O texto abaixo, faz parte de um projeto de ideias por longo tempo gerados e que se materializaram nos anos 60.
Alguns talvez o entendam como um projeto de ficção, resultado da fértil imaginação creadora de seu autor, o filósofo, educador, teólogo, polímata e poliglota, Huberto Rohden. No entanto, a imaginação pode ser passageira, uma fantasia, uma representação, suposição, uma cisma; pode ser também o resultado de um juízo errôneo, de uma apreciação irrefletida, que se dissolve no éter.
No caso das reflexões desse texto, a imaginação cedeu lugar à uma outra ferramenta, mais necessária, que é a da intuição, que transportou o autor ao pressentimento da verdade.
A palavra latina intueri significa: ver de dentro. Albert Einstein disse que o homem tem a habilidade de analisar fatos e intuir ao mesmo tempo; e foi mais além, afirmando que as grandes leis do Universo não podem ser descobertas apenas pela análise e pela lógica, mas precisam da intuição. Analisar, imaginar, é ver de fora e intuir é ver de dentro, ou seja, uma visão externa e uma visão interna.
Como prova do resultado assertivo da razão intuitiva de Einstein, foi o fato ocorrido em maio de 1919 quando de um eclipse solar que teve a maior repercussão cientifica desse fenômeno, onde Einstein deduziu por intuição, que a trajetória da luz das estrelas seria desviada ao passar por uma região emitindo um forte campo gravitacional, como do Sol. E foi justamente isso que aconteceu... pois seis meses depois, fotos e cálculos divulgados por cientistas britânicos sobre o fenômeno, deram razão a Einstein.
E disse também, que “... a certeza intuitiva é anterior a qualquer prova, mas provas são necessárias para justificar a certeza para quem não tem certeza, pela intuição”.
Finalizando esse prefácio, o que se Rohden mostra a seguir, é o diálogo imaginário - ou intuitivo? - entre um Reverendo e um Leigo. O primeiro, um membro da igreja e seguidor do evangelho de Roma, contaminado e conveniente; o segundo, um seguidor do Evangelho de Jesus, em O MILAGRE É CONTRA AS LEIS DA NATUREZA?
R– O senhor acredita em milagres?
L– Por que não?
R– Mas o milagre é uma exceção das leis da natureza, e a ciência provou que isto é impossível; as leis naturais são constantes e imutáveis.
L– Perfeitamente, as leis naturais são constantes e imutáveis, concordo, mas nego que o milagre seja uma exceção dessas leis; afirmo que o milagre é a mais brilhante confirmação das leis da natureza.
R– Não compreendo essa sua filosofia...
L– Não compreende? Mas como podes ignorar estas coisas? Cada domingo, do alto do púlpito, o Reverendo fala a seu rebanho sobre a vida de Jesus, e acha que o milagre é incompatível com as leis da natureza? Ou o milagre não é de Deus – ou a natureza não é Deus! Não é admissível que haja contradição nas obras de Deus.
R– O que eu digo a meu rebanho são as grandes verdades éticas contidas no Evangelho de Jesus, mas quanto aos milagres, evito falar.
L– Pelo que vejo, o Reverendo desejaria ver os Evangelhos “expurgados” desse obstáculo que são os milagres de Jesus.
R– Tem razão. Eu preferia um Evangelho sem milagres, porque seria um Evangelho mais científico. Se conseguíssemos expurgar o Evangelho desses numerosos milagres, teríamos o mais grandioso documento da ética que já apareceu sobre a face da terra.
L– Mas então, não teríamos o Cristianismo.
R– Como não? Não está o Cristianismo baseado sobre os Evangelhos?
L– De forma alguma! O Evangelho não é a base do Cristianismo! Quer dizer, o Evangelho como sistema doutrinário de ideias, sem os milagres do Cristo, como o Reverendo o desejaria.
R– Se não é o Evangelho, o que é então a base do Cristianismo?
L– O Cristo Jesus, e nada mais. O Cristianismo não é outra coisa senão o próprio Cristo histórico, presente através dos séculos; o eterno Lógos, que se fez carne a habita entre nós, e está conosco todos os dias até a consumação dos séculos. “Cristo, o mesmo, ontem, hoje e para todo o sempre”. Mas esse Cristo real é absolutamente inconcebível sem o milagre, porque o milagre o revela como soberano de todas as forças da natureza. O cristianismo não é um sistema de doutrinas éticas, o Cristianismo é um fato objetivo, uma grandiosa realidade histórica, permanente, é a mais estupenda invasão do mundo divino no mundo humano. Ideias e doutrinas não dão forças – toda a força vem da realidade. O Cristianismo não é uma ideia ética ou poética; o Cristianismo é a maior das realidades. Nunca ninguém viveu e nem morreu por uma ideia – mas por uma realidade, e muitos tem vivido e morrido, em todos os tempos e países.
