Thursday 24 February 2022

O LIVRE-ARBÍTRIO

 

Durante muitas décadas, e em particular nos anos 60 e 70, sempre muito informal, espirituoso e com excelente bom humor, já famoso e respeitado filósofo, teólogo, educador e escritor, polímata e poliglota, Huberto Rohden era frequentemente solicitado para entrevistas e palestras pelos meios de comunicação do Brasil.

 

Se destacam, entre elas, algumas bastante célebres transmitidas pela famosa jornalista brasileira Xênia Bier. Na entrevista abaixo, uma reflexão sobre o livre-arbítrio no homem.

 

 

Xênia - Professor Rohden, entre cientistas e filósofos, existe a discussão sobre o livre arbítrio do homem. Existe esse livre-arbítrio?

 

Rohden - Todos os livros que eu conheço sobre o assunto fazem uma permanente confusão entre liberdade potencial e liberdade dinâmica. Faz parte da natureza de todo ser humano normal, que seja potencialmente livre, mas ninguém nasce dinamicamente livre. Porém, ao nascermos, nós temos todos os ingredientes necessários para uma libertação dinâmica. 

 

A liberdade potencial é um presente de berço que todos recebem. No entanto, a liberdade dinâmica é uma conquista da consciência e que poucos conseguem realizar esse desafio. Muitos vão até o fim da vida e apenas têm a liberdade potencial que receberam ao nascer, mas nunca desenvolveram a sua liberdade de forma dinâmica.

 

Eu não creio que exista 1% da humanidade que tenha conquistado essa liberdade. Pois o grosso da humanidade não quer fazer um esforço de se libertar de sua escravidão tradicional. Nós somos escravos do dinheiro, do sexo, da sociedade, da cultura e escravos de muitas outras escravidões. Somos todos grandes escravocratas e grandes escravizados.

 

A lei que aboliu a escravidão negra é um fato histórico do passado. E quem foi que aboliu a escravidão branca, e a dos pele vermelhas, dos amarelos, enfim, a escravidão humana? Ninguém pode abolir por decreto. Agora, cada um pode tratar de abolir a sua escravidão individual e proclamar a libertação individual. Isto é possível. Mas quem é que faz? Não há 1% dos homens que são realmente livres. 99% são escravos até a morte.

 

X- E onde colocamos o livre-arbítrio nisso?

 

R- O livre-arbítrio existe desde o início, mas é apenas uma potencialidade – é matéria prima para o livre-arbítrio dinâmico. Mas quem não dinamiza o livre-arbítrio que recebeu como presente de berço, não se libertou, e o grosso da humanidade não se liberta, são escravos de tudo – não se libertam de nada.

 

Liberdade não quer dizer escapar das circunstâncias humanas... dinheiro, família, sociedade, cultura, instintos. Libertar está acima disso. Eu devo ser livre no meio dos escravos; eu posso ser puro no meio dos impuros. Isso eu chamo libertação. Não é fugir, não é abandonar – isto é covardia. Quem abandona confessa que é fraco. E fraqueza é escravidão. Eu tenho que ser livre no meio da escravidão.

 

X- Passar pela sarça ardente sem se queimar, que simbolicamente representa a passagem bíblica descrita no Livro do Êxodo, onde a sarça queimava, mas não foi consumida pelas chamas!

 

R- Mas, é claro, a fuga não é solução. Abandonar não é solução. Eu tenho que me libertar da sociedade no meio da sociedade. Eu tenho que me libertar da escravidão da família no meio da família. Eu tenho que me libertar da escravidão do dinheiro no meio do dinheiro. Isto eu chamo libertação. A libertação não é uma fuga, isto é covardia.

 

X- E o que é a libertação, professor Rohden?

 

R- A libertação é saber usar de tudo, mas sem abusar de nada, e isto é libertação. Usar de tudo sem abusar de nada. Abusar é proibido. Recusar é permitido. Usar é recomendado. É isto que eu chamo de liberdade. Usando de tudo o que é oferecido, mas não abusando de nada.

 

X- Mas professor, o senhor há de concordar comigo... ainda a pouco, eu li um trecho de Lao Tse, afirmando que quem assim age, sente-se só e perseguido. O senhor concorda?

 

R- Bendita solidão Xênia! Nós temos que entrar numa grande solidão para andarmos muito bem acompanhados.

 

X- Professor Rohden, é esta liberdade que o senhor propõe, não a que anda por aí?

 

R- Usar sem abusar, isto é liberdade.

 

X- Olhe, professor, eu ousaria dizer que eu sou livre, porque eu sou capaz...

 

R- De certo ponto, nós somos todos aprendizes da grande arte da libertação, aprendizes apenas, mas não formados. Somos principiantes da arte de nos libertarmos sem fugir de nada. Libertar-nos de tudo sem fugir de nada.

 

X- Eu nunca achei válido fugir, Professor Rohden.

 

R- Fugir é condição de fraqueza e de medo, e quem tem medo ainda é escravizado pelo medo.

 

X- Professor Rohden, eu estou lendo um livro que o senhor conhece e que comentei no programa passado: a Autobiografia de um Iogue Contemporâneo, de Yogananda. Mas muitas coisas, eu como ocidental, me assusto. E lembro de suas palavras: nem completamente espírito, nem completamente matéria. Para nós, os ocidentais, seria muito difícil a completa e total prática da filosofia hindu!

