Thursday 30 April 2020

BHAGAVAD GITA - Exercício de Ioga e Meditação

A Bhagavad Gita, é um episódio Sânscrito do épico Mahabharata, evento histórico de mais de 5 mil anos antes da era cristã, que remonta à época dos Vedas. É um dos tratados mais influentes da filosofia oriental; é a eterna mensagem de sabedoria espiritual da Índia antiga, que além de ser uma escritura religiosa, também é uma escritura da vida, baseado na fé e devoção. A palavra Gita significa canção e a palavra Bhagavad significa Deus, frequentemente o Bhagavad-Gita é chamado de Cântico de Deus, ou a Sublime Canção, ou a Canção do Senhor.
O texto abaixo é um excerto do livro Bhagavad Gita, tradução e interpretação de Huberto Rohden, que reuniu apenas os últimos 25 versículos do livro original de 18 capítulos, fazendo assim um resumo das mais importantes mensagens do texto original.
Atualmente a cultura ocidental está recebendo as técnicas de yoga e da meditação, como se fosse mais um modismo, praticando de maneira controversa, abordando apenas a superfície do que são realmente essas ciências. Yoga e a Meditação tem um significado muito mais amplo, que não está circunscrito somente a técnicas de posturas, hábitos e ações externas, mas sim na mudança da atitude interna para uma nova consciência individual, e que sem essa transformação, fica invalidada qualquer tentativa do se autoconhecer, e subsequente a autorrealização ... de conhecer a verdade sobre si mesmo, viver essa verdade e se libertar.
Diz Rohden na apresentação do livro, que: “Segundo a concepção cósmica da filosofia oriental, toda a atividade do homem profano é fundamentalmente trágica, cheia de culpa, porque quem age é o ego tirânico, e esse ego é uma ilusão funesta, e tudo o que o ego ilusório faz é necessariamente negativo, contaminado de culpa e maldade.
Se esta é a atividade do homem profano, então estamos diante de um dilema inevitável: ou agir e onerar-se de culpa – ou não agir e assim preservar-se da culpa.
Grande parte da filosofia oriental optou pela segunda alternativa do dilema: não agir, entregar-se a uma total inatividade, abismar-se numa meditação passiva, a fim de não aumentar débitos negativos.
A Bhagavad Gita, porém, não recomenda nenhuma dessas duas alternativas: nem o não-agir e preservar-se da culpa, nem o agir e cobrir-se de culpa. A Gita recomenda um terceiro caminho: o do agir sem culpa, que é o caminho do reto-agir, da observância de todos os mandamentos e leis, da liberdade, do respeito, da responsabilidade, do amor e, sobretudo, do desapego, equidistante do falso-agir e do não-agir.
Como pode então, o homem agir sem se onerar de culpa?
O falso-agir é um agir por amor ao ego tirânico; mas o reto-agir age por amor ao Eu, embora através do ego, e assim a sua atividade não é carregada de culpa.
O reto-agir, por amor ao Eu verdadeiro, não cria uma nova culpabilidade no presente e no futuro, e neutraliza também as culpas do falso-agir do passado, libertando assim o homem de todos os seus débitos.
É nisso que consiste a suprema sabedoria da Bhagavad Gita. Mas para que o homem possa agir assim, por amor ao Eu verdadeiro, deve conhecer esse Eu, deve conhecer a verdade sobre si mesmo.
É o que Krishna explica a seu discípulo Arjuna através do diálogo neste poema metafísico; autoconhecimento para tornar possível a auto-realização pelo reto-agir.
A quintessência da Bhagavad Gita é, pois, um convite para o reto-agir, porque o homem não se realiza nem pelo não-agir, nem pelo falso-agir. Sua alma é um poema de autorredenção pela auto-realização baseada em autoconhecimento.
Homem, conhece-te a ti mesmo! Homem, realiza-te!”
Fala Krishna:
--- Somente aquele que possui domínio sobre seu mundo interno de desejos pessoais, que é disciplinado no comer, no dormir, no vigiar, no descansar e no divertir-se, esse conseguirá através do exercício de yoga e meditação a libertação de todos os males, e está focalizado em seu Eu supremo... esse é um liberto.
--- Assim como a chama não bruxuleia quando num lugar abrigado do vento, o mesmo acontece com o coração quando isento dos vendavais dos sentidos e ardendo em amor divino, rumo às alturas do Eterno.
--- Quando, graças à contínua meditação e ioga, o coração encontrou repouso naquele lugar onde reina a compreensão, onde o espírito sublime contempla a si mesmo e tudo encontra dentro de si mesmo;
--- Quando a alma experimenta o gozo que transcende o alcance dos sentidos e do intelecto e só é conhecido pela alma na própria alma – essa consciência da verdade que o homem espiritual nunca mais perderá;
--- E quando o homem alcança essa meta e tem a verdade em maior apreço do que todos os tesouros, e nela persevera inabalável, de maneira que nenhum sofrimento o torne infeliz;
--- Então ele sabe que a perfeita yoga e meditação o torna imune à maior das dores, e que essa meta se alcança por meio de energia e perseverança.
--- É necessário que ele arranque do coração todos os devaneios e todas as vacilações, toda a ganância, vaidade e mania de grandeza, que feche e vigie todas as portas por onde o mundo dos sentidos possa lhe invadir a alma.
--- Então ele se aproxima do santuário, passo a passo, e conhecerá as belezas da paz que habita no coração perfeitamente dominado, lá onde impera soberana a verdade e onde a alma goza da verdadeira liberdade.
--- E ainda que a mente volúvel se rebele e tente fugir para longe, a alma se disciplinará pela força do amor e a reconduz ao Ser Supremo.
--- Penetra na alma inefável beatitude quando o coração, livre de ilusão, une-se ao Creador e se despe de qualquer desejo.
--- Quem assim se oferece em holocausto ao Creador, e vive em permanente união com Ele, experimenta em si a ilimitada beatitude que a divina presença plenifica.
--- Integrado no Creador, ele vive vida divina e percebe o espírito Dele em todas as criaturas, porque sabe que todas as coisas têm Nele o seu íntimo ser.
--- Quem me enxerga como o Uno e o Único em todas as coisas, e vê todas as coisas em mim, a Suprema Realidade, este vive firme em mim, e eu vivo firme nele, sejam quais forem as condições da sua vida externa.
--- Eu sou a imanente Realidade em todos os seres; quem me cultua como o Uno e o Absoluto, em tudo permanece em mim, independentemente das vicissitudes da sua vida aqui na Terra.
--- Ó Arjuna! Aquele que, entre alegrias e sofrimentos, paira soberano na força do conhecimento de mim, o Uno e o Único, esse é o mais perfeito dos homens espirituais.

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