Paul Brunton (1898-1981), nascido em Londres, Inglaterra, foi um filósofo, místico, escritor, viajante, que abandonou uma carreira jornalística de sucesso para viver entre iogues, místicos e homens santos, estudando uma grande variedade de ensinamentos esotéricos orientais e ocidentais. Com a nova vida, dedicou-se a uma busca interior e espiritual, sentindo-se encarregado da tarefa de comunicar suas experiências para o mundo e, como a primeira pessoa a escrever relatos do que ele aprendeu no Oriente a partir de uma perspectiva ocidental, onde suas obras tiveram um grande influência sobre a propagação do misticismo oriental para o ocidente. Ele também foi um dos primeiros ocidentais, no começo dos anos de 1930, a apresentar Arunáchala e Sri Ramana Maharishi - um dos mais célebres videntes dos tempos modernos - para uma maior atenção do público mundial.
Em A Mensagem de Arunáchala, Paul Brunton ataca e pulveriza construtivamente a maioria das instituições da civilização moderna, onde no capítulo RELIGIÕES, apresenta uma interessante abordagem sobre a decadência da igreja.
A palavra religião, vem da palavra latina "religio" que tem um significado influenciado pelo verbo "religare", de ligar-se, apegar-se a algo concreto ou abstrato. No sentido abstrato, refere-se ao sobrenatural ou ao supernatural, à divindade, à mística, à fé em algo supostamente intangível e que não necessita de demonstração científica. Palavra que no entender de Huberto Rohden, geralmente está ligada ao conceito de alguma igreja, seita, credo, mas que, no entanto, está divorciada da alma do que é a verdadeira religião, que é estar em sintonia com o poder creador, da união com o Infinito, do transbordamento da experiência mística em vivência ética.
Nos tempos em que se ostentam igrejas salvadoras em todos os continentes do planeta, todas elas oferecendo a redenção e julgando ser detentoras da verdade, "religiões apressadas, salvadoras, na sua ingenuidade mítica, arrastando multidões desprevenidas e sem esclarecimento que, fracassadas, desprezadas pela cultura consumista, sem alma no meio do convívio social, se refugiam dentro desses templos, cultuando e esperando o paraíso eterno que a eles está reservado como prêmio ao sofrimento", o texto abaixo se coloca como mais uma importante advertência.
“O nosso desiludido século fez a desagradável descoberta de que seus chamados guias espirituais não são necessariamente espirituais; que, quando eles abençoam exércitos inimigos ou propõem políticas contraditórias, limitam-se assim, a revelarem-se como quaisquer homens comuns, assim como eu, você e outros simples mortais. Adiciona-se a isso também é que os guardiões das religiões sectárias de todos os cantos da terra, são sempre os primeiros a atacar a verdadeira Religião, quando esta apareceu publicamente e foi anunciada pelos grandes Profetas. E em suporte a isso, retribuíam o que ganhavam, a favor de obsoletas superstições e verdades duras de se aceitar, pois era difícil de se esperar que eles aceitassem puras Verdades.
Quando uma religião sofre de decadência espiritual, através de um clero não iluminado, seus seguidores tornam-se demasiado dependentes de formas pré-concebidas e de uma divindade distante. A carga do sacerdócio fica acumulada de entulho teológico e seus seguidores de antiquadas futilidades. Aquilo que deveria ser como uma voz divina para a seus seguidores, cresce triste e enfadonha, incapaz de satisfazer as necessidades efetivas destes seguidores, constantemente remontando-os ao passado morto. Podemos culpar os jovens que hesitam em confiar o seu destino espiritual àqueles que proferem banalidades sombrias sobre a divindade, e que mostram tão pouco dessa divindade neles mesmos?
Sacerdotes de cujos dogmas conseguiram erguer imensa cortina de ferro e intolerância; pregadores que estão mais preocupados com ajudas financeiras do que espiritualizarem-se a si mesmos; clérigos que são prisioneiros de suas igrejas e revestidos de doutrinas refutadas; bispos paramentados que cometem o erro de imaginar que uma organização religiosa deve ser apoiada pelo Estado, apoiados pelo seu poder e alimentados por suas finanças, em vez de uma Igreja inspirada e vital o suficiente para apoiar o Estado com a sua energia espiritual; clérigos que esparramam uma intolerável linguagem afetada e tolas bobagens santificadas, suas palavras ocas ecoam pelas paredes das igrejas semivazias; perseguidores que falharam em captar a primeira letra do alfabeto da verdadeira religião, merecendo, assim, a sábia e cínica sentença de Montesquieu onde ele implorou a eles que, "se eles não podiam se comportar como cristãos, que se comportassem pelo menos como homens!" - Todos estes servos cegos de um Deus irreal não devem lamentar as falhas de nossa geração, mas atender a sua própria”.
Texto extraído do livro A Message from Arunachala
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