 

R- O hindu se mostra muito mais inclinado para o espiritualismo do que para o materialismo. Nós, os ocidentais, preferimos quase sempre o materialismo do que o espiritualismo. São dois extremos. Nós não podemos ser espiritualistas, também não devemos ser materialistas. Devemos estar equilibrados no meio, entre a matéria e o espírito, porque somos um composto de duas antíteses que devem ser sintetizadas. Há antítese de matéria e há antítese de espírito, mas a síntese é possível.

 

Nós devemos sintetizar harmoniosamente em perfeito equilíbrio a matéria e o espírito. Isto, nós chamamos de o homem cósmico, o homem integral, ou o homem universal. O Universo representa o Creador Infinito e a soma de todas as creaturas finitas. O equilíbrio harmônico entre espírito e matéria. Isto é que se chama Filosofia Integral. Tanto o oriental quanto o ocidental não alcançaram esta filosofia. Eventualmente, alguns indivíduos isolados, sim, mas não há um povo que tenha chegado. Não há um povo que seja espiritualista, não há um povo que seja materialista. Há indivíduos que fazem a harmonia entre espiritualidade e materialidade. Isto eu chamo usar de tudo sem abusar de nada. Isto é liberdade.

 

X- A divulgação da filosofia hindu aqui no Ocidente é válida? Excluindo-se os excessos, a exploração, é válida para ao homem do ocidente?

 

R- Não integralmente, não como um todo. Agora, nós os ocidentais, que somos mais favoráveis ao materialismo, devemos nos aproveitar de tudo o que há de espiritual, de aceitável na filosofia oriental, mas não trocar o ocidente pelo oriente. É um outro extremo!

 

A humanidade integral não é oriental, não é ocidental, não é materialista e nem espiritualista. Ela é equilibrada, harmonizada entre duas antíteses numa maravilhosa síntese equilibrada. Esse é o nosso ideal. Isto nós chamamos Filosofia Cósmica, que se revela na vida de cada dia. Não é a filosofia da caverna, das ruas, dos templos ou dos conventos, mas é uma síntese equilibrada entre dois extremos que devem ser harmonizados.

 

X- O senhor esteve nos Estados Unidos e foi aluno de um discípulo de Yogananda, o Swami Premananda?

 

R- Sim, estive 6 anos nos Estados Unidos. Premananda foi discípulo e amigo de Yogananda.

 

X- E o que o senhor acha do trabalho deles?

 

R- O trabalho deles é uma tentativa de síntese entre duas antíteses. Tanto Yogananda quanto Premananda, fazem o possível para harmonizar os dois extremos ocidental e oriental. Até que ponto irão conseguir, ninguém poderá dizer. Conseguem em alguns alunos individuais, não conseguem para a sociedade, é claro, porque nós não podemos converter os outros. Podemos converter a nós mesmos.

 

Com isso, eles estão fazendo um excelente trabalho, porque eles não são unilateralmente espiritualistas. Também não são unilateralmente materialistas como nós. Eles querem ser bilateralmente orientais e ocidentais, e equilibrados ao mesmo tempo. É a filosofia deles. A intenção e o caminho estão certos.

 

Agora, até que ponto isto se possa conseguir em pleno ocidente, sobretudo norte-americano que é terrivelmente materialista, mais do que nós, mais do que a Europa... Porque o americano é muito técnico e pouco cultural. Ele prefere sempre a técnica à cultura. Sempre prefere as coisas materiais ao mundo espiritual. É um campo difícil para trabalhar. E há poucos que conseguem fazer a síntese, o equilíbrio, a harmonia entre o material e o espiritual, que é justamente o homem integral, o homem que vive no meio do mundo material sem ser materialista.

 

X- Professor, como o senhor vê o Brasil?

 

R- O Brasil nos últimos 50 anos abandonou a cultura europeia por causa das duas guerras mundiais. Abandonou a influência dessa cultura e se deixou massivamente influenciar pela norte-americana. E esse é o grande mal da civilização brasileira.

 

Éramos influenciados pela cultura europeia, sobretudo francesa, que é muito mais avançada do que a americana. Mas, devido às duas guerras mundiais que assolaram a Europa, o Brasil se voltou mais para os Estados Unidos que não perdeu nada com a guerra; e se mecanizou em vez de se humanizar. Nós estamos cada vez mais mecanizados e cada vez mais desumanizados. E é influência dos Estados Unidos.

 

Eu fui convidado para reger em caráter permanente, duas cátedras na Universidade de Washington: Filosofia e Religiões Comparadas. Recusei, porque não me conformei com a tendência mecanizada deles, deixando a cultura de lado.

 

X- Mas, não é uma lástima?

 

R- É uma lástima porque é o dinheiro é que manda. A técnica depende do dinheiro. Os Estados Unidos são muito mais tecnológicos do que a Europa, e mais desumanizados também. E nós estamos seguindo o exemplo dos Estados Unidos. Em vez de termos a nossa cultura de pura brasilidade, estamos nos deixando arrastar pela mecanização materialista dos Estados Unidos. Eu sei disto, eu estive convivendo com eles, quando estive na Universidade de Princeton como bolsista, além de correspondente de guerra, e também professor na Universidade de Washington por 6 anos.


EL LIBRE ALBEDRÍO


 

Durante muchas décadas, particularmente en los años 60 y 70, siempre muy informal, ingenioso y con excelente humor, ya famoso y respetado filósofo, teólogo, educador y escritor, erudito y políglota, Huberto Rohden fue solicitado frecuentemente para entrevistas y conferencias por los medios de comunicación brasileños.

