Em 1938, na
capital norte-americana de Washington, D.C., ocorreu em meio a muito júbilo, a
consagração ao Templo da Auto-Realização de Todas as Religiões.
Situado em meio a
um lindo jardim, o majestoso templo está localizado numa área da cidade chamada
de “Colinas da Amizade”. O guia espiritual e responsável pelo templo, é Swami
Premananda. Educado em Ranchi e na Universidade de Calcutá, eu o convoquei em 1928
para assumir a liderança do Centro da Irmandade de Autorrealização em Washington.
Durante uma visita
ao novo templo, eu disse a Premanda: “Esta sede central do ocidente, é um
memorial de pedra pela sua incansável devoção. Aqui na capital da nação você
ergueu a tocha dos ideais de Lahiri Mahasaya.”
Premananda me
acompanhou desde Washington, para uma breve visita ao Centro da Irmandade de
Autorrealização em Boston. Que alegria ver novamente o grupo de Kriya-Yoga que permanece
firme em suas práticas, desde 1920! O líder espiritual do centro de Boston, Dr.
M. W. Lewis, nos hospedou em uma moderna e muito bem decorada suíte.
Voltando-se a mim
e sorrindo, o Dr. Lewis disse: “Durante os seus primeiros anos na América, ficastes
nesta cidade em um quarto individual, sem banheiro; desta vez eu quero que
saibas que temos apartamentos luxuosos em Boston!”
As sombras da
carnificina que se aproximava, estendiam-se sobre o mundo; o ouvido sensível sente
os assustadores tambores da guerra. Durante entrevistas com milhares de pessoas
na Califórnia e através de ampla correspondência mundial, descobri que homens e
mulheres estavam com seus corações em amargura; a trágica insegurança externa
havia reforçado a necessidade de uma Âncora Salvadora.
Em 1941, recebi
uma correspondência do diretor espiritual da Irmandade de Autorrealização de
Londres, dizendo que: “Nós aprendemos o valor da meditação, e sabemos que nada
pode perturbar nossa paz interior. Nas últimas semanas, durante nossos
encontros, estamos ouvindo os alertas de incursões aéreas e explosão de bombas,
mas nossos alunos ainda se reúnem e desfrutam completamente do nosso excelente
trabalho.”
Outra carta me
chegou da Inglaterra devastada pela guerra, pouco antes dos Estados Unidos
entrarem no conflito. E, com palavras comoventes, o Dr. L. Cranmer Byng, editor
da Série Sabedoria do Leste, escreveu: “Quando li a revista Este-Oeste, percebi
quão distantes parecíamos estar; aparentemente vivendo em dois mundos
diferentes. Beleza, ordem, calma e paz me vêm de Los Angeles, navegando para o
porto como um navio carregado de bênçãos e conforto do Santo Graal para uma
cidade sitiada. Talvez em corpo, eu nunca chegue às tuas praias douradas nem
adore no teu templo. Mas já é algo poder tido a visão e saber que no meio da
guerra ainda há uma paz que habita nesse refúgio entre as colinas. Saudações a
toda a Irmandade, de um soldado comum, escrito da torre de vigia a espera do
amanhecer.”
Os anos de guerra trouxeram
um despertar espiritual entre os homens, onde a diversidade de ocupações nunca
antes incluía o estudo do Novo Testamento. E isso é um doce destilado das ervas
amargas da guerra! Para satisfazer a crescente necessidade, uma pequena e
inspiradora Igreja de Auto-Realização de Todas as Religiões foi construída e consagrada
em 1942 em Hollywood. O local fica de frente para a Colina das Oliveiras e a
certa distância do Planetário de Los Angeles. A igreja, com acabamento em azul,
branco e dourado, fica refletida entre os aguapés de uma grande piscina. Os
jardins com flores, decorados com alguns veados assustados feitos de pedra, uma
pérgula com vitrais e uma fonte dos desejos com centavos jogados, representando
as aspirações do tesouro do Espírito! Um jorro beneficência universal flui de
pequenos nichos com estátuas de Lahiri Mahasaya e Sri Yukteswar, Krishna, Buda,
Confúcio, São Francisco e uma bela reprodução em madrepérola de Cristo na
Última Ceia.
Outra Igreja de
Auto-Realização de Todas as Religiões foi fundada em 1943 em San Diego. Um
templo tranquilo no topo de uma colina, fica em um vale inclinado de
eucaliptos, com vista para a cintilante Baía de San Diego.
Ao cair da noite,
sentado nesse refúgio tranquilo, eu derramava meu coração em uma canção. Sob
meus dedos, o teclado melodioso do órgão da igreja; em meus lábios o lamento
saudoso de um antigo devoto bengali que buscava o consolo eterno:
Neste mundo, Mãe,
ninguém pode me amar;
Neste mundo eles
não conhecem o amor divino.
Onde há o puro gozo
do amor?
Onde há o verdadeiro
amar a Ti?
Lá, meu coração
deseja estar.
Dr. Lloyd Kennell,
meu companheiro na capela e líder do centro de San Diego, sorria discretamente
com a letra da música.
“Me diga
realmente, Paramhansaji, valeu a pena?” Ele olhou para mim com a maior
franqueza e eu compreendi sua lacônica pergunta: “Você foi feliz na América? E
as desilusões, as mágoas, os líderes dos centros sem o espirito de liderança, os
alunos que não podiam ser ensinados?”
