the nuclear missile crisis installed in Cuba, which was called “defensive” by the Russians! Rohden also went through two world conflicts and witnessed the events of the Soviet Revolution, which gave him arguments to produce his ideas regarding a probable third world war.

In it, the author reveals, with his intuitive wisdom, a time in the history of civilization in which the intuitive minds of the wise seers of the remote past already announced that was about to happen. At that moment, fearing new devastation on the planet, which during the second world war had cost the lives of around 80 million people, there was, fortunately, a diplomatic arrangement, a kind of truce in the battle of words waged by the two nations, and supported by their allies.

And today, in the spring of the 21st century, the established powers are once again feeding another possible world conflagration, for the constant historical reality in the formation of civilizations, had as fertilizer, the blood that runs in the veins of human mediocrity.

Rohden, in another of his books, stated: “The greater part of known humanity is by no means “made in the image and likeness of God,” to which Genesis refers. One cannot see in humans, the “crown of creation” - in this slightly intellectualized bipedal creature, whose intelligence has made it the most dangerous animal on the planet, as the vast majority still lives crawling along the barren plains of mediocrity. The intellectualization of instinct has made men into monsters of greed and aggression, whose claws and teeth have honed into weapons of mass destruction and whose intentions are only directed to satisfy the tyrannical desires of the ego. This intellectualization made them even a disgusting caricature of libertine sexualism, as they believe they live in heat, twenty-four hours a day, and thus, developing a hell of physical and mental illnesses, which no other being of nature knows or has experienced.

Therefore, given the facts, to judge human beings as the “crown of creation” is to insult other beings of nature that are sharing, with humans, their existence on Earth.

                                                          * * *

“If the third world war happens, as the seers claim and want the manufacturers of all types of weapons, including nuclear ones, it will be the destruction of all the antichrists that today fight against Christ, that is, Roman Catholicism, North American Protestantism and Soviet Atheism. None of these three sectors of the so-called Christian church took seriously the central message of Jesus, summarized in the two important commandments, on which “all the law and the prophets” depend: “You shall love the Lord your God with all your heart and with all your soul and with all your mind – and you shall love your neighbour as yourself.”

Christ Jesus' ideal was replaced by the idol of the antichrist, multiform and multicoloured, in ecclesiastical and nationalistic selfishness, but always under the banner of Christ. Only in the last few decades has Russia decided to lower the flag of Christianity, while the other two still keep it on their temples' facade. Russia openly antagonizes what Catholicism and Protestantism covertly do the same... With this, the spirit of Christ Jesus continues to be crucified through the centuries and millennia... The synagogue in league with Iscariot continues to cry out: “We have a law — and according to the law, he must die.”

By all indications, the Vatican, the oldest anti-Christian power, will be defeated, first of all, by Soviet Communism, the most recent antichrist. After that, the anti-Christian power of Anglo-American democracy will succumb, along with its Latin American flatterers; finally, Russia, the sole owner of planet Earth, will rot in its own power and luxury, as happened with the Roman Empire at the height of its absolutism, because “all power corrupts, and absolute power corrupts absolutely”.

After that, with the removal of the three anti-Christian powers sailing under the banner of Christ Jesus, the path will be open for the triumph of the Gospel and the Sermon on the Mount victory, which until today has only served for sermons, philosophy and poetry.

Until the dawn of that time, humanity will have suffered brutal horrors, with nuclear wars and their substitute, the astrally guided war apparatus, which are emanations of the Luciferian intellect, that is, the thoughts, which are real things, in the form of energies or forces, like the impact of a hammer on an anvil, or like the electric current that manifests itself in power, light, or heat, though electricity itself is invisible.

Only then will men be mature enough to comprehend the spirit of Christ the Redeemer.

And then there will be “a new heaven and a new Earth.”

Tuesday 1 March 2022

DO LIVRE-ARBÍTRIO HUMANO


O que é o livre-arbítrio?

O livre-arbítrio é o poder ou a habilidade que o homem tem de escolher diferentes ações a decidir, ou não decidir, a crear valores internos positivos, tornando-se bom, assim como a praticar ações ou reações negativas, tornando-se mau.

