Música é alegria.
Não importa o momento... do som que acalenta, ou do som da despedida.
O som que acalenta nos faz transpor a barreira dos nossos dramas e dilemas; plenifica o espírito. Porém na despedida, a atmosfera musical pode mudar.
Esse conceito da perda tem diferentes aspectos: podemos sentir a perda material de algo, da ausência de alguém, de uma memória, de algo que as vezes não sabemos; de uma saudade, de um gosto..., no entanto, o sentido metafísico da perda é sempre um... o ganho! Se as perdas nos afetam é porque estamos sempre atrelados, apegados e algemados aos nossos conceitos, ou melhor, pré-conceitos. Nascemos livres, mas por onde andamos, carregamos nossas algemas. Nossos modos, hábitos, costumes e tradições, resistem à mudança, ou quando “mudam”, são para seguir a vasta multidão dos que vivem o vazio de uma vida agitada demais, pois vivemos presos às nossas periferias, viajando pelo mundo atentos às exterioridades, como numa centrífuga, esquecendo do Ser único e profundo que habita dentro de nós mesmos.
Nesse contexto, o sufismo, esse ramo místico do islamismo diz que: “Quando o ego se lamenta do que perdeu, o espírito se regozija do que ganhou”, ou do que encontrou.
Vivemos em uma zona de conforto que não passa de um incômodo para o espírito que luta para se libertar das prisões do ego, mas a mente e a ditadura exercida pelos nossos corpos nos prendem às algemas que teimamos em abrir e nos fazer livres. Esquecemos da viagem centrípeta – de que tanto fala Huberto Rohden em suas mensagens – viajem essa que nos conduz ao encontro de nós mesmos, despertando a consciência do nosso Eu, tão fortemente encoberto pelo véu do ego tirânico.
* * *
Mas, voltando às nossas viagens musicais, podemos fazer da música, um silêncio que apenas nossos espíritos podem escutar. E essa voz, essa melodia do silêncio que ecoa dentro de nós - quando receptivos a essa voz - nos leva ao encontro do vasto desconhecido. “Silêncio é intuição espiritual – e no zênite da experiência íntima impera o silêncio absoluto, fecundo, creador, o silêncio-plenitude”. No entanto, para que o encontro desse canal receptivo se materialize, exige a libertação das algemas, exige a sintonização com as ondas desse vasto desconhecido, onde a alegria é permanente e imutável...
O poema abaixo – um trecho apenas - escrito por Friedrich von Schiller (1759-1805) é uma ode, uma composição poética, um hino à alegria. Schiller dividiu seu tempo, amizade e dilemas filosóficos com Goethe, a maior expressão da literatura alemã. A importância desse poema em particular, é que Beethoven o usou em sua Nona Sinfonia. Outras obras de Schiller foram também musicadas por Brahms, Schubert, Verdi, Tchaikovsky, Donizete, Rossini, Klebe.
HINO À ALEGRIA - Friedrich von Schiller
Ó amigos, bastam desses sons!
Vamos cantar músicas mais agradáveis
mais cheias de alegria!
Alegria, a faísca brilhante da divindade,
filha de Elísio
inspirado pelo fogo onde pisamos
teu santuário.
O teu poder mágico reúne
tudo o que a tradição dividiu,
todos os homens se tornam irmãos
sob a graça de suas asas gentis.
Qualquer um que tenha criado
uma amizade permanente,
ou ganhou
uma companhia verdadeira e amante,
aquele que pode ter uma alma gêmea,
que se junte à nossa canção de louvor;
mas quem não pode, deve rastejar em lágrimas,
porém, distante do nosso grupo.
Todas as criaturas se embriagam de alegria
do seio da natureza.
O justo e o injusto
saboreiam dessa dádiva;
ela nos deu beijos e o fruto do vinho,
um bom amigo até o final.
Até o verme se contenta,
e o querubim se apresenta a Deus!
Felizes, como os corpos celestes
que Ele colocou em suas trajetórias
através do esplendor do firmamento;
assim, irmãos, vocês devem disputar a corrida,
como heróis para a conquista.
Multidões, eu vos abraço.
Este beijo é para todo o mundo!
Irmãos, acima do céu estrelado
deve habitar um Pai Amoroso.
Multidões, se dobrem em adoração.
Mundo, você conhece o seu Creador?
Procure-O nos céus!
Acima das estrelas Ele deve habitar.
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