 

Se destaca entre ellos, algunos muy interesantes transmitidos por la célebre periodista brasileña Xênia Bier. En la entrevista a continuación, una reflexión sobre el libre albedrío en el hombre.

 

 

Xênia – Profesor Rohden, entre científicos y filósofos, hay discusiones sobre el libre albedrío del hombre. ¿Existe tal libre albedrío?

 

Rohden - Todos los libros que conozco sobre el tema hacen una confusión permanente entre la libertad potencial y la libertad dinámica. Es parte de la naturaleza de todo ser humano normal ser potencialmente libre, pero nadie nace dinámicamente libre. Sin embargo, tenemos todos los ingredientes necesarios para la libertad dinámica al nacer.

 

La libertad potencial es un regalo de la cuna que todos reciben. Sin embargo, la libertad dinámica es un logro de la conciencia, y pocos pueden afrontar este desafío. Muchos llegan al final de la vida y solo tienen la libertad potencial recibida al nacer, pero nunca desarrollaron dinámicamente su libertad.

 

No creo que el 1% de la humanidad haya alcanzado esta libertad. La gran mayoría de los humanos no quiere hacer un esfuerzo para liberarse de su esclavitud tradicional. Nacimos libres, pero aprendiendo a estar encadenados, esclavos del dinero, del sexo, de la sociedad, de la cultura y esclavos de muchas otras esclavitudes. Todos somos grandes esclavistas y grandes esclavizados.

 

La ley que abolió la esclavitud negra es un hecho histórico del pasado. ¿Y quién fue el que abolió la esclavitud blanca, y la de las pieles rojas, la de los amarillos, en fin, la esclavitud humana? Nadie puede abolirla por decreto. Ahora, todos pueden intentar abolir su esclavitud individual y proclamar la liberación individual. Esta liberación es posible. ¿Pero quién lo hace? No hay un 1% de hombres realmente libres. El 99% están encadenados y esclavizados hasta que mueren.

 

X- ¿Y dónde colocamos en esto el libre albedrío?

 

La libertad no significa escapar de las circunstancias humanas... el dinero, la familia, la sociedad, la cultura, los instintos. La liberación está por encima de eso. Debo ser libre entre las personas esclavizadas; puedo ser limpio entre los inmundos. A este tipo de comportamiento lo llamo liberación. No es huir; no es abandonar las luchas de la vida, esto es cobardía. Quien abandona confiesa que es débil. Y la debilidad es esclavitud. Tengo que ser libre en medio de la esclavitud.

 

X- Es decir, pasar por la zarza ardiente sin quemarse, representando simbólicamente el pasaje bíblico descrito en el Libro del Éxodo, ¡donde la zarza ardía, pero no era consumida por las llamas!

 

R- Pero, por supuesto, escapar no es una solución. Dejar todo atrás no es una solución. Tengo que liberarme de la sociedad en medio de ella. Tengo que liberarme de la esclavitud de la familia en medio de ella. Tengo que liberarme de la esclavitud del dinero en medio del dinero. Actuar de esta manera es lo que yo llamo liberación. La liberación no es un escape; es cobardía.

 

X- ¿Y qué es la liberación, profesor Rohden?

 

R- Liberación es saber usar todo sin abusar de nada, eso es liberación. Usa todo sin abusar de nada. Está prohibido abusar. Está permitido negarse. Se recomienda usar. Yo llamo a esto liberación. Usando todo lo que se ofrece, pero sin abusar de nada.

 

X- Pero profesor, usted estará de acuerdo conmigo... acabo de leer un fragmento de Lao Tse, afirmando que quien actúa así se siente solo y perseguido. ¿Estás de acuerdo?

 

R- ¡Bendita soledad, Xênia! Tenemos que entrar en una gran soledad para estar muy bien acompañados.

 

X- Profesor Rohden, ¿esta libertad que usted propone no es la que está ahí fuera?

 

R- Usar sin abusar; esto es libertad.

 

X- Mire, profesor, me atrevería a decir que soy libre porque soy capaz...

 

R- Hasta cierto punto, todos somos aprendices en el gran arte de la liberación, solo aprendices, pero no graduados. Somos principiantes en el arte de liberarnos sin huir de nada. Liberarnos de todo sin huir de nada.

 

X- Nunca me pareció válido huir, profesor Rohden.

 

R- Huir es una condición de debilidad y miedo, y aquellos que tienen miedo todavía están esclavizados por el miedo.

 

X- Profesor Rohden, estoy leyendo un libro que usted conoce y del que hablé en el último programa: la Autobiografía de un Yogi, de Yogananda. Pero muchas cosas, como occidental, tengo miedo. Y recuerdo sus palabras: no del todo espíritu, no del todo materia. ¡Sería un desafío para nosotros, los occidentales, practicar la filosofía hindú por completo!

 

R- El hindú se inclina mucho más hacia el espiritualismo que hacia el materialismo. Nosotros, los occidentales casi siempre preferimos el materialismo al espiritualismo. Hay dos extremos. No podemos ser espiritualistas, ni debemos ser materialistas. Debemos estar en equilibrio entre materia y espíritu en el medio porque somos un compuesto de dos antítesis que deben sintetizarse. Hay una antítesis de la materia y hay una antítesis del espíritu, pero la síntesis es posible.

