Trinta e três anos após o nascimento de Jesus em Belém, nasceu o Cristo em Jerusalém, não num estábulo, mas nas almas de 120 dos seus discípulos. Este nascimento metafísico do Cristo ocorreu 53 dias depois da morte física de Jesus, 10 dias depois da ascensão, num domingo de manhã, provavelmente no dia 30 de maio do ano 33.
Nesse dia, aconteceu algo misterioso, inexplicável: 120 pessoas, homens e mulheres, ultrapassaram os abismos do seu ego humano, e atingiram as alturas do Eu divino, onde ocorreu a primeira auto iniciação.
A gloriosa data do autoconhecimento e da auto-realização.
Lucas, erudito, médico e discípulo, achou tão importante esse acontecimento que consignou a data e o momento exato: era às 9 horas da manhã, num domingo, no cenáculo de Jerusalém.
E essa eclosão do Cristo interno só ocorreu depois que os 120 discípulos de Jesus haviam passado por 9 dias de completo silêncio e profunda meditação.
Atualmente, numerosas pessoas, nos cinco continentes, compreendem que esse acontecimento marca a alvorada do verdadeiro Cristianismo, ou melhor, da vivência crística sobre a face da terra. E, como esta eclosão do Cristo se deu depois de 9 dias de silêncio e meditação, a elite crística do mundo faz períodos de silêncio e meditação, preparando assim o nascimento do Cristo em sua alma.
Na última ceia, quinta-feira à noite, no mesmo cenáculo, Jesus havia simbolizado numa parábola genial essa comunhão do Cristo com a alma humana. “Convém a vós – disse ele a seus discípulos – que eu me vá embora, porque, se eu não me for, o espírito da verdade não virá a vós”.
E, para dramatizar a morte do seu Jesus humano e o nascimento do seu Cristo divino, ele ofereceu a seus discípulos pão e vinho, fazendo-lhes ver que ninguém pode assimilar a alma desses alimentos sem primeiro ingerir o corpo material deles. É sabido que ninguém pode integrar em sua vitalidade pão e vinho, ou outro alimento qualquer, sem que primeiro o desintegre com a mastigação e digestão. O que se assimila não é o corpo, o componente material do alimento, mas sim a sua alma, a sua energia invisível, que a ciência chama “caloria”.
Para que o Cristo invisível pudesse ser integrado por seus discípulos, era necessário que o Jesus visível fosse primeiro desintegrado pela morte. Do mesmo modo, nenhum homem pode integrar o seu Eu divino sem que primeiro desintegre o seu ego humano: “Se o grão de trigo não morrer, ficará estéril; mas, se morrer, produzirá muito fruto”.
Na última ceia, o simbólico grão de trigo do ego humano não morreu em nenhum dos seus discípulos, e por isto não podiam produzir fruto. Jesus dera a seus discípulos os símbolos materiais, que não os fizeram produzir fruto espiritual; tanto assim que, depois da ingestão dos símbolos, um deles consumou o crime da traição, e logo depois de suicidou; outro o negou três vezes e jurou que não era discípulo dele; e todos, a exceção de um só, fugiram covardemente, abandonando o Mestre.
A comunhão eucarística não transformou nenhum dos discípulos em seres espirituais, porque eles só comungaram os símbolos materiais do pão e do vinho, que não santificam ninguém. E Jesus não estranhou que eles continuassem a ser os mesmos pecadores que sempre haviam sido. O pão e o vinho não os espiritualizaram.
Mas quando, semanas depois, eles comungaram o simbolizado espiritual, o espírito do Cristo – tudo mudou. Adeus, egoísmo! Adeus, ganância! Adeus, ambição! Adeus, todo o medo do sofrimento e da morte!...
Os 120 que comungaram o Cristo, foram perseguidos, martirizados e mortos, mas nenhum deles traiu nem renegou o Mestre; todos eles exultaram, quando eram achados dignos de sofrer martírio e morte pelo Cristo.
Se através de mais de 20 séculos, foram celebrados pelos cristãos os símbolos materiais do Jesus eucarístico – é chegado o tempo para que se celebre o simbolizado espiritual do Cristo carismático, comungando-o em espírito e em verdade.
Se o Jesus eucarístico não fosse privilégio e monopólio de uma classe religiosa dominante, o Cristo carismático já teria eclodido no mundo cristão, porque este não é monopólio de nenhuma classe. Uma pequena elite crística está em vésperas de celebrar um novo Pentecostes, abrindo os olhos para o Cristo que disse; “Estou convosco todos os dias até à consumação dos séculos”.
E esses discípulos do Cristo e candidatos à comunhão em espírito e verdade sabem que, “quando o discípulo está pronto, o Mestre aparece”. E eles se prontificam para o nascimento do Cristo em silêncio e meditação, como aqueles 120 do primeiro século.
“As palavras que vos digo são espírito e são vida – a carne de nada vale... Eu sou o pão vivo que desceu do céu... Eu sou a ressureição e a vida – quem tem fé em mim não morrerá, e, ainda que tenha morrido, viverá para todo o sempre”.
Quando o ego humano desce ao nadir do seu voluntário esvaziamento, o Eu divino subirá ao zênite da sua Cristo-plenificação. É este o verdadeiro advento do Cristo em espírito e em verdade.
Texto revisado, extraído do livro QUE VOS PARECE DO CRISTO?
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