Se o mundo inteiro é regido pelo determinismo da causalidade, como pode haver indeterminismo ou livre-arbítrio? 1

O livre-arbítrio não é indeterminismo, ou ausência de causalidade; mas é autodeterminação, isto é, causalidade dinâmica, oriunda de dentro do homem, em oposição ao determinismo vindo de fora do homem, ou causalidade mecânica, de uma causa que dá origem a um efeito. 

O livre-arbítrio é creador?

Sim, é um poder creador, porque pode dar existência a valores antes inexistentes.

Esses valores creados pelo livre-arbítrio vêm do nada?

Não, os valores creados pelo livre-arbítrio vêm da Essência Infinita (Deus), manifestados como algo qualitativo no plano da Existência Finita (seres humanos).

Todos os homens são igualmente livres?

Não, há muitos graus na liberdade, e cada homem é moral e eticamente responsável pelos seus atos segundo o grau de liberdade com que age.

O homem pode perder o seu livre-arbítrio?

Não, não existe nenhum homem adulto e normal sem livre-arbítrio, embora o exercício dele possa ser inibido temporariamente por alguma anormalidade.

O homem, depois da morte física, ainda possui livre-arbítrio?

Sim, porque o livre-arbítrio é atributo essencial do espírito do indivíduo e não depende do corpo material.

O homem pode, sem corpo material, praticar atos livres?

Sim, porque o livre-arbítrio é atributo inseparável da natureza espiritual e pode agir enquanto existe esse espírito individual.

Não falam os textos sacros de suplício eterno? 

A palavra “eterno”, significa de longa duração, mas não inclui a noção de sem fim, tanto assim que é usada nos livros sacros no plural: “por todas as eternidades das eternidades”, ou seja, na presente eternidade, na futura eternidade.

O que é suplício eterno?

Suplício, é sofrimento purificador, que é um estado de longa duração em que o pecador se purifica, pelo sofrimento, de culpas passadas e previne culpas futuras.

Pode haver castigo eterno? 

O castigo, do latim “castum agere”, tornar casto, puro, é um sofrimento que visa à extinção de culpas passadas e à prevenção de culpas futuras, que perderia o seu sentido positivo se fosse apenas uma punição negativa, sem fim, sem atuação salutar para o passado e para o futuro. O efeito positivo da punição, redime o ser humano.

O castigo é eticamente admissível? 

O castigo, de caráter corretivo e preventivo, é eticamente admissível, ao passo que a punição, de caráter meramente vingativo, é eticamente inadmissível.

Deus pode punir eternamente? 

Deus não pode punir eternamente, fazer sofrer sem fim, por ser isto intrinsecamente mau, mas pode castigar ou fazer sofrer, temporariamente, por não ser isto intrinsecamente mau; de resto, não é Deus, mas o homem, que causa sofrimento.

Não diz Abraão ao rico avarento, condenado, que não há transição de lá para cá, nem vice-versa? 

O homem que, pelo abuso da sua liberdade, entrou num estado de sofrimento purificador de longa duração, não sairá desse cárcere enquanto não houver pago o último débito.

O homem culpado pode saldar o seu débito em qualquer tempo e lugar?

Pode, sim, porque o livre-arbítrio, que criou o débito, pode extingui-lo onde e quando quiser. 

O homem é livre em suas decisões – ou apenas se julga livre, quando aparentemente é um autômato de forças desconhecidas?

Nenhum ser humano é inteiramente livre, porque liberdade plena é onipotência. Só a Tese Absoluta, A Realidade Universal, a Divindade, o Creador é que é inteiramente livre. No Infinito, diz Baruch Spinoza, coincidem a liberdade e a necessidade; Deus é necessariamente livre, e livremente necessário. Em Deus, a liberdade é a própria necessidade. O homem é parcialmente livre, e essa liberdade parcial é suficiente para torna-lo responsável pelos seus atos livremente praticados, responsabilidade que é limitada pela própria finitude da natureza humana. Em termos metafísicos, o homem é parcialmente livre.