 

Debemos sintetizar armónicamente materia y espíritu en perfecto equilibrio. Esto es lo que llamamos el hombre cósmico, el hombre integral o el hombre universal. El Universo representa al Creador Infinito y la suma de todas las criaturas finitas. El equilibrio armónico entre el espíritu y la materia. Esto es lo que se llama Filosofía Integral. Tanto los orientales como los occidentales no han logrado esta filosofía. Eventualmente, algunos individuos aislados, sí, pero no pueblos lo han logrado. No hay pueblos espiritualistas, y no hay pueblos materialistas. Algunos individuos hacen la armonía entre la espiritualidad y la materialidad. A esto lo llamo usar todo sin abusar de nada. Esto es libertad.

 

X- ¿Es válida la difusión de la filosofía hindú aquí en Occidente? Excluyendo los excesos, ¿es válida la explotación para un hombre occidental?

 

R- No del todo, no en su conjunto. Ahora bien, nosotros, los occidentales, más partidarios del materialismo, debemos aprovechar todo lo espiritual y aceptable de la filosofía oriental, pero no cambiar Occidente por Oriente. ¡Es otro extremo!

 

La humanidad integral no es oriental, ni occidental, ni materialista ni espiritual. Es equilibrada, armonizada entre dos antítesis en una síntesis maravillosamente equilibrada. Este es nuestro ideal. A esto lo llamamos Filosofía Cósmica, que se revela en la vida cotidiana. No es la filosofía de la cueva, de las calles, de los templos o de los conventos, sino una síntesis equilibrada entre dos extremos lo que hay que armonizar.

 

X- ¿Usted ha estado en los Estados Unidos y fue alumno de un discípulo de Yogananda, Swami Premananda?

 

R- Sí, me quedé en los Estados Unidos durante seis años. Premananda fue discípulo y amigo de Yogananda.

 

X- ¿Y qué opinas de su trabajo?

 

R- Su obra es un intento de síntesis entre dos antítesis. Tanto Yogananda como Premananda hacen todo lo posible para armonizar los dos extremos de Occidente y Oriente. Hasta dónde llegarán, nadie puede decirlo. Lo hacen para algunos estudiantes individuales; no lo hacen por la sociedad, por supuesto, porque no podemos convertir a otros. Podemos convertirnos a nosotros mismos.

 

Con eso, están haciendo un excelente trabajo porque no son espiritualmente unilaterales. Tampoco son materialistas unilaterales como nosotros. Quieren ser bilateralmente oriental y occidental y equilibrados simultáneamente. Es su filosofía. La intención y el camino son correctos.

 

Ahora bien, hasta qué punto se puede lograr esto en occidente, especialmente con la gente norteamericana que es materialista, más que nosotros, más que Europa... Porque los americanos son muy técnicos y poco culturales. Siempre prefieren la técnica a la cultura, las cosas materiales al mundo espiritual. Es un desafío hacer algo de trabajo en este campo. Sin embargo, pocos logran la síntesis, el equilibrio, la armonía entre lo material y lo espiritual, que es precisamente el hombre integral, que vive en medio del mundo material sin ser materialista.

 

X- Profesor, ¿cómo ve a Brasil?

 

R- Brasil abandonó la cultura europea en los últimos 50 años a causa de las dos guerras mundiales. El país salió de la influencia de esa cultura y se dejó manejar masivamente por la norteamericana. Y ese es el gran mal de la civilización brasileña.

 

Fuimos influenciados por la cultura europea, especialmente la francesa, que es mucho más avanzada que la estadounidense. Pero, debido a las dos guerras mundiales que asolaron Europa, Brasil se volvió más hacia los Estados Unidos, que no perdió nada con la guerra; y se mecanizó en lugar de humanizarse. Nos estamos volviendo cada vez más mecanizados y deshumanizados al mismo tiempo. Y es la influencia de EE.UU.

 

Me invitaron a dar, de forma permanente, dos cátedras en la Universidad de Washington: Filosofía y Religiones Comparadas, y rechacé este privilegio porque no me ajusté a su tendencia mecanizada, dejando de lado la cultura.

 

X- Pero, ¿no es una pena?

 

R- Efectivamente es porque es el dinero el que manda. La técnica depende del dinero. En términos de tecnología, Estados Unidos está mucho más avanzado que Europa y más deshumanizado. Y estamos siguiendo el ejemplo de los Estados Unidos. En lugar de tener nuestra cultura de pura brasilidad, nos estamos dejando llevar por la mecanización materialista de ellos. Lo sé, estuve en la Universidad de Princeton como becario, corresponsal de guerra y profesor en la Universidad de Washington durante seis años. 

FREE WILL

For many decades, particularly in the '60s and '70s, always very informal, witty, and with excellent humour, already famous and respected philosopher, theologian, educator and writer, polymath and polyglot, Huberto Rohden was frequently asked for interviews and lectures by the Brazillian media.

 

It stands out among them, some very interesting ones broadcasted by the famous Brazilian journalist Xênia Bier. In the interview below, a reflection on free will in man.

 

 

Xênia – Professor Rohden, among scientists and philosophers, there are discussions about man's free will. Is there such free will?

 

Rohden - All the books I know of on the subject make a permanent confusion between potential freedom and dynamic freedom. It is part of the nature of every normal human being to be potentially free, but no one is born dynamically free. However, we have all the necessary ingredients for dynamic freedom at birth.

 

I don't believe 1% of humanity has achieved this freedom. The vast majority of humans do not want to make an effort to free themselves from traditional slavery. We were born free but learning to be in shackles, slaves to money, sex, society, culture and slaves to many other slaveries. We are all great slavers and great enslaved.

 

The law that abolished black slavery is a historical fact of the past. And who was it that abolished white slavery, and that of the red skins, of the yellow ones, in short, human slavery? No one can abolish it by decree. Now, everyone can try to abolish individual slavery and proclaim individual liberation. This liberation is possible. But who does? There is not 1% of really free men. 99% are in shackles and enslaved people until they die.

