Todos os grandes iniciados na espiritualidade que
atingiram um alto grau de auto-realização, evitavam ser chamados de mestres,
pois a experiência de cada um foi particular, assim como a experiência de
qualquer um de nós é particular. O assim chamado mestre, pode eventualmente
direcionar o iniciante a um caminho que o leve à auto-realização, mas dai por
diante, cabe a ele seguir sua própria jornada.
A finalidade do chamado mestre "não é a de levar
consigo, indefinidamente, o discípulo, mas sim o de lhe dar plena autonomia e
autocracia, de maneira que, algum dia, o discípulo possa seguir o seu caminho
com perfeita clareza e absoluta segurança, sem o mestre. E então o mestre
externo passou a ser um mestre interno, inerente ao discípulo. O maior triunfo
de um verdadeiro mestre consiste em tornar-se supérfluo, pois o mestre que nunca
se torna supérfluo não cumpriu a sua missão".
O próprio Jesus, o Cristo, um dos mais
auto-realizados seres humanos disse: "Não chameis ninguém vosso pai e vosso
mestre. Um só é o vosso Pai"... e cada um é o mestre de si mesmo.
Huberto Rohden não gostava que o chamassem de
mestre ou guru. "Eu não sou mestre de ninguém e sim discípulo de todos"!
“O que leva um pseudo-iluminado a se apresentar
como iluminado é, quase sempre, a ambição do prestígio, a cobiça do dinheiro ou
o orgulho, roubando a chave do conhecimento do reino de Deus.
Essa chave consiste numa experiência interna, não
condicionada por nenhuma formalidade externa. O poder vem de dentro, a fraqueza
vem de fora.
“A letra mata - mas o espírito dá
vida”.
O ritual dá prestígio externo – o espiritual dá
força interna.
Quem exerce o ritual sem possuir o espiritual é
falso profeta; roubou a chave do conhecimento do reino de Deus. Iludido, ilude
os outros. Cego, conduz outros cegos, não é condutor e sim,
sedutor.
Ignorância do mundo espiritual é treva –
experiência é luz.
Só pode iluminar quem foi iluminado.
Só pode dar aos homens quem recebeu de
Deus.
Só pode distribuir aos homens quem possui os
tesouros da divindade.
É necessário que o guia espiritual compreenda que
a única possibilidade de guiar os outros está em que ele se deixe guiar por
Deus, e que nenhuma igreja ou seita lhe pode dar essa experiência. Todas as
igrejas e seitas são como outros tantos marcos colocados à beira do caminho da
vida, nas encruzilhadas duvidosas, incertas; quem parasse aos pés desses marcos
ou se contentasse com olhar na direção indicada pelas flechas não chegaria
jamais ao final da jornada.
A alma do cristianismo não é algo que se possa
ensinar ou aprender intelectualmente, como num curso de teologia, ou de
explicação de textos; é algo que deve ser vivido e sentido, e até sofrido, em
profundo silêncio e fecunda solidão. Podem, na melhor das hipóteses, outros
guiar-me até o limiar do santuário, mas só eu é que posso transpor esse limiar e
encontrar a Deus, face a face.
O dia mais glorioso para o verdadeiro mestre é o
dia em que ele se torna supérfluo e dispensável, o dia glorioso em que a alma
por ele guiada já não necessite de guia, por ter se tornado espiritualmente
autônoma e independente, para andar segura e firme nos caminhos de
Deus”.
Texto extraído do livro Assim Dizia o
Mestre
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