Thursday 7 October 2021

APREENDER E COMPREENDER – DESCOBRIR FATOS, REALIZAR VALORES

Aprende-se e apreende-se mentalmente – compreende-se espiritualmente.

Aprender e apreender é um processo analítico, silogístico, sensitivo-intelectual. 1

“Não há nada no intelecto que não tenha estado no senso”, diz o velho adágio filosófico. O que os sentidos percebem fisicamente, o intelecto o concebe e elabora metafisicamente; mas essa elaboração metafísica do intelecto não rouba a percepção física do seu caráter individual e unilateral.

Só quando o homem compreende – isto é, “prende totalmente” – é que ele sabe de fato o que a coisa é em si mesma. Mas esse compreender não é um processo analítico-silogístico, um ato sensitivo-intelectivo, mas sim, um fato simultâneo, repentino, uma revelação ou iluminação interna, e não uma aquisição externa. A compreensão não é derivada dos objetos externos, mas do sujeito interno, eterno e infinito, que é Deus, a Tese Absoluta, e que, em sua forma humana, se chama alma. Aprende-se de fora, compreende-se de dentro. O aprender é feito pelo ego físico-mental – o compreender é feito pelo ego racional-espiritual, pelo Cristo interno, por Deus em nós.

Para aprender, o homem necessita de uma vasta expansão do intelecto em direção centrífuga – para compreender requer-se uma profunda concentração da alma em direção centrípeta.

A quantidade dos fatos externos apreendidos torna o homem erudito, inteligente – a qualidade do valor interno compreendido torna o homem bom e santo.

Nenhuma religião promete o céu aos homens inteligentes – todas prometem o céu aos homens bons; porquanto, descobrir fatos fora de mim me faz apenas erudito, mas não me faz bom; ao passo que realizar valores dentro de mim me faz realmente bom. Eu sou o descobridor de fatos, e isto não atinge a essência do meu ser – mas eu sou também o creador de valores próprios, e isto atinge a íntima essência do meu Eu.

Ainda que eu descobrisse todos os fatos objetivos do mundo, se eu fosse por exemplo um cientista, inventor, etc., eu seria feliz? Não! Por que não? Porque não teria creado nenhum valor humano dentro de mim, e, como a minha felicidade é essencialmente idêntica a essa creação de valores internos, nenhum descobrimento de fatos afetará a íntima essência do meu ser; são fatos periféricos, distantes do meu Eu; é uma luz fria fora de mim, mas não uma força de calor dentro de mim. A minha felicidade não é fabricada com a matéria-prima impessoal de fatos objetivos, que minha inteligência descobre, mas sim com a força pessoal de valores subjetivos que minha alma crea e realiza.

O rei da inteligência, porém mau, pode se sentir feliz - mas é infeliz, porque o seu mundo é feito de fatos descobertos por sua poderosa inteligência, mas não de valores realizados por seu espírito. E, por isto mesmo, o seu céu intelectual é o seu inferno espiritual – um céu infernal.

Nenhum fato externo me pode fazer feliz ou infeliz – só uma realização interna é que me abre as portas do céu ou do inferno.

Eu sou o creador do meu céu – eu sou o autor do meu inferno!

É nisto que está o meu maior privilégio – e o meu maior perigo!

Quão estupenda era a filosofia cósmica daquele que disse: “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se chegar a sofrer prejuízo em sua própria alma?”

Que aproveita ao homem descobrir e possuir todos os fatos descobertos pela inteligência – se com isto perder o seu valor interno, que só a alma pode realizar?

A ciência descobre os objetos – a consciência realiza o sujeito!

Eu sei do conteúdo do meu conhecimento em ciência – mas eu sou o conteúdo da minha consciência! O que me faz feliz não é aquilo que eu sei, mas aquilo que eu sou... Quando se fundirem numa grandiosa unidade cósmica aquilo que eu sou e aquilo que eu sei – então serei perfeita e perenemente feliz...

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1)- O silogismo é um recurso usado no raciocínio em que uma conclusão é tirada de duas proposições dadas ou assumidas (premissas); um termo comum ou intermediário está presente nas duas premissas, mas não na conclusão, o que pode ser inválido (por exemplo, todos os cães são animais; todos os animais têm quatro pernas; portanto, todos os cães têm quatro pernas).

Texto revisado, extraído do livro Ídolos ou Ideal

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