 

X- And where do we place free will in this?

 

Freedom does not mean escaping from human circumstances... money, family, society, culture, instincts. Liberation is above that. I must be free among the enslaved people; I can be clean among the unclean. This kind of behaviour I call liberation. It is not running away; it is not abandoning the struggles of life – this is cowardice. Whoever abandons confesses that it is weak. And weakness is bondage. I have to be free amid slavery.

 

X- That is, to pass through the burning bush without being burned, symbolically representing the biblical passage described in the Book of Exodus, where the bush burned but was not consumed by the flames!

 

A- But, of course, escape is not a solution. Leaving everything behind is not a solution. I have to free myself from society in the midst of it. I have to free myself from the bondage of the family in the midst of it. I have to free myself from the bondage of money amid money. Acting this way is what I call liberation. Liberation is not an escape; it is cowardice.

 

X- And what is liberation, Professor Rohden?

 

R- Liberation is knowing how to use everything without abusing anything, which is liberation. Use everything without abusing anything. Abusing is prohibited. To refuse is allowed. Using is recommended. I call this liberation. Using everything that is offered, but not abusing anything.

 

X- But Professor, you will agree with me... just now, I read an excerpt from Lao Tse, stating that those who act like this feel alone and persecuted. Do you agree?

 

R- Blessed solitude, Xênia! We have to enter a great solitude to be very well accompanied.

 

X- Professor Rohden, is this freedom that you propose not the one that is out there?

 

R- Use without abusing; this is freedom.

 

X- Look, Professor, I would dare to say that I am free because I am capable...

 

A- To a certain extent, we are all apprentices in the great art of liberation, apprentices only, but not graduated. We are beginners in the art of freeing ourselves without running away from anything. Free ourselves from everything without running away from anything.

 

X- I never found it valid to run away, Professor Rohden.

 

A- Fleeing is a condition of weakness and fear, and those who are afraid are still enslaved by fear.

 

X- Professor Rohden, I'm reading a book that you know and that I discussed in the last program: the Autobiography of a Yogi, by Yogananda. But many things, as a Westerner, I'm scared. And I remember his words: not entirely spirit, not entirely matter. It would be challenging for us Westerners to practice Hindu philosophy fully!

 

A- The Hindu is much more inclined towards spiritualism than materialism. We Westerners almost always prefer materialism to spiritualism. There are two extremes. We cannot be spiritualists, nor should we be materialists. We must be balanced between matter and spirit in the middle because we are a composite of two antitheses that must be synthesized. There is an antithesis of matter, and there is an antithesis of spirit, but synthesis is possible.

 

We must harmoniously synthesize matter and spirit in perfect balance. This is what we call the cosmic man, the integral man, or the universal man. The Universe represents the Infinite Creator and the sum of all finite creatures. The harmonic balance between spirit and matter. This is what is called Integral Philosophy. Both the Eastern and the Western have not achieved this philosophy. Eventually, some isolated individuals, yes, but no people have achieved it. There are no spiritualistic people, and there are no materialistic people. Some individuals make the harmony between spirituality and materiality. This I call using everything without abusing anything. This is freedom.

 

X- Is the dissemination of Hindu philosophy here in the West valid? Excluding excesses, is exploitation valid for a Western man?

 

A- Not entirely, not as a whole. Now, we Westerners, who are more in favour of materialism, must take advantage of everything that is spiritual and acceptable in Eastern philosophy, but not exchange the West for the East. It's another extreme!

 

Integral humanity is not Eastern, not Western, not materialistic or spiritual. It is balanced, harmonized between two antitheses in a wonderfully balanced synthesis. This is our ideal. This we call Cosmic Philosophy, which reveals itself in everyday life. It is not the philosophy of the cave, the streets, the temples or the convents, but a balanced synthesis between two extremes that must be harmonized.

 

X- Have you been to the United States, and were you a student of a disciple of Yogananda, Swami Premananda?

 

A- Yes, I did stay in the United States for six years. Premananda was a disciple and friend of Yogananda.

 

X- And what do you think of their work?

 

R- Their work is an attempt at synthesis between two antitheses. Both Yogananda and Premananda do their best to harmonize the two extremes of the West and the East. How far they will go, no one can say. They do it for some individual students; they don't do it for society, of course, because we can't convert others. We can convert ourselves.

 

With that, they are doing excellent work because they are not one-sidedly spiritual. Nor are they one-sidedly materialistic like we are. They want to be bilaterally eastern and western and balanced simultaneously. It's their philosophy. The intention and the path are right.

 

Now, to what extent can this be achieved in the West, especially with the North American people who are materialistic, more than us, more than Europe... Because Americans are very technical and not very cultural. They always prefer technique to culture, material things to the spiritual world. It's challenging to do some work in this field. However, few manage to achieve the synthesis, balance, harmony between the material and the spiritual, which is precisely the integral man, who lives amid the material world without being materialistic.

 

X- Professor, how do you see Brazil?

 

R- Brazil abandoned European culture in the last 50 years because of the two world wars. The country left the influence of that culture and allowed itself to be massively influenced by the North American one. And this is the great evil of Brazilian civilization.

 

We were influenced by European culture, especially French, which is much more advanced than American. But, due to the two world wars that devastated Europe, Brazil turned more towards the United States, which lost nothing with the war; and became mechanized rather than humanized. We are becoming increasingly mechanized and dehumanized at the same time. And it's US influence.

