Nada é impuro por si mesmo, porque tudo vem da Infinita Pureza.
Mas o ser consciente e livre pode perder a natural pureza e tornar-se impuro - pelo abuso da sua liberdade.
A impureza moral chama-se egoísmo.
Todo pecado é, em última análise, egoísmo - como toda santidade é amor.
E egoísmo é ignorância, erro, confusão.
O egoísta toma o seu pseudo eu, a sua personalidade, por seu verdadeiro e profundo Eu divino.
O pseudo eu, que o ser humano descobre em si, no mais baixo estágio de sua evolução espiritual, é o eu físico, ou seja, o seu corpo grosseiramente material. Quando o ser humano diz: -"eu estou doente", identifica falsamente o seu ego como sendo o seu invólucro físico.
Enquanto não ultrapassarmos esse estágio de evolução meramente sensitivo, colocamos o nosso ego físico, o corpo e seus apetites - fome, sede, prazeres sensuais - como centro e sol de nossas vidas, em torno do qual girarão todos os planetas dos nossos pensamentos e de nossa vida cotidiana.
Alguns ultrapassam essa fronteira e descobrem o seu eu mental, ou seja, o mundo da inteligência, que se revela em ciência, técnicas, etc. E então todas as suas atividades giram em torno desse novo sol, mesmo com o sacrifício do seu eu físico. Descobrir os segredos da natureza é, para esses cultores do intelecto, o culto máximo que conhecem, como é, para os idólatras do corpo, a satisfação dos sentidos.
Mas, nem estes e nem aqueles atingiram o verdadeiro Eu, conhecendo apenas as camadas periféricas da sua natureza humana, o falso eu físico-mental.
Ora, tanto o eu físico como o eu mental são essencialmente egocêntricos, porque nada percebem do mundo universal, que gera altruísmo e amor.
Os seres não humanos também são egoístas, mas graças aos seus diferentes graus de consciência, o egoísmo deles é inofensivo pois este se acha circunscrito à sua dimensão, faz parte de suas naturezas, e de acordo aos planos das Potências Cósmicas.
O egoísmo intelectualizado, porém, é praticamente ilimitado.
O intelecto é muito poderoso e amplia o âmbito da egolatria, mas não é bastante vasto para controlar esse egoísmo mental pelo altruísmo espiritual.
Por essa razão, nenhum ser humano que conhece apenas o seu ego físico-mental pode deixar de ser egoísta.
O egoísmo, por ser o avesso do amor, torna a convivência social impossível ou a transforma numa constante guerra de todos contra todos.
A fim de manter esse inevitável conflito social dentro de certos limites toleráveis, é que foram criados os "governos" de diversos tipos.
Mas a lei imposta compulsoriamente, além de ser um expediente incerto e precário, escraviza o ser humano, obrigando-o a fazer forçado o que espontaneamente não faria.
O resultado final de toda lei cumprida por meio do medo e coação é a formação de seres humanos escravos e hipócritas; pois, se, com medo das sanções da lei, obedeço a lei, me reduzo a um escravo sob o chicote de um ditador.
Mas nem a desobediência nem a obediência compulsória me purificam - ambas me deixam moralmente impuro, embora a obediência à lei me faça legalmente puro.
O único modo de obedecer à lei sem me escravizar e me tornar impuro é aceitar livre e espontaneamente aquilo que a lei me impõe compulsoriamente.
--- Mas, como posso aceitar espontaneamente o conteúdo da lei?
Compreendendo e amando a lei como boa e salutar, pois a verdadeira finalidade da lei não é a escravidão, mas a liberdade. Se com as leis impostas por todos os governos, a humanidade vive um caos, imaginem como estaríamos sem a imposição da lei!
Entretanto, ninguém pode compreender e amar a lei como boa e salutar sem que primeiro descubra o seu verdadeiro Eu, a sua alma espiritual.
A lei moral nunca escraviza a alma, embora seja por vezes dolorosa ao corpo e à mente.
"Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará" ... dizia aquele que compreendia e amava a lei como um guia ao mais alto.
Descobrir a alma é a mais difícil de todas as descobertas - é mais fácil empreender viagens siderais no vasto Universo do que penetrar no misterioso núcleo do próprio Eu essencial e divino.
As viagens centrifugas dependem de recursos físico-mentais - mas a viagem centrípeta supõe forças espirituais, que a maioria dos seres humanos ainda não descobriu ou não sabe utilizar devidamente.
O descobrimento e a captação dessas energias latentes do Eu central é o resultado de longos anos, séculos e mesmo milênios de intensa e persistente disciplina, pois "estreito é o caminho e apertada é a porta que conduzem à vida eterna" ...
Daí, a urgente necessidade que o homem deve ter de buscar, de se purificar, de se libertar da ilusão tradicional sobre o seu eu físico-mental, que é advogado do egoísmo, que é impureza, e o verdadeiro Eu, profundo, espiritual e divino, é arauto do altruísmo, do amor, que é pureza e perfeita santidade!
Texto revisado, extraído do livro Imperativos da Vida
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