É o título do livro escrito por Mouni Sadhu, publicado no Brasil pela Editora Pensamento em 1954, a partir da primeira edição em Inglês, In Days of Great Peace - The Highest Yoga as Lived, de 1952.
Por vários anos, o autor se aprofundou nos ensinamentos de um dos maiores ascetas da Índia, e foi uma das melhores tentativas de um europeu, junto com Paul Brunton, a descrever sem detalhes técnicos, o que foram esses ensinamentos. O livro teve intensa repercussão entre os leitores brasileiros, pois revelou a vivência do autor com um dos mais respeitados homens santos da Índia, Sri Ramana Maharshi. Neste livro, Mouni Sadhu revela a experiência real de um homem desejoso de conhecer o significado e as influências de estar na presença física de um grande sábio, mas não tenta registrar nenhum de seus ensinamentos, apenas as palavras ditas, conhecimento e interpretações. O autor experienciou apenas sua vivência pessoal e as vibrações emanadas de Maharshi ... seu olhar, seus gestos, seu profundo silêncio, que era quebrado eventualmente, com palavras ditas que saiam da presença da Presença Divina que interagia em seu próprio ser, livre de todas as algemas do ego tirânico que prendem o homem profano.
Mouni Sadhu evitou usar termos técnicos de Yoga clássica, que poderiam confundir o leitor não familiarizado, pois para transmitir assuntos espirituais é necessário evitar sobrecarregar a mente, que desvia a atenção e a mensagem principal não é absorvida.
No prefácio, aqui transcrito em parte e com a finalidade de inspirar ainda mais a leitura de Dias de Grande Paz, o Dr. M. Hafiz Syed, um dos devotos de Maharishi, afirma que a maior parte das pessoas não tem fé nos valores espirituais, pois para elas, a mente é tudo e a mente as leva para inúmeras reflexões e especulações. Alguns se dizem céticos, outros se orgulham de serem materialistas, porém, a Verdade é encoberta pela nossa ignorância e nós não a buscamos com a devida insistência. Tendo exercitado o nosso intelecto até o limite, pensamos não haver esperança para investigações e descobertas mais amplas. Quase todos os seres humanos espiritualmente maduros, indicaram o caminho, e ao segui-lo, podemos estar eventualmente livres de toda incerteza e compreender o sentido e a razão de ser da vida. Apontam o caminho, mas estabelecem requisitos definidos para alcança-lo.
O primeiro requisito é o desejo sério de beber da fonte da água da Vida, começando por auto investigação. Quando perguntado sobre esses requisitos, Maharishi disse: “Que o aspirante às coisas da Verdade deve ter o intenso e incessante anseio de liberta-se das misérias da vida e de obter suprema beatitude espiritual, e que não deve ter o menor desejo para outra coisa”.
O segundo, é o esforço incessante acompanhado da cuidadosa observância das regras de conduta e o cultivo das virtudes do desprendimento e do discernimento.
O terceiro, é a busca de um Mestre, uma seta no caminho que indique a direção. No entanto, a presença de um Mestre, apesar de importante marco nessa peregrinação ao mais alto, cumpre apenas o papel inicial. “Vós Sois Deuses”, advertiu o maior dos Mestres que a humanidade conheceu, pois o Mestre habita dentro de nós mesmos.
Mouni Sadhu parece ter preenchido todos os requisitos possíveis. Como aspirante sério, seguiu diversos métodos sobre a realização em Deus, de diversas escolas e finalmente encontrou seu Mestre. Assim, Maharishi, achando-o preparado, lhe concedeu a sua graça, erradicou a egoidade do discípulo (conforme afirma o próprio autor) e sedimentou seu Eu eterno e permanente.
De acordo com o Dr. Syed, existem duas espécies de fé racional na realidade da vida espiritual:
1)- a fé indireta, da qual temos referências dos aspirantes à Verdade, que tiveram a coragem, persistência e vontade de lutar e encontrar o espinhoso caminho do autoconhecimento e posterior auto-realização.
2)- a fé nascida da experiência direta, algo que não permite possibilidade de dúvida e nem negação.
