No início do ano de 1945, Huberto Rohden recebe bolsa de estudos do Seminário Teológico da Universidade de Princeton onde teve a oportunidade de conviver com Albert Einstein, de onde escreveu um de seus livros mais vendidos, Einstein, O Enigma do Universo. Após esse período, no dia 25 de setembro de 1946, às 8:30 recebe das mãos do Dr. Paul Frederick Douglass, Presidente da Universidade Americana em Washington D.C., o convite para reger as cátedras de Filosofia Universal e Religiões Comparadas, cargo que exerceu por 5 anos.
O texto abaixo foi escrito nesse período, em um livro primeiramente editado em 1961, com o título de IDOLOS OU IDEAL?
“Acabo de escutar, numa estação emissora de Washington, um diálogo entre um teólogo romano e um juiz sobre a divindade do Cristo. Afirmava o teólogo que a maior desgraça era a negação dessa divindade da parte de milhares de cristãos do presente século.
O juiz respondeu que ele considerava uma calamidade fazer depender a salvação ou condenação da aceitação ou rejeição de um dogma como este. O que quer dizer, aceitar ou não-aceitar a divindade do Cristo? Não consiste num ato de inteligência e vontade? E não depende esse ato da maior ou menor clareza com que alguém percebe as razões pró ou contra esse dogma? E não depende essa maior ou menor clareza de uma instrução eclesiástica e certo grau de interesse neste ou naquele sistema teológico? E que tem isto a ver com Deus, com salvação ou condenação?
Sou eu mais crístico e mais amigo de Deus depois de dizer “sim”, e menos espiritual depois de dizer “não” a uma pergunta sobre a divindade do Cristo? Na realidade, o meu “sim” ou o meu “não” nada tem a ver com o meu verdadeiro cristianismo, se por cristianismo se entende a união com o espírito de Deus, e não este ou aquele grupo eclesiástico a que pertenço por força de nascimento ou de outras circunstâncias externas.
O que decide sobre o fato de eu ser crístico ou não, é a minha vida, a profunda e permanente atitude do meu interno ser e do meu externo agir em perfeita sintonia com o espírito do Cristo. Esse espírito, porém, nada tem a ver com a forma deste ou daquele credo, mas resume-se nos dois grandes mandamentos do amor de Deus e do próximo, nos quais dependem “toda a lei e os profetas”. O “sim” ou “não”, verbal ou mental, em nada modifica a minha atitude de ser e de agir, e é profundamente deplorável que uma grande parte do cristianismo eclesiástico do Ocidente, dê maior importância a essa profissão de fé teológica imposta por seu grupo, do que à realidade da vida emanada do espírito do Cristo.
E, para salvar esse credo eclesiástico, os seus adeptos têm cometido, e continuam a cometer os maiores atentados ao espírito do Cristo, eliminando infiéis e hereges, excomungando dissidentes, inculcando aos devotos o desprezo para com os que não professam o mesmo credo – matam o espírito de Cristo para salvar uma teologia pseudo cristã!
Enquanto eu não puder dizer, com absoluta verdade “Já não sou eu que vivo – o Cristo é que vive em mim”, como o fez Paulo de Tarso, eu não aceitei o espírito do Cristo, embora professe a mais ortodoxa das fórmulas sobre sua divindade. Mahatma Gandhi nunca aceitou nenhum credo eclesiástico; Albert Schweitzer é conhecido como herege pelas igrejas cristãs protocolares – mas dificilmente encontraremos dois homens que vivam com maior pureza e fidelidade o espírito do Cristo, em profundo amor de Deus e vasta caridade aos homens.
É de absoluta necessidade que o mundo cristão se torne crístico, vivendo realmente seu espírito, em vez de apenas professar teoricamente este ou aquele dogma sobre sua divindade.”
Texto revisado extraído do livro Ídolos ou Ideal?
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