Em Abril de 1926, Huberto Rohden, enquanto estudante de Filosofia na Universidade de Innsbruck, Áustria, junto com o Professor Aloisio Gatterer, filósofo, estudioso em forças ocultas do microcosmo humano, pesquisas psíquicas e mediúnicas, empreenderam uma viagem de estudos à cidade de Graz onde viveu uma das mais famosas médiuns do século passado, Maria Silbert.
As sessões eram geralmente realizadas a noite, em uma sala fechada na residência da médium na presença de oito especialistas nas áreas de Psicologia, Filosofia, Teologia, Química e um ex-conselheiro imperial da Áustria, também da Universidade de Innsbruck.
Na discussão desses fenômenos, Rohden passava horas dialogando com um outro eminente estudioso da área, John Godfrey Raupert, cientista da Sociedade de Pesquisas Psíquicas de Londres. Faziam parte desses estudos, a investigação sobre fenômenos de transmissão de pensamento, fenômenos luminosos, materializações espirituais e de objetos, mensagens espirituais e uma particular sessão de identificação de auras pessoais.
“Um dos estudos mais interessantes que fiz, nessas longas noites de sessões meta psíquicas, para físicas ou ocultistas, foi a investigação das auras humanas.
Sentávamos sem lugar definido em volta da mesa e depositávamos no chão da sala, debaixo dessa mesa, pequenos objetos, como relógios, canivetes, cigarreiras, que depois de algum tempo desapareciam misteriosamente, sem que a médium fizesse o menor movimento, pois seus movimentos de mãos e pês eram por nós, rigorosamente controlados. Desapareciam - e logo reapareciam, descendo lentamente de cima, suspensos no ar. Maria Silbert, pegando o objeto, colocava-o com infalível acerto, diante do dono, o que nos surpreendeu sobremaneira, pois ela nunca vira o objeto antes, que fora colocado debaixo da mesa antes de sua chegada à sala.
Num desses dias, vivamente interessados no estudo das auras, sobre as quais havíamos examinado abundante literatura, o Prof. Gatterer e eu fomos a uma loja comprar pequenos artigos de souvenir para servirem nos fenômenos de telecinesia (movimento de objetos sem o aparente contato de nenhuma fonte). Para não impregnar com a nossa aura esses objetos, mandamos embrulha-los em papel, e assim os carregávamos cautelosamente por meio de um barbante onde o objeto ficava pendurado, e revezávamos o transporte, entre nós dois, para que, se mesmo assim apanhasse auras, tivesse duas espécies de auras e dificultassem ao médium a identificação.
Antes da sessão, na ausência da médium, colocamos esses objetos debaixo da mesa. Em dado momento, subiam e eram apanhados no ar por ela - e ela não sabia quem era o dono. Colocava o objeto ora diante de mim, ora diante do Prof. Gatterer, deixando-o, por fim, entre os dois, sobre a mesa, pois a médium era capaz de perceber uma fração infinitesimal de aura que a nossa proximidade possa ter “contaminado” os objetos, e até distinguia essa aura dupla, que a desorientava.
Estava assim provado experimentalmente que a médium identificava o dono de qualquer objeto pela aura.
Isso me faz pensar em certos fenômenos da vida social.
A presença de determinadas pessoas nos inspira instintiva simpatia, ao passo que a de outras nos enche de antipatia, mesmo sem nenhuma razão externa. Algumas pessoas nos perturbam, outras nos acalmam. Umas nos elevam, outras nos deprimem, sem proferir uma só palavra. Umas são benéficas, outras maléficas, sem culpa nem mérito dessas pessoas. Possivelmente, se trata de uma constelação de auras, de um invisível jogo de fluidos pessoais. Pode haver entre duas ou mais pessoas auras de atração ou repulsão, segundo a natureza íntima desses elementos difíceis de se avaliar. Assim como na física da luz, do som, da eletricidade, há sobreposição e interferência de ondas, uma produzindo intensificação, e outra uma diminuição - assim poderá haver também no plano psíquico e espiritual uma espécie de sobreposição ou de interferência de ondas, resultando daí uma harmonia ou uma desarmonia de auras, e, consequentemente, uma sensação agradável (simpatia) ou uma sensação desagradável (antipatia). Em caso de perfeito equilíbrio ou extinção recíproca, teríamos talvez um fenômeno de apatia. Tudo isso se passa na zona do nosso subconsciente, longe do alcance do vigilante controle do nosso Eu consciente.
“Incompatibilidade de gênios” dizem os casados, e outras pessoas de nossa convivência diária, quando, talvez, deveriam dizer: “Falta de auras complementares.”
Há casos em que as auras, a princípio incompatíveis, se compadecem mais tarde, sintonizando aos poucos as suas ondas discordantes - como também acontece o contrário, sucedendo à onda inicial de harmonia, outra de desarmonia e incompatibilidade.
Se, na área psicofísica das auras e dos fluidos, vigora a mesma lei que acontece na eletro-física, deveríamos apelidar de “simpatia” o consórcio de duas ondas heterogêneas, e, por isso mesmo, complementares - e “antipatia” o encontro de duas ondas homogêneas, e, portanto, não complementares, assim como na eletricidade dois polos iguais (sejam positivos: + +, sejam negativos: - -) se repelem, e dois polos desiguais (+ -) se atraem, assim acontece, possivelmente, também no terreno psíquico. De maneira que, para haver instintiva simpatia entre duas pessoas deveria haver certa disparidade de auras, dois fluidos diferentes, mas complementares um do outro, e que, quando unidos, formassem um todo completo, harmônico.
A atração de sexos não tem, certamente, como base inicial a diversidade fisiológica, mas sim, na distância das auras, que encontram na aproximação do polo contrário uma atração veemente. Quanto mais pronunciada e característica for a masculinidade ou a feminilidade, tanto maior é a atração, ou, a paixão, porque há, de fato, antes uma permissão de potências inconscientes do que a ação de uma vontade consciente. Quando o potencial elétrico de dois polos desiguais é bastante elevado, esse potencial vence grande distância para se unir ao seu natural complemento - assim como auras poderosas não conhecem obstáculos quando em procura do polo correspondente.
A vida humana está entremeada de fatores invisíveis e incontroláveis. O nosso bem, ou mal estar psíquico e físico tem quase sempre sua sede principal nas regiões penumbrais do subconsciente, onde poderosos elementos originam sem cessar, invadindo a zona iluminada da nossa vida consciente. Julgamos agir em virtude deste ou daquele motivo - e somos agidos por forças ocultas que emergem do subsolo do nosso Eu.”
Nota:
- Quem quiser conhecer, com todos os detalhes, estas sessões em Graz, leia a interessante e profunda monografia intitulada: “Der wissenschaftliche Okkultismus und sein Verhaeltnis zur Philosophie” Alois Gatterer, 1927 Innsbruck
- John Godfrey Raupert publicou diversas obras em Inglês sobre fenômenos paranormais, entre elas: “CHRIST and the power of darkness.”
Texto revisado extraído do livro Por Um Ideal, volume I
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