Wednesday 27 May 2020

O CAMINHO DIRETO

O texto abaixo se refere a um dos capítulos do livro Dias de Grande Paz - Vivência da Mais Alta Yoga, escrito por Mouni Sadhu (1), sobre as práticas, posturas e exercícios de yoga, experiência que o autor obteve durante sua convivência com um dos maiores sábios indianos, Sri Ramana Maharshi.

“O grande sábio indiano, Bhagavan Sri Ramana Maharshi - diferentemente da maioria dos iogues e muitos santos dos dias atuais - não recomenda práticas de yoga, como condição para a mais elevada e duradoura realização espiritual, que ele chama de “Auto-realização”.
Ele descarta a partir desse objetivo, todas as posturas incomodas, exercícios de respiração, controle das correntes do “sopro da vida”, no corpo humano assim como da própria natureza. Na verdade, ele sequer as menciona em suas palestras. (2)
Assim, O Caminho Direto para a realização espiritual, como mostra o Maharshi, não exige do corpo, quaisquer posturas antinaturais, muitas vezes tão difíceis de serem executadas pela maioria das pessoas; nenhum dos esforços dos exercícios de yoga, alguns até perigosos, a menos que sejam praticados sob a supervisão direta de um professor competente, e sem as práticas mentais artificiais de concentração. Todas essas práticas não levam a lugar algum, a menos que acompanhadas dos elementos de iluminação espiritual.
Vejo claramente que essas práticas pertencem a um círculo fechado e místico. Durante anos, alguns dos meus amigos ocultistas mais próximos, praticaram vários tipos de “yoga não convencional”, mas sem qualquer resultado digno de nossos esforços. Claro, alguns desses exercícios eram bons para nossa saúde física, especialmente para acalmar os nervos, cultivar uma bela voz ... e assim por diante.
Mas essas vantagens só permaneciam conosco a menos que continuássemos regularmente na realização dos exercícios. Uma pausa por algumas semanas acabou nos privando de todos os esforços benéficos que tínhamos ganho, resultando assim numa perda de tempo. Nenhuma verdadeira e permanente paz de espírito pode ser obtida, apesar de termos feito o uso intenso e repetindo as melhores orações.
Sri Ramana Maharshi afirma que o controle da mente, alcançado por qualquer forma, será apenas temporária, pois a mente invariavelmente retornará às suas atividades espontâneas. “O que não é natural”, ele diz, “não pode ser permanente, e o que não é permanente não vale a pena ser perseguido.” Somente o exercício do autoconhecimento é que permite o controle da mente, de forma definitiva.
Quem em sã consciência poderá discordar com Maharshi? Quem não vê que não há nenhuma possibilidade ou esperança de realização com métodos inadequadamente praticados? Simplesmente porque para essas pessoas não existe tempo para o único instrumento de trabalho adequado, o autoconhecimento.
A vida é muito curta para perdermos tempo quando estamos a trabalhar intensamente no sentido da realização. Além disso, para a maioria dos iniciados, tanto do Oriente quanto do Ocidente, práticas ocultas complicadas invariavelmente exigem um rearranjo diferente na vida cotidiana, geralmente muito difícil de organizar.
Essas centenas de exercícios, posturas, orações, invocações e meditações, são todos incompatíveis com os recursos e possibilidades de vida normal de uma pessoa normal. Poucos iniciados possuem riqueza suficiente para permitir que possam se aposentar completamente das atividades externas deste mundo visível.
Mas O Caminho Direto, à maneira do Maharshi, é possível e adequado para aqueles que são suficientemente maduros para o seguir, não importando se homem ou mulher, jovem ou velho, rico ou pobre, culto ou analfabeto.
Esse caminho pode ser seguido secretamente, para que o mundo exterior nunca saiba que a pessoa está envolvida em uma procura profunda e intensa. Isto significa que existe uma redução ao mínimo, dos obstáculos externos permitidos pelo karma de outras existências do homem.
Não importa a quantidade de livros que se leiam sobre o assunto. A multiplicidade de teorias com suas inúmeras informações, as muitas seitas e religiões, com as invariáveis hostilidades entre elas - não importando quão habilmente essas desagradáveis qualidades vem disfarçadas, mas sempre mostrando entre elas, a falta de unidade.
Mas O Caminho Direto, nos dá imediatamente uma visão clara do nosso objetivo final e único. O processo de aquisição de virtudes é invertido. Nós não precisamos procura-los, pois eles se apresentam a nós, na medida de nosso progresso ao longo do caminho.
É apenas O Caminho Direto que nos revela, desde o primeiro passo, para onde estamos indo e por quê. A nossa renúncia deste mundo irreal, embora não geralmente conhecido por aqueles que nos rodeiam, adquire um caráter natural e razoável, e não de uma imaginação ou de um sonho vago.
