Monday 10 January 2022

EU VENCI O MUNDO

Estas palavras do Cristo Jesus, nos convidam a perguntar: que mundo ele venceu? Não foi, certamente, o do Império Romano, que dominava parte do planeta, inclusive a pequena Palestina, onde ele nasceu e viveu.

O mundo foi para ele, toda a humanidade. No entanto, que humanidade era aquela, que não é diferente da dos dias atuais? Humanidade para o qual advertiu claramente: “O príncipe deste mundo, que é o poder das trevas, tem poder sobre vós”. Onde o próprio príncipe declara: “Todos os reinos do mundo e sua glória são meus, e eu os dou a quem eu quero”.

Logo, o que Jesus superou foi a humanidade dominada pelo poder das trevas.

Há, pois, duas humanidades: a humanidade de Satanás – e a humanidade de Jesus. E esta última parece estar representada somente por ele, pelo menos até ao dia do Pentecostes, enquanto seus discípulos estavam ainda sob o poder de Satanás.

A quase totalidade da humanidade de todos os tempos e países parece estar sujeita ao poder desse príncipe.

E desde quando, a humanidade está dominada pelo poder das trevas?

Desde o tempo do Gênesis.

Nesses mais de dois mil anos de cristianismo, parece, nunca foi tomado a sério o conteúdo desse documento da humanidade; nunca foram devidamente focalizadas as horríveis maldições que as Potências Cósmicas fulminaram sobre os homens: maldição sobre a inteligência simbolizada pela serpente: maldição sobre a mulher e maldição sobre o homem: “Maldita seja a Terra por tua causa”.

Estas arrasadoras maldições decretadas pelos Elohim supõem uma causa de imensa importância e gravidade, pois ninguém aponta canhões e metralhadoras contra moscas. 

E que causa é esta?

A causa que provocou essas repreensões deve ter sido de alcance cósmico, afetando toda a humanidade.

Paulo de Tarso, na epístola aos romanos, referindo-se a isto, diz que, até o presente momento, toda a natureza geme e sofre dores de parto, na expectativa da revelação dos filhos de Deus, porque os homens, que receberam as primícias do espírito não realizaram ainda a filiação divina; mas quando os homens se libertarem da sua servidão, a natureza também será liberta da servidão da sua corruptibilidade.

Vigora, pois, uma misteriosa simbiose entre o destino do homem e a natureza, ou seja, uma tragédia humana somente possível, devido ao livre arbítrio.

Quem desviou o homem da sua peregrinação na Terra, foi ele mesmo, fazendo prevalecer o Lúcifer da sua inteligência sobre o Deus do espírito.

O ego, diz a sabedoria milenar da Bhagavad Gita, é o pior inimigo do Eu espiritual. As leis cósmicas dão plena liberdade de evolução ao joio no meio do trigo, que prolifera até o tempo da colheita. Trigo e joio tem o mesmo direito à sua evolução – mas o destino final não será o mesmo.

Quando uma linha reta que aponta para o norte se desvia, por um milímetro que seja, aumenta gradativamente até o final, pois o sentido inicial foi totalmente desnorteado.

Esse desvio se deu no início da humanidade, pelo próprio homem, e continua através dos milênios – porque o joio tem de chegar à plenitude da sua evolução, para satisfazer a sabedoria das Leis Cósmicas.

Para a humanidade ainda profana, é difícil, ou impossível, compreender a gravidade da causa que provocou essas maldições. Mas essa adulteração das energias cósmicas do homem, que os orientais chamam Kundalini, e o Gênesis denomina serpente, deve ser de imensa gravidade, porque tende a frustrar o destino do homem normal. As energias cósmicas do homem são responsáveis pela melhora do patrimônio genético do corpo e da mente, e disto sabia Moisés, à luz da sua intuição cósmica, que lhe inspirou o Gênesis.1

Para neutralizar esse desvio inicial, o homem deve, segundo Jesus, nascer de novo “de água e espírito”, e não apenas “de carne e carne”; só assim ele realizará o reino de Deus, ou seja, a nova humanidade sobre a face da Terra.

A humanidade atual ainda está sob o poder das trevas, porque não venceu este mundo. O que ela pode e deve fazer é reduzir ao mínimo a sua escravidão, enquanto não nascer de novo de água e espírito.

Sobre mim, diz Jesus: o príncipe deste mundo não tem poder algum, porque eu venci o mundo. Desde o início, ele tinha vencido este mundo da serpente, porque a origem do corpo de Jesus já obedeceu às leis que dominam a matéria. E toda a sua vida terrestre foi orientada por essa mesma lei que vence o mundo.

O homem, que nasce de carne e carne, e não de água e espírito, pode apenas preludiar o novo mundo, diminuindo sua escravidão material e aumentando sua vitória espiritual. Até certo ponto, todo homem pode chegar a dizer: sobre mim, o príncipe deste mundo, que é o poder das trevas, não tem poder porque eu estou vencendo o mundo.

Aliás, o destino da encarnação terrestre do homem é unicamente esta progressiva emancipação do poder das trevas e essa progressiva libertação pelo poder da luz.

“Conhecereis a verdade – e a verdade vos libertará”.

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1)- Kundalini (Sakti) = Uma força psíquico espiritual, ou uma energia mística que fica adormecida na base da medula espinhal até ser ativada por práticas iogues. Concebida simbolicamente pelos iogues, como uma cobra enrolada nas vertebras espinhais, que se desenrola e sobe até ao topo do crânio, resultando na absorção do Espírito no Eu essencial e Divino, e que transporta o ser humano a um estado expandido de consciência.

Texto revisado extraído do livro QUE VOS PARECE DO CRISTO?  

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