Dias de Grande Paz, é uma preciosa evidência da fé indireta, a qual temos que investigar atentamente e verificar por nós mesmos, pois essas experiências foram redigidas com meticuloso cuidado.
Movido pelo sentimento de servir e pelo desejo de repartir com outros, experiências e convicções resultantes de seu conhecimento direto, ele concretizou pensamentos e sentimentos na forma deste livro inspirador e instrutivo. Os leitores interessados nessa mesma peregrinação, encontrarão a evidência de alguém que ultrapassou as praias da ilusão.
Dias de Grande Paz, representa uma das melhores obras de um escritor europeu para descrever sem qualquer técnica, em que consiste a meditação e da sua habilidade de levar ao êxtase, e a relação entre o discípulo e seu Mestre. Revela seus próprios estados espirituais e mentais, e comunica ao leitor seus conhecimentos. O livro compreende 50 pequenos capítulos mais o Epílogo e desenvolve-se quase todo em torno de anotações colhidas diariamente, e interessantes incidentes ocorridos com o autor. É sem dúvida um movimentado relato biográfico da convivência entre um discípulo e seu Mestre, onde o silêncio era a maior presença.
Dias de Grande Paz é um livro que se recomenda a todo estudioso sério das coisas mais profundas da Alma, além de uma viagem aos confins de um país que deixou um legado de grandes homens espirituais, onde o mais importante reside na mensagem que fica no leitor, convidando-o ao autoconhecimento e inevitável auto-realização ... em síntese, da ignorância para a sabedoria.
Devido a repercussão desse livro, os editores brasileiros convidaram Huberto Rohden para prefaciar a nova edição de 1954, o que resultou numa completa revisão e notas de rodapé, resultado que contribuiu ainda mais para garantir o preciosismo deste livro.
Segundo Rohden: “este é, sem dúvida, um dos mais preciosos livros escritos por um homem que teve experiências profundas da realidade espiritual aos pés de um grande iniciado do século 20. O maior valor deste livro está em seu caráter de vivência genuína e imediata; o autor não tenta oferecer aos leitores algo que tenha pensado sobre Ramana Maharshi; não tenta sequer interpretar a seu modo a doutrina do Mestre. Não, ele simplesmente reflete, como um espelho fiel, o que sentiu, viveu, sofreu e saboreou, naqueles momentos de inefável e anônima benção, em profundo silêncio e total ego vacuidade, quando se achava sentado na penumbra do templo de Arunáchala, sem nada pensar nem querer, mas permitindo simplesmente que a invisível plenitude espiritual do Mestre fluísse da sua fonte cósmica e se derramasse espontaneamente nos canais do discípulo receptivo. Mouni Sadhu, nesses momentos eternos, deixava de ser ego-pensante, ego-vivente, ego-agente, e tornava-se Cosmo- pensado, Cosmo-vivido, Cosmo-agido, como se diz na linguagem da Filosofia Cósmica, embora o autor não se sirva destas palavras.
Sendo o autor, naquela época, ainda vivo, acrescentou à última edição do original inglês um capítulo novo intitulado “O Caminho Direto”, e cancelou o capítulo “Adyar”, que figurava em edições anteriores. Também a sequência de outros capítulos difere da ordem que os leitores brasileiros talvez conheçam. Mas o conteúdo do livro é sempre o mesmo, de fascinante autenticidade e vivência imediata da Realidade.
A presente edição em Português tem como base a mais recente versão inglesa.
Quanto à forma literária, fui convidado pelo atual editor a submeter o texto antigo a uma criteriosa revisão, trabalho que resultou em uma tradução quase inteiramente nova, de acordo com a última edição do original feita sob o patrocínio do autor.
