Estes três fenômenos que ocorrem com o corpo dos seres vivos dependem da menor ou maior intensidade da consciência existencial de cada um deles.
Intensidade de consciência significa unidade, coesão, estabilidade e, por isto, indissolubilidade do ser vivo.
Assim como um pedaço de carvão de pedra se dissolve facilmente, por ter pouca densidade, se transforma quase indissolúvel em diamante, depois de altamente condensado sob pressão e temperatura – de modo semelhante, o corpo dos seres inferiores, tem pouca estabilidade e unidade, porque a sua consciência vital é diminuta. Unidade é garantia de estabilidade; falta de unidade é falta de estabilidade.
Quando o corpo físico, do vegetal ou do não humano se dissolve pela morte, a sua individualidade vital, a sua unidade de consciência perde a individualidade e retorna ao oceano da Vida Universal, da qual emergira como onda no momento de se individualizar. Retorna, talvez, embora esse termo seja inexato, porque esses organismos nunca se separaram, de fato, da Vida Universal; dela era distinto apenas pela forma existencial que assumiram temporariamente, pois nenhum ser individual está separado da Vida Universal. A Vida Universal, transcendente fora dele, está imanente dentro de cada uma das suas formas existenciais. Um indivíduo é vivo precisa, e unicamente, por ser participante da Vida Universal, que o permeia, penetra e vitaliza.
Quando o veículo material da vida vegetal ou animal perde a sua integridade, a Vida Universal deixa de se servir dele como veículo; os elementos básicos do veículo – ferro, cálcio, fosfato, nitrogênio, etc., voltam à terra e ao ar, mas a unidade vital deixa de existir como tal; a onda da vida individual recai ao seio do oceano da Vida Universal. O indivíduo vivo deixou de existir, reabsorvido pela Vida Universal, que sempre é e nunca deixará de ser. 1
Com o advento do homem, apareceu algo inédito, atingindo as alturas da consciência personal, se tornando um ego; a intensidade vibratória de sua consciência chegou ao ponto de crear alto grau de unidade e, com isto, coesão e estabilidade.
A Vida Universal, o Infinito, irradia vitalidade, que se comunica e condensa no Universo e a vida assume direções distintas, sendo o seu grau de mínima intensidade e unidade, na zona mineral, maior na vegetal e não humano, maior ainda na zona intelectual do ego. Esse ego, primeira etapa da evolução, representada alto grau de intensidade ou condensação de consciência, mas não atinge ainda perfeita unidade central, que é o Eu verdadeiro, essencial e divino.
Devido a seu elevado grau de intensidade consciente, esse ego mental cria um veículo astral, isto é, um corpo imaterial de alta vibração energética, capaz de sobreviver independente ao corpo material. Segundo Einstein, matéria é energia condensada, assim como energia é matéria descondensada. A intensidade de consciência é tanto maior quanto mais distante da passividade ou condensação da matéria; é intensidade de vibração.
Esse corpo astral ou energético do ego sobrevive à destruição do corpo material, porque a vibração superior não é afetada pela vibração inferior. E esse corpo astral sobrevivente serve de veículo ao indivíduo humano na sua existência post-mortem. Esse fato da sobrevivência do homem em corpo astral é conhecido desde o princípio da humanidade.
Mas esse corpo astral sobrevivente à destruição do corpo material não é, por si mesmo, imortal; pode sobreviver séculos, e até milênios, consoante a sua menor ou maior intensidade unitária, mas, no fim, ele também se dissolve e, se o indivíduo não tiver creado outro corpo, indestrutível, recairá no vasto oceano da Vida Universal, deixando de existir como indivíduo particular.
É enorme a confusão que vai pela literatura espiritualista no tocante aos termos de “sobrevivência” e “imortalidade”, que muitos consideram como idênticos. Os meus amigos do mundo astral que, por vezes, me visitam em corpo tangível, são os primeiros a desmentirem essa identidade; perderam o seu corpo material pela morte física e afirmam que, algum dia, perderão também o seu corpo astral por uma nova morte; um deles afirma que vai morrer ainda “muitas vezes”, confirmando assim o que eu já sabia por outras fontes. Sobrevivência em corpo astral não é garantia de imortalidade.