“Bem-aventurado o
homem a quem o Senhor o coloca à prova, doutor! De vez em quando, Ele se lembra
de colocar um fardo sobre meus ombros!” Pensei nesse momento, em todos os
fiéis, no amor, na devoção e compreensão que pulsam no coração da América. Falando
devagar, enfatizando, continuei: “Sim, mil vezes sim! Valeu a pena; tem sido
uma inspiração constante, e mais do que nunca, sonhei ver o Ocidente e o
Oriente se aproximando no único vínculo duradouro, o espiritual!”
Silenciosamente,
acrescentei uma oração: “Que Babaji e Sri Yukteswarji sintam que fiz minha
parte, não decepcionando em suas esperanças quando me enviaram para aqui”.
Me voltei
novamente para o órgão; desta vez minha canção teve uma conotação marcial:
A roda do moinho do
tempo moi
Incontáveis vidas
de lua e estrela
E muitas manhãs luminosas—
Mas ainda assim
minha alma marcha adiante!
Escuridão, morte e
fracassos rivalizam;
Tentando bloquear
meu caminho ferozmente;
Minha luta com a
natureza ciumenta, é dura—
Mas ainda assim
minha alma continua marchando!
A primeira semana
do ano de 1945, passei trabalhando em meu escritório de Encinitas, revisando o
manuscrito deste livro.
“Paramhansaji, por
favor, me acompanhe aqui para fora.” Dr. Lewis, chegando de Boston para me
visitar, sorriu para mim do outro lado da janela. Logo, estávamos passeando ao
sol. Meu companheiro apontou para as novas torres em processo de construção ao
longo da propriedade da Irmandade, adjacente à estrada costeira.
“Senhor, vejo
muitas melhorias aqui desde minha última visita.” Dr. Lewis vem nos visitar duas
vezes por ano, de Boston a Encinitas.
“Sim, doutor, um
projeto que eu considero há muito tempo está começando a se materializar. Neste
belo cenário eu comecei uma colônia mundial em miniatura. A fraternidade é um
ideal melhor compreendido pelo exemplo do que pelos princípios teóricos! Um
pequeno grupo harmonioso aqui pode inspirar outros ideais de comunidade terra
afora.”
“Uma ideia
esplêndida, senhor! A colônia será um sucesso se cada um fizer sua parte com
sinceridade!”
“‘Mundo’ é um
termo amplo, e o homem deve aumentar sua fidelidade, considerando-se como um
cidadão do mundo”, continuei. “Uma pessoa que realmente sente que o mundo é
minha pátria; é minha América, minha Índia, minhas Filipinas, minha Inglaterra,
minha África, nunca lhe faltará espaço para uma vida útil e feliz. Esse orgulho
local, normal, conhecerá ilimitada expansão, estando então, em contato com
correntes criativas universais.”
Dr. Lewis e eu
paramos ao lado do lago de lótus perto do eremitério. Abaixo de nós estava o imenso
Oceano Pacífico.
“Essas mesmas
águas quebram igualmente nas costas oeste e leste, na Califórnia e na China. Paramahansaji
jogou uma pedrinha na primeira das setenta milhões de milhas oceânicas.
Encinitas é um local simbólico de uma colônia mundial.”
"Isso é
verdade, doutor. Vamos organizar aqui muitas conferências e congressos de
religião, convidando delegados de todas as terras. Bandeiras das nações serão
hasteadas em nossos salões. Pequenos templos serão construídos sobre esta área,
dedicados às principais religiões do mundo.”
“Assim que
possível”, continuei, “pretendo inaugurar aqui, um Instituto de Yoga. O
abençoado papel da Kriya-Yoga no Ocidente mal começou. Que todos os homens
saibam que existe uma técnica definida e científica de auto-realização para a
superação de toda miséria humana!”
15 de agosto de
1945, acaba a Segunda Guerra Mundial! Fim de um mundo; alvorecer de uma
enigmática Era Atômica! Os moradores do eremitério se reuniram no salão
principal para uma oração de ação de graças. “Pai Celestial, que nunca mais isso
volte a acontecer! Que Teus filhos, daqui por diante, caminhem como irmãos!”
Foi-se a tensão
dos anos de guerra; nossos espíritos vibravam de contentamento sob o sol da paz,
e olhei alegremente para cada um dos meus camaradas americanos.
“Senhor”, pensei
com gratidão: “Tu deste a este monge, uma grande família!”
P.S.
São palavras de Swami Premananda:
“A luz
radiante mais íntima dentro do olho espiritual é a porta mística da revelação
de Deus. Quando a mente permanece firmemente estabelecida nessa luz, ela é
gradualmente absorvida pelo fulgor sempre em expansão, permeado pela pura
autoconsciência que finalmente leva à realização do Eu absoluto, representado
pela Realidade Última, Brahman.”
“A meditação é a chave para a vida espiritual e a iluminação. É a única
maneira de conhecer Deus e nossa alma, nosso verdadeiro Eu. Meditação é muito
mais do que estudo e discussão. A compreensão intelectual e a deliberação
ponderada são os pré-requisitos vitais e fundamentais para a obtenção do
conhecimento e da sabedoria subjetivos e que devem levar à meditação. A
meditação é o meio supremo de alcançar a percepção direta das verdades
espirituais. Desde tempos imemoriais, o homem tem procurado encontrar o caminho
que leva à realização de Deus. E, descobrindo esse caminho dentro de si mesmo,
o chamou de Kriya-Yoga.
Literalmente, Kriya-Yoga é uma expressão sânscrita de duas palavras,
Kriya e Yoga. Kriya significa trabalho. Yoga significa união ou unidade. Em sua
conotação espiritual, Kriya-Yoga é o método subjetivo de meditação pelo qual a
realização da unidade da alma com Deus, é alcançada.”
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