 

I was invited to give, permanently, two professorships at the University of Washington: Philosophy and Comparative Religions, and I refused this privilege because I didn't conform to their mechanized tendency, leaving culture aside.

 

X- But, isn't it a pity?

 

R- It's indeed because it's money that rules. The technique depends on the money. In terms of technology, the United States is much more advanced than Europe and more dehumanized. And we are following the example of the United States. Instead of having our culture of pure Brazilianness, we are letting ourselves be carried away by the materialist mechanization of the United States. I know this, I was with them at Princeton University as a fellow, a war correspondent, and a professor at the University of Washington for six years. 

Thursday 17 February 2022

DISSOLUÇÃO, SOBREVIVÊNCIA, IMORTALIDADE

Estes três fenômenos que ocorrem com o corpo dos seres vivos dependem da menor ou maior intensidade da consciência existencial de cada um deles.

Intensidade de consciência significa unidade, coesão, estabilidade e, por isto, indissolubilidade do ser vivo.

Assim como um pedaço de carvão de pedra se dissolve facilmente, por ter pouca densidade, se transforma quase indissolúvel em diamante, depois de altamente condensado sob pressão e temperatura – de modo semelhante, o corpo dos seres inferiores, tem pouca estabilidade e unidade, porque a sua consciência vital é diminuta. Unidade é garantia de estabilidade; falta de unidade é falta de estabilidade.

Quando o corpo físico, do vegetal ou do não humano se dissolve pela morte, a sua individualidade vital, a sua unidade de consciência perde a individualidade e retorna ao oceano da Vida Universal, da qual emergira como onda no momento de se individualizar. Retorna, talvez, embora esse termo seja inexato, porque esses organismos nunca se separaram, de fato, da Vida Universal; dela era distinto apenas pela forma existencial que assumiram temporariamente, pois nenhum ser individual está separado da Vida Universal. A Vida Universal, transcendente fora dele, está imanente dentro de cada uma das suas formas existenciais. Um indivíduo é vivo precisa, e unicamente, por ser participante da Vida Universal, que o permeia, penetra e vitaliza.

Quando o veículo material da vida vegetal ou animal perde a sua integridade, a Vida Universal deixa de se servir dele como veículo; os elementos básicos do veículo – ferro, cálcio, fosfato, nitrogênio, etc., voltam à terra e ao ar, mas a unidade vital deixa de existir como tal; a onda da vida individual recai ao seio do oceano da Vida Universal. O indivíduo vivo deixou de existir, reabsorvido pela Vida Universal, que sempre é e nunca deixará de ser. 1

                                                             * * *

Com o advento do homem, apareceu algo inédito, atingindo as alturas da consciência personal, se tornando um ego; a intensidade vibratória de sua consciência chegou ao ponto de crear alto grau de unidade e, com isto, coesão e estabilidade.

A Vida Universal, o Infinito, irradia vitalidade, que se comunica e condensa no Universo e a vida assume direções distintas, sendo o seu grau de mínima intensidade e unidade, na zona mineral, maior na vegetal e não humano, maior ainda na zona intelectual do ego. Esse ego, primeira etapa da evolução, representada alto grau de intensidade ou condensação de consciência, mas não atinge ainda perfeita unidade central, que é o Eu verdadeiro, essencial e divino.

Devido a seu elevado grau de intensidade consciente, esse ego mental cria um veículo astral, isto é, um corpo imaterial de alta vibração energética, capaz de sobreviver independente ao corpo material. Segundo Einstein, matéria é energia condensadaassim como energia é matéria descondensadaA intensidade de consciência é tanto maior quanto mais distante da passividade ou condensação da matériaé intensidade de vibração.

Esse corpo astral ou energético do ego sobrevive à destruição do corpo materialporque a vibração superior não é afetada pela vibração inferior. E esse corpo astral sobrevivente serve de veículo ao indivíduo humano na sua existência post-mortemEsse fato da sobrevivência do homem em corpo astral é conhecido desde o princípio da humanidade.

Mas esse corpo astral sobrevivente à destruição do corpo material não épor si mesmoimortalpode sobreviver séculose até milêniosconsoante a sua menor ou maior intensidade unitáriamasno fim, ele também se dissolve ese o indivíduo não tiver creado outro corpoindestrutívelrecairá no vasto oceano da Vida Universaldeixando de existir como indivíduo particular.

É enorme a confusão que vai pela literatura espiritualista no tocante aos termos de “sobrevivência” e “imortalidade”que muitos consideram como idênticosOs meus amigos do mundo astral quepor vezesme visitam em corpo tangívelsão os primeiros a desmentirem essa identidadeperderam o seu corpo material pela morte física e afirmam quealgum diaperderão também o seu corpo astral por uma nova morteum deles afirma que vai morrer ainda “muitas vezes”confirmando assim o que eu  sabia por outras fontesSobrevivência em corpo astral não é garantia de imortalidade.

Essa sobrevivênciaapós a morte físicanão é uma conquista do indivíduomas faz parte da sua naturezaé patrimônio universal da humanidadePossivelmentemilênios atrásquando o ego humano não possuía ainda suficiente intensidade conscienteessa sobrevivência não era um fenômeno universalhoje em diaporémo corpo astral é transmitido de pais a filho de forma genética, prova de que a sua existência remonta a longos períodos do passado. Propriedades recém-adquiridas pelos genitores não são transmissíveis aos filhosa transmissão supõe a identificação dessas propriedades com os cromossomas e genes – e é o que acontece com o corpo astralque é herdado por todo ser humano em virtude da própria concepção paterno-materna.