Essa sobrevivência, após a morte física, não é uma conquista do indivíduo, mas faz parte da sua natureza, é patrimônio universal da humanidade. Possivelmente, milênios atrás, quando o ego humano não possuía ainda suficiente intensidade consciente, essa sobrevivência não era um fenômeno universal; hoje em dia, porém, o corpo astral é transmitido de pais a filho de forma genética, prova de que a sua existência remonta a longos períodos do passado. Propriedades recém-adquiridas pelos genitores não são transmissíveis aos filhos; a transmissão supõe a identificação dessas propriedades com os cromossomas e genes – e é o que acontece com o corpo astral, que é herdado por todo ser humano em virtude da própria concepção paterno-materna.
O mesmo, porém, não acontece com o corpo-luz, que é o veículo do Eu espiritual, que infelizmente ainda se acha em estado muito primitivo na vasta maioria dos humanos e que não afeta os elementos de reprodução. Esse corpo-luz tem que ser adquirido e desenvolvido pelo indivíduo. Quem forma em si esse veículo de luz cósmica “renasce pelo espírito”, “entra no reino de Deus”, “adquire a vida eterna”. Assim como o ego mental necessita do veículo do corpo astral para sobreviver temporariamente à morte material, de forma análoga, o Eu espiritual necessita de um veículo idôneo para garantir a sua sobrevivência diante da destruição de todos os veículos anteriores.
O único veículo indestrutível conhecido pela ciência, é a luz no seu estado mais intenso, isto é, a Luz Cósmica, invisível. Todos os elementos da química, e seus derivados, são, segundo Einstein, reduzíveis à luz, porque são formados pela luz. A luz, porém, não é reduzível a um elemento superior; ela é a última fronteira do mundo físico. 2
Por isto, a creação de um corpo-luz é a creação de um veículo indestrutível para a perpetuação do Eu espiritual do homem, o seu EU SOU divino. Uma vez creado esse corpo-luz – a “luz do mundo” – essa onda individual do Eu humano não se dissolve mais nem recai mais ao seio do oceano da Vida Universal, porque adquiriu o mais alto grau de autonomia unitária ou de individualidade. A sua individualidade é a sua indivisibilidade. O perfeito indivíduo é indiviso, porque possui o mais alto grau de unidade intrínseca – “Eu e o Pai somos um”, segundo as palavras do Cristo Jesus.
A imortalidade do indivíduo depende, pois, da creação de um corpo idôneo para sua individualidade. Onde este não existe, não há perpetuação da vida individual; e onde não há intensa vida individual não há imortalidade do indivíduo.
Augusto Comte tentou consolar os seus leitores com a frágil esperança de uma “imortalidade social”; o homem notável sobreviveria em suas obras.
Outros se agarram à tábua de salvação de seus filhos e descendentes como perpetuadores da vida e vivência de seus pais.
Certos filósofos do Oriente se deliciam na eutanásia do nirvana (extinção do ciclo de nascimento e morte), desejando a si e seus discípulos, uma vida eterna em Brahman (a Realidade Absoluta), numa total identificação da vida individual com a Vida Universal.
No entanto, precárias e insatisfatórias são essas formas de imortalidade, pois não consolam a nenhum homem sedento de vida eterna. Quem se interessa em saber que sobreviverei em minhas obras, em meus filhos, ou na Realidade Absoluta? De fato, não sou eu que sobrevivo; algo sobrevive em meu lugar. Mas o que eu quero e anseio, nas profundezas do meu ser, é sobreviver eternamente, em minha autêntica e inconfundível individualidade. Se o homem é o seu indivíduo, então ele é indiviso em si e indiviso também do grande Todo. Mas essa indivisibilidade, imanente-transcendente, é precisamente o mais alto grau da unidade consciente, esse consciente unitário, esse indivisível EU SOU, é a suprema garantia da imortalidade. O Eu não se separa do Todo, nem se identifica com o Todo – mas integra-se no Todo.
