Wednesday 22 April 2020

SABER VIVER

O texto abaixo, revisado e acrescentado, é de uma homenagem feita pelo Dr. Moacir Cunha durante o encerramento do curso de Filosofia administrado por Huberto Rohden em São Paulo, Brasil, em 1961.

Saber viver é a arte que menos gênios produziu, de tão difícil e complicada que ela é. Por isso mesmo, é extensa a gama de filosofias da vida; vai do extremo egocentrismo simbolizado pela expressão: “depois de mim, o dilúvio”, ao extremo misticismo, definido pelo dístico escrito no pórtico de um convento de frades trapistas na França, que vivem mortos para o mundo: “O prazer de morrer sem pesar, compensa o pesar de viver sem prazer”.
A fonte dos grandes males que assolam o homem é causada pela não contensão dos desejos do indivíduo ... se quer, quer, e se quer cada vez mais e mais, numa ganância exacerbada, sem dar o devido valor ao que já se tem. Uma reflexão sobre essa situação do querer, vem imediatamente em benefício próprio e no dos demais semelhantes. Outro grande mal que exige orientação, é o fato de que o homem raramente analisa os atos de seu semelhante, e parte para as críticas, perdendo a oportunidade de aprender com os erros alheios. A inveja é outra grande doença.
O mais imediato que se deve fazer, independente das circunstâncias, é, sobretudo, procurar fazer aos outros o que gostaríamos que fizessem a nós, ou seja, colocar em prática a ética do segundo mandamento.
Constâncio Vigil, famoso escritor uruguaio de literatura infantil, certa vez escreveu: “Nos causa espanto encontrar um ser humano bom e não termos vergonha do espanto que sentimos”. Procuremos ser esse ser humano bom, agora, quando a humanidade se acha dominada pela ânsia de enquadrar nos limites estreitos de uma vida, todas as possibilidades de usufruir prazeres; quando é desenfreada a carreira para o sucesso, em qualquer de seus aspectos, obtido à custa do endurecimento dos corações.
O ser humano deve se convencer intimamente do sábio conselho do Eclesiástico: “Quem quiser ser rico, não aumente na riqueza, mas diminua na cobiça”. E aprenda que as grandes e duráveis satisfações se originam de pequenas coisas que, realmente, não surgem para os que não são capazes de descobri-los e de compreende-los. É no mundo imenso das coisas pequeninas que se extraem as mais serenas alegrias e o assunto para as mais proveitosas meditações.
Portanto, vale aqui repetir o adágio: “Não acha o que encontra quem não sabe o que procura”.

Nota:
Thomas Merton foi um monge trapista franco-americano, escritor, teólogo, místico, poeta, ativista social e estudioso de diferentes religiões além de espiritualista. Era também pacifista, advogava justiça social e vivia uma vida monástica de intensos momentos de meditação e silêncio interior. Escreveu diversos livros sobre espiritualidade e sua obra mais reverenciada é A Montanha dos Sete Patamares.

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