Saturday 30 May 2020

“NÃO CONSIGO RESPIRAR” – George Lloyd

“Nunca haverá tempo disponível no futuro, para trabalharmos nossa salvação. O desafio está no momento; agora, é a hora.” James Baldwin
O ano de 1619, marcou, segundo os historiadores - em particular Leo Huberman, no livro “Nós, o Povo” – que descreve de forma brilhante e acurada, o drama da colonização norte americana iniciada no descobrimento, em todos os seus aspectos e em particular, a chegada dos primeiros escravos forçadamente vindos da África, para adoçar o apetite ganancioso dos interessados em fazer riqueza fácil num pais de muitos recursos, longe da matriz tirânica de alguns países europeus, e conquistado aos nativos indígenas que sucumbiram durante os massacres do explorador.
E a saga de todos esses 400 anos da exploração, do racismo, do preconceito, da segregação e da discriminação desencadeada contra as populações negras, continua. O país da Declaração Universal dos Direitos do Homem (onde o homem negro se inclui!), cerrou os olhos a um povo que foi e continua sendo um considerável contribuinte de toda riqueza criada, em todos os aspectos e atividades, deixando um imenso legado na história dessa nação.
Desde o mais modesto movimento de reconhecimento enquanto ser humano, e que deixou muitos mártires, do circo de horrores onde homens negros eram enforcados em galhos de árvores parecendo “frutas estranhas”, mulheres e crianças assaltadas em suas sacralidades, segue essa procissão considerada e chamada de miseráveis e inferiores, sendo conduzidas pelo látego do homem branco. O movimento de desobediência civil de Thoreau, a grande marcha liderada por Martin Luther King (esse brilhante humanista e discípulo de Gandhi) e outras lideranças negras pelo movimento dos direitos civis, algumas tentativas de líderes políticos brancos em amenizar essa saga e chaga que se tornou indelével na história dos Estados Unidos, nada resolveu até os dias de hoje, fazendo continuar essa mancha na moral e na ética fragmentada de um país chamado cristão, cuja ética do segundo mandamento foi substituída pela segunda alteração de sua constituição.
A humanidade que se conhece, não é, de forma alguma, “feita à imagem e semelhança de Deus”, a que se refere o Gênesis. Não se pode ver no homem, a “coroa da creação” - nesse animal bípede ligeiramente intelectualizado do pescoço para cima, cuja inteligência, o tornou o mais perigoso animal do planeta, pois a sua vasta maioria ainda vive a se rastejar pelas planícies estéreis da mediocridade. Segundo Huberto Rohden, brilhante humanista brasileiro, “a intelectualização do instinto fez do homem um monstro de ganância e agressividade, cujas garras e dentes se aperfeiçoaram na forma de armas de destruição em massa; essa intelectualização fez do homem uma repugnante caricatura de sexualismo libertino e um inferno de doenças físicas e mentais, que nenhum outro animal não humano conhece ou experienciou.”
A chamada supremacia branca jamais irá existir! A arrogância e ignorância de vasto setores de todas as sociedades guiadas pelo poder do homem branco, não tem a habilidade de compreender que a cor da pele, hábitos e costumes culturais são apenas uma circunstância geográfica; o ser humano é um só, em todos os lugares do planeta. Advogar essa supremacia branca é apenas uma cínica e hipócrita metáfora para o poder. A humanidade nunca vai ser apenas branca, vai ser negra também, vai ser amarela, vermelha e todas as outras nuances de cores apresentadas pela miscigenação.
Por mais quanto tempo ainda iremos presenciar essa lamentável marcha de desgraçados com destino incerto, pois rasgou de sua identidade, seu próprio endereço, se submetendo, aceitando, e o que é pior, se adaptando às circunstâncias de seus próprios horrores!
Por mais quanto tempo viverá a sociedade humana sendo sufocada pelo peso de sua própria ignomínia?

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