A imortalidade do Eu humano, considerada do ponto de vista objetivo e da teoria metafisica do ser, é um fato – lógica e subjetivamente, porém, é o maior problema da vida humana. O fato objetivo da imortalidade não resolve o problema subjetivo da mesma. Existe em cada homem o germe da imortalidade, ou seja, a potencialidade de se imortalizar – mas dessa potencialidade se dinamizar, vai um passo imenso. Nem o nascimento, a vida, ou a morte resolvem esse problema, porque são três condições que nos acontece pelo favor ou desfavor de circunstâncias externas. Só uma nova vivência, ou experiência espiritual, é que resolve o problema da dinâmica da imortalidade. E, uma vez realizada essa vivência, cessam nascimentos e mortes, e só resta a vida, a vida eterna. Enquanto o homem se submeter simplesmente aos fenômenos do nascimento e morte, ele não possui ainda a plenitude do viver. Só um corpo-luz, indestrutível, é que o isentará de nascimentos e mortes e lhe garantirá vida eterna.
Há quem recuse aceitar a ideia de uma “morte eterna”, de uma dissolução da individualidade humana, por culpa própria; entretanto, os maiores mestres espirituais da humanidade ensinam que possa haver “morte eterna” tão bem como “vida eterna” dependendo ambas, do livre arbítrio do homem. Se todos os homens adquirissem, em última análise, a vida eterna, e se fosse apenas uma questão de maior ou menor espaço de tempo, para que empenhar tantos esforços por alcançar a vida eterna? Cedo ou tarde, todos arribariam ao porto seguro da “salvação”.
Entretanto, esses mestres, sobretudo o Cristo Jesus, estabelecem e mantêm a disjunção nítida entre “vida eterna” e “morte eterna”. E isto se acha em perfeita harmonia com as Leis Cósmicas e com a lógica imparcial.
O homem pode realizar tanto esta como aquela alternativa, embora o seu período evolutivo não esteja restrito, como pensam certos teólogos míopes e unilaterais, aos poucos decênios da vida terrestre. A evolução do homem abrange eternidades. Só depois desse vasto ciclo evolutivo é que vem o seu “juízo final”, quer dizer, a crise ou decisão definitiva, que levará o homem para a vida eterna, ou para a morte eterna.
Há quem afirme que, se a morte eterna é a identificação do homem com o Nada, deve também a vida eterna ser a sua identificação com o Todo, a total diluição do seu Eu individual no Todo Universal, o aniquilamento do ciclo de reencarnações. Mas não é lógico. Pode o positivo realizar algo que o negativo não realiza. A Vida Eterna Universal é a Essência, o Real – a vida eterna individual é a Existência, o Realizado. A morte eterna não é nem Essência nem Existência, não é o Real nem o Realizado – mas o puríssimo Nada, a não Essência e a não Existência, o Irreal Absoluto.
O indivíduo que não se integra no Real, deixa de ser um Realizado, porque este só é uma identidade, enquanto unido ao Todo; depois de desunido, separado, do Real, o Realizado cai no abismo do Irreal, do Nada, da total desintegração, da morte eterna.
Por outro lado, se o indivíduo, pela integração no Universal, deixasse de existir individualmente, com a consciência do Eu, sucumbiria praticamente à morte eterna, porque não continuaria a existir ele mesmo, individualmente, mas a Realidade Absoluta continuaria a ser o que sempre foi. A vida individual deixaria de existir, mas continuaria a existir a Vida Universal. E, neste caso, tanto a separação cometida pelo pecado como a identificação praticada pelo amor seriam “morte eterna”, porque ambos destruiriam o indivíduo humano – e para que então fazer essa constante diferenciação entre “vida eterna” e “morte eterna”? O que interessa ao indivíduo não é a Vida Eterna e Universal da Divindade, da Realidade Absoluta, mas sim a vida eterna e individual do homem.
