“A música é uma revelação superior a toda sabedoria e filosofia”. Ludwig van Beethoven
O texto abaixo é o resultado de leituras, pensamentos, observações. Não posso afirmar a paternidade de tudo que está sendo afirmado no texto. É possível que seja o resultado de ideias alheias, lidas ou ouvidas, e de uma porção de minhas próprias, pois não podemos afirmar que nossas ideias são o resultado absoluto de nossos pensamentos.
Não existe nada mais justo do que prestar uma homenagem à forma mais sublime da expressão humana ... a da boa música, àquela que tem me inspirado, o meio que me transporta para além do limiar de minha percepção, que vai de encontro à uma imaginária ponte, e, que do outro lado, me coloca frente a frente com a maior revelação que me cabe encontrar ... a da consciência de mim mesmo. A boa música tem essa habilidade. Não importa a rítmica ... de um suave adagio ao compasso ritmado de uma inteligente melodia popular, ela me transporta à essa dimensão. Assim como transporta à outra dimensão, o rodopiar ritmado e melodioso dos dançarinos nas cerimonias Sufi, dessa porção mística da religião Muçulmana. Beethoven dedicou toda sua vida à música, mesmo durante os tormentos de sua surdez e a ela fez a grande reverência, produzindo algumas das melhores páginas da música clássica, afirmando ainda que a música é a mais alta revelação, estando acima da sabedoria e da filosofia! Na consciência da realidade dos sons produzidos, que é a verdade em música, podemos traçar um paralelo com a busca da verdade do espírito, e um inspirado autor de temas espirituais, Huberto Rohden faz menção em seus livros sobre a importância da música introspectiva durante a meditação.
Na busca da consciência de si mesmo, no homem que quer se encontrar consigo mesmo, que implica na busca da verdade, apesar de que ainda relativa para o incipiente conhecimento humano, desperta a busca do religioso, da ponte de ligação com o Ser Maior. Romain Rolland afirmava que: “Quando o nosso modo de pensar visa a verdade, a qualquer preço, e quando somos absolutamente sinceros nessa busca, prontos para qualquer sacrifício, é nesse momento que a nossa espiritualidade é realmente religiosa”. E a música pode se transformar numa ferramenta de religação com a mais alta expressão creadora do Cosmos, no imenso Big-Bang, que a ciência chama de “radiação cósmica de fundo”, do som da explosão mística do Creador, que expandiu o Universo e que deu origem a todos os outros sons.
A música é uma das mais elevadas e poderosas formas de expressão do espírito. Sua influência no desenvolvimento das civilizações continua sendo de fundamental importância. Logo que o homem começou a articular os primeiros sons, os transformou instintivamente em canto. Se pode dizer inclusive, que a música existiu antes da linguagem. Antes que o homem falasse, os não-humanos já cantavam ou emitiam sons. E o próprio homem, antes de falar, manifestava os seus sentimentos ou suas expressões, através do canto, quer fosse um canto de dor, de choro, ou um canto de alegria e vitória, o seu grito de triunfo perante a natureza, ou de encantamento diante da vida.
Na evolução humana, a música desenvolve um papel ainda não suficientemente avaliada em sua justa importância. Porque ela não representa apenas uma forma de manifestação do grau evolutivo dos indivíduos e dos povos: é também uma forma de incentivo do desenvolvimento individual e coletivo e principalmente do espírito. A origem da música se perde na distância dos milênios, mas tudo faz crer que ela é de origem religiosa. O canto, o coro, os primeiros instrumentos de percussão, de sopro, de cordas, foram elementos essenciais dos cultos religiosos mais remotos, das práticas de magias dos povos antigos mais distanciados no tempo. Mais tarde, nas grandes civilizações, como a egípcia, a babilônica, a hebraica, a grega, a romana e outras, a música se desenvolveu através das grandes celebrações e cerimonias religiosas, e, com a evolução social, nas festividades das cortes, cerimonias de estado, esportivas, dança, e gradualmente cedendo seu lugar para os amantes da música em si mesma. Hoje ela é parte integrante de todas as atividades sociais, sejam nas transmissões de rádio, televisão, teatros, espaços culturais e religiosos e de aparelhos eletrônicos ligados nos ouvidos humanos.