Sri Ramana Maharshi apoia a teoria que reconhece apenas uma coisa real, o Atman, o Eu ou espírito. O Mestre do O Caminho Direto, Sri Ramana Maharshi, sentado agora em seu sofá diante de mim, é o maior destruidor de ilusões.
Quando percebemos que existe um caminho infalível para a meta final, a alegria desse conhecimento é prodigiosa. Esta é a água que sacia a sede humana. Aqueles que buscam vão encontrar. Mas essa busca deve ser para o mais alto e não apenas para mais ou menos exaltadas ilusões.
A virtude suprema do discernimento, da avaliação conveniente de outras teorias, desempenha um papel predominante em tal busca. Pois, quando O Caminho Direto se torna visível, todos os outros caminhos desaparecem como se nunca tivessem sido procurados. Não há necessidade de qualquer tipo de “rejeição” por parte do discípulo. Ele simplesmente parece esquecer o que é melhor esquecer e de se lembrar apenas do que deve ser lembrado.
No fundo do nosso coração encontra-se uma fonte, tantas vezes dito por Sri Ramana Maharshi. Essa fonte pode ser comparada ao centro de um círculo, a partir do qual podemos ver em todas as direções, e, que a partir do qual nenhuma outra posição pode nos dar uma vantagem maior. Agora portanto, me conscientizo por que o caminho do Maharshi também é chamado de Caminho do Silêncio Interior.
“Homem, vai diretamente para a fonte de toda a verdade no seu centro espiritual do silêncio, o seu coração; pois a distância mais curta entre dois pontos é uma linha reta”, uma verdade mística está escondida por detrás dos princípios de base ou de partida e que é geralmente aceito como verdade.
Aceite essa verdade e O Caminho Direto se coloca imediatamente abaixo de seus pés. Não há necessidade de procura-lo em outro lugar. “Com um simples passo se começa uma viagem de mil quilômetros”, mas se esse primeiro passo não for dado, o viajante permanecerá em seu ponto de partida. Sem o conhecimento de “Quem Sou Eu?”, permanecemos espiritualmente estagnados.
O Caminho Direto pode ser comparado a um rio caudaloso, fluindo calma e majestosamente para o Infinito Oceano do Nirvana, Brahman, Deus, a Fonte, o Creador, o Reino dos Céus, que é o objetivo último e único de todo Ser. Yoga, religiões, seitas, sistemas filosóficos, sociedades ocultas e espirituais, todos podem ser considerados como afluentes de um grande rio, e que depois seguem o seu curso comum rumo ao oceano.
Quem conhece O Caminho Direto não vai perder tempo seguindo outros caminhos. Todos os esforços serão concentrados na ideia de: “Como entrar na grande corrente que flui diretamente para o oceano”.”
___________
1)- Mouni Sadhu (1897-1971), pseudônimo de Mieczyslaw Demetriusz Sudowski, nasceu e viveu na Polônia até a eclosão da Segunda Guerra Mundial, forçando-o a imigrar para a Austrália (Melbourne), onde escreveu a maioria de seus livros. Mas antes, Mouni Sadhu viveu entre 1946 e 1948 no Brasil, onde publicou seu primeiro livro, "Quem Eu Sou", editado em Português. Além disso, uma interessante experiência de leitura sobre a vida do grande sábio indiano, Bhagavan Sri Ramana Maharshi, é revelado em um dos livros de Mouni Sadhu, em particular "Em Dias de Grande Paz", cuja tradução para o Português teve grande repercussão, de tal maneira que o editor solicitou ao filósofo brasileiro Huberto Rohden para escrever o prefácio da nova edição, e de acordo com Rohden, "Este é sem dúvida um dos livros mais preciosos escritos por um homem que teve profundas experiências da realidade espiritual aos pés de um grande iniciado de nossos dias. O valor original deste livro está em sua experiência genuína e imediata; Mouni Sadhu não tenta apresentar aos leitores algo que ele tinha pensado sobre Ramana Maharshi; nem mesmo tentar interpretar a seu modo, a doutrina do Mestre - não, ele simplesmente reflete, como um espelho fiel, o que ele sentia, viveu, sofreu e saboreou durante esses momentos de anônima e indescritível felicidade, em profundo silêncio, no esvaziamento total do ego, quando ele estava sentado dentro na escuridão do templo em Arunáchala, em nada pensar ou mesmo a desejar, mas simplesmente permitir que a integridade espiritual invisível do mestre Maharshi fluísse de sua fonte cósmica e derramar-se espontaneamente nos canais receptivo do discípulo. Mouni Sadhu, nesses momentos eternos, deixou de ser ego-pensado, ego-vivido, ego-agido... tornando-se Cosmo-pensado, Cosmo-vivido e Cosmo-agido.”
2)- De acordo com Paramahansa Yogananda, é uma centelha de energia inteligente, mais fina que a atômica, que constitui a vida, coletivamente referida nos tratados das escrituras hindus como prana, que ele traduziu como “vidatrons”. Em essência, são pensamentos condensados de Deus, substância do mundo astral e princípio da vida do cosmos físico.
Texto revisado e em parte extraído do livro Dias de Grande Paz

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