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O mesmoporémnão acontece com o corpo-luzque é o veículo do Eu espiritual, que infelizmente ainda se acha em estado muito primitivo na vasta maioria dos humanos e que não afeta os elementos de reprodução. Esse corpo-luz tem que ser adquirido e desenvolvido pelo indivíduo. Quem forma em si esse veículo de luz cósmica “renasce pelo espírito”, “entra no reino de Deus”, “adquire a vida eterna”. Assim como o ego mental necessita do veículo do corpo astral para sobreviver temporariamente à morte material, de forma análoga, o Eu espiritual necessita de um veículo idôneo para garantir a sua sobrevivência diante da destruição de todos os veículos anteriores.

O único veículo indestrutível conhecido pela ciência, é a luz no seu estado mais intenso, isto é, a Luz Cósmica, invisível. Todos os elementos da química, e seus derivados, são, segundo Einstein, reduzíveis à luz, porque são formados pela luz. A luz, porém, não é reduzível a um elemento superior; ela é a última fronteira do mundo físico. 2

Por isto, a creação de um corpo-luz é a creação de um veículo indestrutível para a perpetuação do Eu espiritual do homem, o seu EU SOU divino. Uma vez creado esse corpo-luz – a “luz do mundo” – essa onda individual do Eu humano não se dissolve mais nem recai mais ao seio do oceano da Vida Universal, porque adquiriu o mais alto grau de autonomia unitária ou de individualidade. A sua individualidade é a sua indivisibilidade. O perfeito indivíduo é indiviso, porque possui o mais alto grau de unidade intrínseca – “Eu e o Pai somos um”, segundo as palavras do Cristo Jesus.

A imortalidade do indivíduo depende, pois, da creação de um corpo idôneo para sua individualidade. Onde este não existe, não há perpetuação da vida individual; e onde não há intensa vida individual não há imortalidade do indivíduo.

Augusto Comte tentou consolar os seus leitores com a frágil esperança de uma “imortalidade social”; o homem notável sobreviveria em suas obras.

Outros se agarram à tábua de salvação de seus filhos e descendentes como perpetuadores da vida e vivência de seus pais.

Certos filósofos do Oriente se deliciam na eutanásia do nirvana (extinção do ciclo de nascimento e morte), desejando a si e seus discípulos, uma vida eterna em Brahman (a Realidade Absoluta), numa total identificação da vida individual com a Vida Universal.

No entanto, precárias e insatisfatórias são essas formas de imortalidade, pois não consolam a nenhum homem sedento de vida eterna. Quem se interessa em saber que sobreviverei em minhas obras, em meus filhos, ou na Realidade Absoluta? De fato, não sou eu que sobrevivo; algo sobrevive em meu lugar. Mas o que eu quero e anseio, nas profundezas do meu ser, é sobreviver eternamente, em minha autêntica e inconfundível individualidade. Se o homem é o seu indivíduo, então ele é indiviso em si e indiviso também do grande Todo. Mas essa indivisibilidade, imanente-transcendente, é precisamente o mais alto grau da unidade consciente, esse consciente unitário, esse indivisível EU SOU, é a suprema garantia da imortalidade. O Eu não se separa do Todo, nem se identifica com o Todo – mas integra-se no Todo.

A imortalidade do Eu humano, considerada do ponto de vista objetivo e da teoria metafisica do ser, é um fato – lógica e subjetivamente, porém, é o maior problema da vida humana. O fato objetivo da imortalidade não resolve o problema subjetivo da mesma. Existe em cada homem o germe da imortalidade, ou seja, a potencialidade de se imortalizar – mas dessa potencialidade se dinamizar, vai um passo imenso. Nem o nascimento, a vida, ou a morte resolvem esse problema, porque são três condições que nos acontece pelo favor ou desfavor de circunstâncias externas. Só uma nova vivência, ou experiência espiritual, é que resolve o problema da dinâmica da imortalidade. E, uma vez realizada essa vivência, cessam nascimentos e mortes, e só resta a vida, a vida eterna. Enquanto o homem se submeter simplesmente aos fenômenos do nascimento e morte, ele não possui ainda a plenitude do viver. Só um corpo-luz, indestrutível, é que o isentará de nascimentos e mortes e lhe garantirá vida eterna.

Há quem recuse aceitar a ideia de uma “morte eterna”, de uma dissolução da individualidade humana, por culpa própria; entretanto, os maiores mestres espirituais da humanidade ensinam que possa haver “morte eterna” tão bem como “vida eterna” dependendo ambas, do livre arbítrio do homem. Se todos os homens adquirissem, em última análise, a vida eterna, e se fosse apenas uma questão de maior ou menor espaço de tempo, para que empenhar tantos esforços por alcançar a vida eterna? Cedo ou tarde, todos arribariam ao porto seguro da “salvação”.

Entretanto, esses mestres, sobretudo o Cristo Jesus, estabelecem e mantêm a disjunção nítida entre “vida eterna” e “morte eterna”. E isto se acha em perfeita harmonia com as Leis Cósmicas e com a lógica imparcial.

O homem pode realizar tanto esta como aquela alternativa, embora o seu período evolutivo não esteja restrito, como pensam certos teólogos míopes e unilaterais, aos poucos decênios da vida terrestre. A evolução do homem abrange eternidades. Só depois desse vasto ciclo evolutivo é que vem o seu “juízo final”, quer dizer, a crise ou decisão definitiva, que levará o homem para a vida eterna, ou para a morte eterna.