Embora os romanos possam ser acusados de terem removido de seu pedestal, a música grega, transformando-a em instrumento de diversão popular, souberam manter a solenidade da música em suas celebrações religiosas e cívicas. Por outro lado, após a queda do Império, a música se refugiou nos conventos, nos mosteiros, nas catedrais, guardando nesses recintos, em meio à barbárie, os ecos das civilizações desaparecidas. Mais tarde, na Idade Média, foi a chama que alimentou o espírito humano, preparando-o lentamente para a eclosão maravilhosa da Renascença. O Canto Gregoriano foi a poderosa matriz em que o espírito medieval se preparou para a epopeia do nascimento de um novo mundo.
Em algumas religiões onde não existem as formas exteriores do culto, a música não tem a aplicação litúrgica. No entanto, sua aplicação é múltipla: desde a preparação do ambiente nas reuniões e preces, até a contribuição para as mais complexas experiências dos fenômenos espirituais. A música celeste, de que tanto falam os místicos e os santos, deixa de ser uma expressão alegórica, para se transformar numa realidade verificável através da pesquisa e da experiência. Albert Einstein, esse famoso cientista universal, humanista, visionário e místico, costumava interromper seus estudos e se ligava diretamente aos sons do violino e piano, que nas horas de intuição, amava tocar, resultando dessa atividade, as mais inteligentes expressões do pensamento cientifico, das humanidades, fórmulas e cálculos.
Uma nova manifestação musical é a da música transcendental, que se aproxima da música clássica, mas que ainda é tão pouco explorada. É harmoniosa, cheia de grandiosidade e doçura, revelando-nos a existência de planos superiores da vida, muito diferente do plano grosseiro em que o homem vive a sua existência passageira. E essa música transcendental, harmoniosa, cheia de grandiosidade e doçura, não consiste somente em vibrações sonoras, porque emerge da junção de duas grandes forças espirituais: o amor universal e o poder das atitudes na creação de valores. Não são as vibrações físicas que importam, mas sim o espírito íntimo da música, que ao ser gerada de maneira autêntica no nosso mundo, determina a sua imediata repercussão nas esferas superiores.
Muitos consideram a música como uma manifestação mediúnica. Principalmente a que tem por base a melodia harmoniosa, a manifestação mais linda da alma humana. A música rítmica – e nela encontramos verdadeiras joias de lírica e harmonia - é ginástica mental, cálculo matemático, que embala o corpo. Infelizmente, o compositor desatento, nela exterioriza o instinto primitivo, muitas vezes de maneira barulhenta, grosseira e libidinosa.
A melodia musical é o resultado do que há de melhor em nossa alma. É poesia, essência. Daí, a ligação estreita que sempre existiu entre o compositor e as forças misteriosas do espírito. Nessa ligação, nem mesmo o artista toma conhecimento, a não ser quando tem noção das coisas transcendentais. Mas, de maneira geral, a sintonia entre os dois planos – o material e o espiritual – é conseguida através dessa vibração, desse especialíssimo estado de alma que se chama inspiração através da intuição!
Basta interrogar um compositor para se ter a ideia exata dessa afirmativa. O artista não compõe quando quer, mas quando pode, quando se sintoniza no plano da creação, do desejo incontido de fazer música, de escrever música, que pode ser profundamente subjetiva e que surge sem motivos aparentes, brotando da alma sem esforço. E no instante de compor, o artista sente o transe, sai fora da realidade para integrar-se em alguma coisa que ele mesmo não sabe explicar. É o instante glorioso da creação!
Às vezes, o compositor percebe conscientemente, as influências astrais, chegando mesmo a identificar as entidades colaboradoras de suas creações. Foi o caso de Schumann por exemplo, que sentia Beethoven ao seu lado na hora de trabalhar suas composições magistrais. Essa manifestação, por falta de maiores conhecimentos da ciência do espírito, conduziu o compositor da extraordinária obra “Träumerei” – uma das páginas musicais mais lindas de todos os tempos – aos territórios da loucura. Para Bach, esse compositor místico, sintonizado nas coisas do espírito e da transcendência, a música é o harmônico som para a glória de Deus e um prazer para os sensos mortais, muitas vezes prefaciando suas músicas com a inscrição “In nomine Jesu” (Em nome de Jesus). E mais recentemente um premiado pianista, ganhador de prêmio internacional de piano da Austrália, afirma nos meios de comunicação que ele é a reencarnação de um conhecido compositor!
Um dia, quando o ser humano estiver preparado para a realidade transcendental, a creação mental será associada à intuição, um fenômeno que está ligado intimamente às vibrações da alma do Cosmos em cada indivíduo, como dádiva divina, não sendo apenas fruto da sensibilidade de cada um.
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