Tuesday 3 May 2016

TER OU SER?


 Ter - ou Ser?
 
Duas atitudes eternamente incompatíveis.  O homem que tem algo não pode ser alguém e vice-versa.
 
O homem profano só conhece o ter, ou seja, um certo número de objetos quantitativos que estão ao redor dele no nível horizontal terreno, e que ele considera ingenuamente como sua propriedade.  O homem profano nada sabe de seu íntimo ser, de algo que não é dele, mas que é ele mesmo.  Alguém pode ter muitas posses terrenas, mas, ao mesmo tempo ser um mendigo indigente no nível vertical de seu ser divino.  De tanto ter, não chega a ser alguém.
 
Tudo quanto o homem possui de bens terrenos, o torna dependente e escravo; enquanto o homem tem algo que o mundo lhe possa tirar, ou deseja algo que o mundo lhe possa dar, não é definitivamente livre.
 
A idéia do meu nasceu com a idéia do eu; quando esse eu morre, morrem necessariamente todas as ilusões relacionadas com o meu.  Quem tudo é, nada tem; a intensa luminosidade do ser aniquila todas as trevas do ter.  Quem na realidade está em busca do reino dos céus e suas riquezas, nada tem e nada quer ter para si mesmo, embora possa prestar-se como administrador dos bens de Deus em favor de seus irmãos.
 
O que eu considero meu só tem função enquanto ainda vive em mim a noção do eu físico-mental; no momento em que o meu pequeno eu pessoal se afogar nas profundezas do TU divino e no vasto NÓS da humanidade, esse conceito de meu deixa de ter razão de existir.
 
Por isso, o homem que atingiu a plenitude do seu ser, pelo despontar da consciência cósmica, perde toda a noção de posse e propriedade.  Nada adquire e nada perde.  O fluxo e refluxo incerto de lucros e perdas deixou de existir para ele, e com isso foi eliminada a fonte principal da inquietação que atormenta os profanos.  Nada possui que o mundo possa lhe tirar, e nada deseja possuir que o mundo lhe possa dar.  Entretanto, se as circunstâncias terrenas o nomearam administrador do patrimônio de Deus e da humanidade, esse homem administra com a máxima solicitude esse patrimônio terrestre universal.
 
Pela mesma razão, o homem que se despojou das suas possessões, pela maturação do ser não experimenta a menor dificuldade nem tristeza em passar para outras mãos a administração dos negócios temporários que lhe foi confiado.
 
O grande industrial norte-americano R.G. Le Torneau*, fabricante de possantes máquinas de terraplenagem, mandou colocar sobre a entrada de uma de suas fábricas a seguinte afirmativa:  “Não digas: Quanto do meu dinheiro eu dou a Deus? Dize antes: Quanto do dinheiro de Deus eu guardo para mim?”
 
Esse homem descobriu que nós não temos dinheiro algum, mas que todas as coisas do mundo são de Deus; entretanto, pode o administrador dos bens de Deus tirar para si uma pequena “comissão”. Le Torneau, no princípio, tirava uma comissão de 90% para si, dando 10% a Deus, para fins de altruísmo e religião; por fim inverteu as quotas, dando 90% para Deus e guardando 10% para si, e mesmo assim, desses 10% ele não se considerava proprietário, senão apenas administrador, porque também esse dinheiro pertencia a Deus e à humanidade.
 
O EU verdadeiro, divino, nada sabe de possuir, porque o apogeu do ser, provoca o nada do ter.
 
Nota:
 
* Os contemporâneos de Le Torneau o qualificavam de “O homem de negócios de Deus”.
 
Texto extraído do livro Assim Dizia o Mestre

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