Dias de Grande Paz pode ser o início de uma grande paz, de uma “paz que o mundo não pode dar”, para todo leitor que viva e assimile o seu conteúdo, em dias de profunda interiorização. O foco central do livro é o autoconhecimento, manifestado em auto-realização; é o ... “homem, conhece-te a ti mesmo”, quintessência da filosofia da Grécia; é o eterno “homem, torna-te dinamicamente o que és potencialmente”, que é o imperativo categórico da mística oriental e da psicologia ocidental. O alfa e ômega deste livro coincidem com a própria alma do Evangelho de Jesus, unificado nos “dois mandamentos em que consistem toda a lei e os profetas”, na sublime vertical do “primeiro e maior de todos os mandamentos” (autoconhecimento), e na vasta horizontal do “segundo mandamento” (auto-realização) — a mística revelada em ética.
A Humanidade debate-se num caos sem precedentes, procurando uma saída do labirinto dos seus problemas. Mas a única saída real, a única solução dos dolorosos problemas em que o homem se debate, é o que mais importa em todas as páginas deste livro: não é, em primeiro lugar, a reforma religiosa e social da humanidade, mas sim a conversão individual do homem. Enquanto o homem não fizer dentro de si mesmo o grande tratado de paz, da paz doméstica, social, nacional, internacional, não poderá haver paz fora dele. A história multimilenária da humanidade resume-se em guerras e armistícios — mas não a são verdadeira paz. Armistícios que culminam em guerra, guerra que termina em armistício — é este o eterno círculo vicioso da humanidade-ego, porque o homem-Eu não estabeleceu a verdadeira paz dentro de si mesmo, o definitivo tratado de paz entre o seu ego humano e o seu Eu divino; o homem não proclamou ainda a soberania da sua substância divina sobre as tiranias das circunstâncias humanas, e por isto a humanidade só conhece a “guerra fria” dos armistícios ou a “guerra quente” nos campos de batalha.
É necessário que o homem tenha a sinceridade de rezar a humilde confissão da própria culpa, que desperte em si o “príncipe da paz”, o seu Cristo interno, o seu Pai, a Luz do Mundo, o Reino de Deus, que sempre esteve nele, mas que o homem-ego não despertou nem conscientizou devidamente.
Culpa gera sofrimento, mas o sofrimento, devidamente reconhecido e aceito, pode ser o prelúdio da redenção.
A humanidade, violenta e sufocada pelo abuso do seu livre arbítrio, está sofrendo as consequências da sua própria culpa, e segundo o Evangelho e as profecias, é este apenas “o início das dores”; os videntes falam de horrores crescentes que culminarão com uma catástrofe sem precedentes ... O que não for ouro desaparecerá, e ouro é o autoconhecimento dos mestres: “amarás o Senhor teu Deus com toda a tua alma, com toda a tua mente, com todo o teu coração e com todas as tuas forças”; auto-realização é o resultado da ética transbordante na mística: “amarás o teu próximo como a ti mesmo”.
Dias de Grande Paz é um brado de alerta para a humanidade culpada e sofredora — e ao mesmo tempo um raio de esperança para a “nova humanidade remida”. O leitor que estudar as páginas deste livro atentamente sentirá a vitalidade eterna e a poderosa evidência dessas verdades profundas que a humanidade precisa hoje mais urgentemente do que nunca.
Oxalá o homem-ego de hoje seja o prelúdio do homem-Eu de amanhã!
E a verdade dará testemunho de si mesma.”
Nota:
Mouni Sadhu, cujo significado é Silencioso - Mouni, homem santo, Sadhu, monge, ou Monge Silencioso - é o pseudônimo de Mieczyslaw Demetriusz Sudowski, nascido em 1897, Varsóvia, Polônia, onde permaneceu até 1945, antes da segunda guerra mundial. Foi um estudioso de assuntos espirituais, místicos e esotéricos. Após deixar a Polônia, foi viver em Paris, e lá ganhou de presente, o livro A Índia Secreta, de Paul Brunton decidindo, assim, conhecer esse país; em 1949 passou convivendo com Maharishi. Mas antes dessa viagem, também viveu no Brasil, em Curitiba, Paraná, onde escreveu seu primeiro livro, “Quem Sou Eu?” de 1947. Em princípios de 1950, migrou para a Austrália, vivendo em Melbourne, dando continuidade a seus estudos e escrevendo livros, onde faleceu em 1971.
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