O homem é suficientemente livre para ser responsabilizado por suas ações conscientes, boas ou más, mas o grau de liberdade e responsabilidade moral e ética não é o mesmo para cada homem. Enquanto ele é um produto do ego que o escraviza às influências da causa sobre o efeito, é potencialmente livre, porque a liberdade, o livre-arbítrio, são conceitos cujo valor dependerá sempre do nível de compreensão que cada indivíduo tem sobre si mesmo e das circunstâncias que o envolvem. Os atos humanos são livres; são de responsabilidade de cada pessoa, formando esse grande desafio de viver e crear valores que se somam ao próprio indivíduo, e também atuando como catalisadores para agregar valores aos seus semelhantes.

A verdadeira liberdade só pode ser plenamente manifestada quando o homem descobre o Ser Divino que existe em sua alma, e só então, sabedor dessa verdade, é que ele se torna dinamicamente livre.

Sendo que, pelo livre-arbítrio, o homem é estritamente causa e autor dos seus atos, o grau da sua responsabilidade moral e ética é diretamente proporcional ao grau da sua liberdade. Quem é 20 graus livre é 20 graus responsável pelo que faz; quem é 80 graus livre é 80 graus responsável. As leis humanas condenam dois criminosos que cometeram o mesmo crime para a mesma pena; entretanto é bem possível que um seja 80 graus culpado e o outro apenas 20, devido a diferença de liberdade com que cada um agiu. A chamada justiça humana não pode deixar de ser uma permanente injustiça, e, se não houvesse no Universo, o reequilíbrio dessa justiça desequilibrada, a ordem do Cosmos acabaria na desordem do caos; existe uma grande Justiça Cósmica que compensa todas as deficiências das pequenas pseudo justiças humanas.

Diz o filósofo Schopenhauer: “O homem pode fazer o que ele quer - mas não pode querer o que quer.”

E afirma Paulo de Tarso: “Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém.”

O livre-arbítrio não é uma zona isenta da jurisdição divina, o que de bem ou de mal o homem fizer nessa “zona isenta”, ou nesse “campo neutro” da sua liberdade, é ele mesmo que o faz por conta e risco, e não Deus. Pelo livre-arbítrio, o homem possui um poder creador, e é nisto que consiste a sua semelhança com Deus.

“Vós sois deuses!”

Entretanto, o fato do homem poder traçar o seu destino pelo exercício da sua liberdade, não invalida a existência de um Destino Universal, que determina o curso do mundo, contra o qual nenhuma creatura pode prevalecer. Dentro do âmbito dessa ordem divina do Cosmos, o ser humano livre pode exercer os atos que quiser, creando o seu céu ou o seu inferno. O Destino Universal é imutável; está sob a jurisdição das Potências Cósmicas – o destino individual é mutável. “Cada um colherá o que houver semeado”. O homem é livre em cometer ou não cometer a culpa, mas não é livre em evitar a pena enquanto a culpa existe, pois ninguém pode burlar as Leis Cósmicas, já que não existe contrabando na Dimensão Divina. O pecador é obrigado a resgatar sua culpa, pois mesmo a ignorância não o isenta do débito a ser pago; enquanto aquele que não peca, fica livre de resgates. Enquanto houver pecadores e santos, haverá inferno e céu – que são creações do livre arbítrio das creaturas.

“Homem, conhece a ti mesmo e a verdade vos libertará.”

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1)- Determinismo: doutrina sobre a relação necessária entre todos os eventos e fenômenos, e seu condicionamento casual. Por exemplo, a anarquia do modo de produção capitalista leva fatalmente a crises econômicas; o desenvolvimento da luta de classes conduz inevitavelmente à revolução social. Os idealistas opõem ao determinismo, o indeterminismo, que sustenta que o curso natural das coisas no mundo não está subordinado às leis, à causalidade; que há livre arbítrio, não dependente de nada.

Texto revisado, extraído em parte dos livros Catecismo da Filosofia e Orientando para a Auto-realização