Todos os mestres da humanidade que realizaram em si a vida eterna sabem que ela é um eterno viver integrado na Vida Infinita, mas não é a identificação da vida finita com a Vida Infinita.
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1)- Jackson Mivart 1827-1900), o celebre naturalista inglês, analisando psicologicamente o homem, afirmou que “O homem é diferente dos outros animais pelas características da abstração, da percepção intelectual, da consciência de si mesmo, da reflexão, da memória racional, do julgamento, da síntese e conclusão intelectual, do raciocínio, da intuição intelectual, das emoções e sentimentos superiores, da linguagem racional, do verdadeiro poder de vontade.”
Neste século XXI, onde a ciência e redes sociais revelam surpreendentes detalhes da vida dos não humanos, não se pode mais afirmar categoricamente esta ou aquela certeza; que apenas o ser humano tem o privilégio de possuir atributos especiais, tanto de inteligência, quanto do convívio social entre seus pares e demais seres da natureza. A prudência acima de tudo, deve ser utilizada, pois o que o ser humano sabe, sobre seus parceiros não humanos, é apenas uma gota d’água no oceano de sua ignorância.
Recentes estudos científicos mostram que muitos dos seres não humanos têm a habilidade de mostrar consciência individual particular (consciência egóica) e uma razão que está condicionada ao seu estágio de evolução existencial, pois a alma do Universo se faz presente em todos os seres da creação, assim sendo, esses seres também apresentam estados mentais, sentimentos, emoções, ações intencionais, inteligência, personalidade, espírito, livre-arbítrio, amor, intuição, compaixão, sentimento de culpa, de perda e de posse, e de domínio territorial.
De acordo com especialistas em ciência quântica, alguns são capazes de se comunicar conosco através de mensagens visuais de diferentes caracteres, incluindo reclamar por seus direitos. Eles são nossos iguais, dividindo nosso mesmo Universo, mas espalhados em diferentes aspectos.
Para citar um exemplo, as funções do cérebro de um cão labrador submetido a ressonância magnética, apresentou as mesmas e exatas funções que parte do cérebro humano apresenta. Como os mamíferos, de forma geral, evolucionam da mesma forma que o ser humano, apenas apresentando características físicas diferentes, é de se supor que do ponto de vista comportamental, eles tenham os mesmos atributos.
Os que se empatizam e cultivam a convivência com os animais, em particular com os cães - com os quais os seres humanos tem quase 15 mil anos de relacionamento - se se observar com detalhes, se verifica que as várias espécies são portadoras de qualidades quase humanas, como pela prudência, paciência, disciplina, obediência, sensibilidade, inteligência, improvisação, espírito de serviço, vigilância e sede de carinho, infundindo a ideia de que, quanto mais perto se encontram das criaturas humanas, mais semelhantes ficam; aperfeiçoando paulatinamente seus instintos na busca da inteligência da mesma maneira que os humanos aspiram alcançar algum dia, um estágio maior de evolução.
E muitos outros não humanos, dentre todas as formas de vida, têm mostrado surpreendentes particularidades onde a Inteligência Universal faz habitação em suas existências.
Aos leitores interessados em mais surpreendentes relações entre humanos e não humanos, visitar na Netflix, o documentário Professor Polvo, ganhador em 2020, do Prêmio da Academia de Melhor Documentário. Outra série muito reveladora, é Animal Einsteins de Chris Packham, da BBC de Londres.
2)- Convém lembrar que esse estudo, primeiramente publicado em 1962, e de autoria do filósofo brasileiro, Huberto Rohden (1893-1981), a despeito de seus estudos em ciências pela Universidade de Princeton, EUA, período no qual ele teve a oportunidade de encontros com Albert Einstein, podem revelar algumas imprecisões científicas, no entanto, o caráter metafísico de suas ideias, parecem ser absolutamente procedentes.
Texto revisado, extraído do livro A GRANDE LIBERTAÇÃO
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