Aprende-se e apreende-se mentalmente – compreende-se espiritualmente.
Aprender e apreender é um processo analítico, silogístico, sensitivo-intelectual. 1
“Não há nada no intelecto que não tenha estado no senso”, diz o velho adágio filosófico. O que os sentidos percebem fisicamente, o intelecto o concebe e elabora metafisicamente; mas essa elaboração metafísica do intelecto não rouba a percepção física do seu caráter individual e unilateral.
Só quando o homem compreende – isto é, “prende totalmente” – é que ele sabe de fato o que a coisa é em si mesma. Mas esse compreender não é um processo analítico-silogístico, um ato sensitivo-intelectivo, mas sim, um fato simultâneo, repentino, uma revelação ou iluminação interna, e não uma aquisição externa. A compreensão não é derivada dos objetos externos, mas do sujeito interno, eterno e infinito, que é Deus, a Tese Absoluta, e que, em sua forma humana, se chama alma. Aprende-se de fora, compreende-se de dentro. O aprender é feito pelo ego físico-mental – o compreender é feito pelo ego racional-espiritual, pelo Cristo interno, por Deus em nós.
Para aprender, o homem necessita de uma vasta expansão do intelecto em direção centrífuga – para compreender requer-se uma profunda concentração da alma em direção centrípeta.
A quantidade dos fatos externos apreendidos torna o homem erudito, inteligente – a qualidade do valor interno compreendido torna o homem bom e santo.
Nenhuma religião promete o céu aos homens inteligentes – todas prometem o céu aos homens bons; porquanto, descobrir fatos fora de mim me faz apenas erudito, mas não me faz bom; ao passo que realizar valores dentro de mim me faz realmente bom. Eu sou o descobridor de fatos, e isto não atinge a essência do meu ser – mas eu sou também o creador de valores próprios, e isto atinge a íntima essência do meu Eu.
O rei da inteligência, porém mau, pode se sentir feliz - mas é infeliz, porque o seu mundo é feito de fatos descobertos por sua poderosa inteligência, mas não de valores realizados por seu espírito. E, por isto mesmo, o seu céu intelectual é o seu inferno espiritual – um céu infernal.
Nenhum fato externo me pode fazer feliz ou infeliz – só uma realização interna é que me abre as portas do céu ou do inferno.
Eu sou o creador do meu céu – eu sou o autor do meu inferno!
É nisto que está o meu maior privilégio – e o meu maior perigo!
Quão estupenda era a filosofia cósmica daquele que disse: “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se chegar a sofrer prejuízo em sua própria alma?”
Que aproveita ao homem descobrir e possuir todos os fatos descobertos pela inteligência – se com isto perder o seu valor interno, que só a alma pode realizar?
A ciência descobre os objetos – a consciência realiza o sujeito!
Eu sei do conteúdo do meu conhecimento em ciência – mas eu sou o conteúdo da minha consciência! O que me faz feliz não é aquilo que eu sei, mas aquilo que eu sou... Quando se fundirem numa grandiosa unidade cósmica aquilo que eu sou e aquilo que eu sei – então serei perfeita e perenemente feliz...
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1)- O silogismo é um recurso usado no raciocínio em que uma conclusão é tirada de duas proposições dadas ou assumidas (premissas); um termo comum ou intermediário está presente nas duas premissas, mas não na conclusão, o que pode ser inválido (por exemplo, todos os cães são animais; todos os animais têm quatro pernas; portanto, todos os cães têm quatro pernas).
Texto revisado, extraído do livro Ídolos ou Ideal
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