Saturday 9 April 2016

A REDE E SEU CONTEÚDO


 
O destino final de cada homem é o resultado de seu livre arbítrio
 
“O Reino dos Céus é semelhante a uma rede, que foi lançada ao mar e apanhou coisas de todo o gênero.  Quando cheia, os homens puxaram-na à praia e, sentando-se, recolheram as coisas mais belas em cestas e jogam fora as feias.  Assim acontecerá também na consumação dos tempos:  sairão os mensageiros e separarão os maus do meio dos justos, lançando-os à fornalha de fogo; aí haverá choro e ranger de dentes”.
 
De acordo com a parábola, haverá uma separação final entre maus e justos.
 
Mas afinal de contas, quem é bom e quem é mau?
 
Se não houvesse uma diferença radical entre bons e maus, não poderia haver vida eterna para uns e morte eterna para outros, como o Evangelho afirma repetidas vezes.
 
Certos grupos espiritualistas declaram bons os que observam determinados cânones estabelecidos por esses grupos, e consideram maus os que não obedecem a essas regras.  Esse critério, porém, é muito relativo e mutável, e não pode afetar o destino definitivo do ser humano.
 
Outros consideram bons os que fazem bem a seus semelhantes, e maus os outros.  Mas esse é um critério que não representa a essência do ser humano.  Podemos fazer bem aos outros sem sermos bons nós mesmos.  Podemos até fazer bem por vaidade, ostentação, egoísmo, e outros motivos alheios ao verdadeiro ser-bom.
 
Muitos são beneficentes, não pelos motivos negativos acima identificados, mas por motivos positivos; e identificam o fazer-bem com ser-bom.
 
Entretanto, por mais estranho que pareça, simples atos ou fatos externos não representam necessariamente valores internos; são coisas em si neutras; nenhum ato ou fato é intrinsicamente bom ou mau.  O que lhes da valor ou desvalor é uma atitude interna creada pelo livre arbítrio do homem.  É unicamente a realidade do Ser que determina o caráter do Agir.  É essa atitude interna do Ser que pode ser boa ou má.  O Agir é um transbordamento do Ser.
 
O Ser é do Eu central, o Agir é do ego periférico.
 
O Ser é a Essência ou Fonte, o Agir é Existência ou Canal.
 
Neste sentido dizia Jesus, o Cristo:  "A árvore boa produz frutos bons, a árvore má produz frutos maus; é pelos frutos que se conhece a árvore".  Mas suas palavras tem um sentido simbólico, pois na Natureza, não pode haver distinção entre bom e mau... todos os seres não humanos desempenham o papel que lhes foi determinado pelo Creador.  Jesus se refere portanto ao caráter do ser humano.
 
Da interna atitude do ser-bom brotam os atos externos do fazer-bem, atos que, neste caso, são eticamente bons, e não apenas moralmente louváveis.  Embora a linguagem comum identifique a ética com a moral, que são conceitos distintos.
 
Atos são eticamente bons quando são o transbordamento espontâneo de uma atitude realmente boa - e essa atitude consiste numa harmonia da consciência individual com a Consciência Universal, que se pode chamar Deus ou Divindade.  Por outro lado, mau é um ato que nasce de uma atitude má, isto é, da desarmonia da consciência individual com a Consciência Universal.
 
Atos externamente benéficos são compatíveis com uma atitude internamente má, ou então neutra.  Esses atos benéficos não provam necessariamente o ser-bom do seu autor.  Nem todos os atos externamente morais são internamente éticos.  A atitude determina os atos - mas os atos não determinam a atitude.
 
Neste sentido diz Einstein:  "Do mundo dos fatos não conduz nenhum caminho ao mundo dos valores, porque estes vêm de outra região".
 
Fato é ato, valor é atitude.  Valor ou atitude é creação do livre arbítrio.  Onde não há livre arbítrio não há valor nem atitude.
 
Atos externos, benéficos, sem atitude interna, boa, podem ser morais, mas não são éticos.  A ética é um transbordamento da mística, e a mística consiste numa harmonia da consciência humana com a consciência divina.  Um homem internamente mau, desarmonizado com Deus, pode ser externamente beneficente, benfeitor da humanidade.  Simples moralidade não prova a mística, mas toda mística se revela em ética.  A moral é um arranjo artificial de ego para ego, mas a ética é um transbordamento natural e irresistível da mística, é o extravasamento espontâneo de uma plenitude interior, do Eu, assim como o fruto é a manifestação da exuberante vitalidade da árvore.  Uma laranja que não nasceu da laranjeira é uma laranja artificial, fictícia, uma pseudo laranja (moralidade); somente uma laranja nascida da laranjeira, é uma laranja verdadeira (ética).  Nenhum homem, com toda a sua ciência e técnica, pode produzir uma laranja verdadeira; só a laranjeira (mística) pode produzir o fruto real, de dentro de sua alma, da Vida, e a Vida é Deus.
 
A mística é o ser-bom.
 
A ética é o fazer-bem nascido do ser-bom.
 
 
Texto extraído do livro Sabedoria das Parábolas

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