Há quem afirme que, se a morte eterna é a identificação do homem com o Nada, deve também a vida eterna ser a sua identificação com o Todo, a total diluição do seu Eu individual no Todo Universal, o aniquilamento do ciclo de reencarnações. Mas não é lógico. Pode o positivo realizar algo que o negativo não realiza. A Vida Eterna Universal é a Essência, o Real – a vida eterna individual é a Existência, o Realizado. A morte eterna não é nem Essência nem Existência, não é o Real nem o Realizado – mas o puríssimo Nada, a não Essência e a não Existência, o Irreal Absoluto.

O indivíduo que não se integra no Real, deixa de ser um Realizado, porque este só é uma identidade, enquanto unido ao Todo; depois de desunido, separado, do Real, o Realizado cai no abismo do Irreal, do Nada, da total desintegração, da morte eterna.

Por outro lado, se o indivíduo, pela integração no Universal, deixasse de existir individualmente, com a consciência do Eu, sucumbiria praticamente à morte eterna, porque não continuaria a existir ele mesmo, individualmente, mas a Realidade Absoluta continuaria a ser o que sempre foi. A vida individual deixaria de existir, mas continuaria a existir a Vida Universal. E, neste caso, tanto a separação cometida pelo pecado como a identificação praticada pelo amor seriam “morte eterna”, porque ambos destruiriam o indivíduo humano – e para que então fazer essa constante diferenciação entre “vida eterna” e “morte eterna”? O que interessa ao indivíduo não é a Vida Eterna e Universal da Divindade, da Realidade Absoluta, mas sim a vida eterna e individual do homem.

Todos os mestres da humanidade que realizaram em si a vida eterna sabem que ela é um eterno viver integrado na Vida Infinita, mas não é a identificação da vida finita com a Vida Infinita.

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1)- Jackson Mivart 1827-1900), o celebre naturalista inglês, analisando psicologicamente o homem, afirmou que “O homem é diferente dos outros animais pelas características da abstração, da percepção intelectual, da consciência de si mesmo, da reflexão, da memória racional, do julgamento, da síntese e conclusão intelectual, do raciocínio, da intuição intelectual, das emoções e sentimentos superiores, da linguagem racional, do verdadeiro poder de vontade.” 

Neste século XXI, onde a ciência e redes sociais revelam surpreendentes detalhes da vida dos não humanos, não se pode mais afirmar categoricamente esta ou aquela certeza; que apenas o ser humano tem o privilégio de possuir atributos especiais, tanto de inteligência, quanto do convívio social entre seus pares e demais seres da natureza. A prudência acima de tudo, deve ser utilizada, pois o que o ser humano sabe, sobre seus parceiros não humanos, é apenas uma gota d’água no oceano de sua ignorância.  

Recentes estudos científicos mostram que muitos dos seres não humanos têm a habilidade de mostrar consciência individual particular (consciência egóica) e uma razão que está condicionada ao seu estágio de evolução existencial, pois a alma do Universo se faz presente em todos os seres da creação, assim sendo, esses seres também apresentam estados mentais, sentimentos, emoções, ações intencionais, inteligência, personalidade, espírito, livre-arbítrio, amor, intuição, compaixão, sentimento de culpa, de perda e de posse, e de domínio territorial.

De acordo com especialistas em ciência quântica, alguns são capazes de se comunicar conosco através de mensagens visuais de diferentes caracteres, incluindo reclamar por seus direitos. Eles são nossos iguais, dividindo nosso mesmo Universo, mas espalhados em diferentes aspectos.

Para citar um exemplo, as funções do cérebro de um cão labrador submetido a ressonância magnética, apresentou as mesmas e exatas funções que parte do cérebro humano apresenta. Como os mamíferos, de forma geral, evolucionam da mesma forma que o ser humano, apenas apresentando características físicas diferentes, é de se supor que do ponto de vista comportamental, eles tenham os mesmos atributos.

Os que se empatizam e cultivam a convivência com os animais, em particular com os cães - com os quais os seres humanos tem quase 15 mil anos de relacionamento - se se observar com detalhes, se verifica que as várias espécies são portadoras de qualidades quase humanas, como pela prudência, paciência, disciplina, obediência, sensibilidade, inteligência, improvisação, espírito de serviço, vigilância e sede de carinho, infundindo a ideia de que, quanto mais perto se encontram das criaturas humanas, mais semelhantes ficam; aperfeiçoando paulatinamente seus instintos na busca da inteligência da mesma maneira que os humanos aspiram alcançar algum dia, um estágio maior de evolução.

E muitos outros não humanos, dentre todas as formas de vida, têm mostrado surpreendentes particularidades onde a Inteligência Universal faz habitação em suas existências.

Aos leitores interessados em mais surpreendentes relações entre humanos e não humanos, visitar na Netflix, o documentário Professor Polvo, ganhador em 2020, do Prêmio da Academia de Melhor Documentário. Outra série muito reveladora, é Animal Einsteins de Chris Packham, da BBC de Londres.  

2)- Convém lembrar que esse estudo, primeiramente publicado em 1962, e de autoria do filósofo brasileiro, Huberto Rohden (1893-1981), a despeito de seus estudos em ciências pela Universidade de Princeton, EUA, período no qual ele teve a oportunidade de encontros com Albert Einstein, podem revelar algumas imprecisões científicas, no entanto, o caráter metafísico de suas ideias, parecem ser absolutamente procedentes.

Texto revisado, extraído do livro A GRANDE LIBERTAÇÃO