Se Sócrates, Platão, Buda ou outros gênios espirituais da humanidade tivessem escrito no Evangelho, tal qual o temos hoje, com todas as suas doutrinas éticas, não teríamos o Cristianismo. Mas, se não tivéssemos o Evangelho com a presença do Cristo, ainda assim teríamos o Cristianismo em toda a sua pureza, força e plenitude, porque o Cristianismo é o Cristo permanentemente presente no mundo, portanto, o Cristo real não é concebível sem o milagre.
R– Por que não?
L– Porque pelo milagre ele provou que é superior a todos as leis da natureza e que delas se pode servir como quiser, espontaneamente, sem a menor violência contra essas leis. O homem meramente sensitivo, é escravo das leis da natureza; já o intelectual a escraviza, tratando-a como um tirano trata seu escravo, divorciado dela. Mas o homem espiritual, racional, cósmico, o homem integral, o Cristo ou o homem cristificado, não é nem escravo e nem a escraviza – é amigo e aliado, e por isto, coopera, e isso é ser taumaturgo. Quem faz milagres por força da sua essência, prova que deixou de ser escravo e de escravizar a natureza. O Cristo Jesus provou em sua plena maturidade humana e adultez espiritual pelo fato de cooperar pacífica e espontaneamente com todas as leis da natureza.
O homem que pensa dominar a natureza mentalmente, possui um domínio parcial, precário, fragmentado, incerto, violento, e é por isso que muitas vezes falha nas suas tentativas mágicas em experimentos biológicos - mas o homem espiritual não falha, porque o seu domínio é absoluto e espontâneo.
Toda a confusão que reina nesse setor vem do costume do homem identificar a grandeza da natureza com a pequenez da sua própria natureza. Quando uma força da parte desconhecida da natureza invade a parte conhecida da mesma, o homem tem a impressão de ter acontecido algo alheio ou até contra as leis da natureza.
Para citar como exemplos, ou usando comparações: uma criança da escola primária lê com alguma dificuldade o seu primeiro livro e o chama de “literatura da humanidade”. Para essa criança, os dramas de Shakespeare, a Divina Comédia de Dante, Fausto de Goethe, o Paraíso Perdido de Milton, os Lusíadas de Camões, Dom Quixote de Cervantes, etc., não fazem parte da literatura mundial, porque não estão contidos no universo que ela chama de literatura da humanidade.
Um aluno de seis ou sete anos de idade, aprendeu a tabuada, que representa para ele “a matemática como ela é”. Mas um certo dia, ele se depara com uma obra de matemática avançada, digamos Relatividade ou Teoria do Campo Unificado, de Einstein, ou alguma obra de Copérnico, Johannes Kepler, Galileu e Isaac Newton, que representam altos níveis da ciência dos números – mas, para o jovem aluno, tudo isso está fora do reino da matemática.
E é a partir desses exemplos, que o homem identifica a natureza com a fração que dela conhece, e constrói a filosofia sobre esse fragmento.
Os milagres de Jesus e dos seus discípulos, de todos os tempos e países, ultrapassaram as fronteiras dos rudimentos da matemática, que se convencionou chamar de “a natureza”, mas não ultrapassam as fronteiras da Natureza Absoluta, isto é, da Realidade Universal, porque é o próprio Deus, o Infinito, a Tese Absoluta, o Todo, a Alma e Essência do Universo, para além de que nada existe, porque o Todo abrange tudo o que é real. Ele é a essência da natureza, de cada átomo e de cada astro, de cada pirilampo e de cada relâmpago; de uma pedra, planta, inseto, ave, peixe, animal, homem e anjo, assim com a Vida está dentro de cada ser vivo.
A transcendência de Deus não exclui a sua imanência, e a imanência não contradiz a transcendência. Os dualistas, ou quase todos os teólogos ocidentais, admitem a transcendência de Deus, mas negam, ou pelo menos ignoram, a sua imanência. Os panteístas orientais admitem a imanência de Deus em todas as coisas, mas negam ou ignoram muitas vezes a sua transcendência, identificando Deus com todas as coisas. O verdadeiro monoteísmo, porém – que é o Cristianismo genuíno e integral – sabe que Deus é ao mesmo tempo transcendente ao Universo e imanente em cada fenômeno do mundo.
R– O que acontece então, quando alguém realiza um milagre?
L- O seguinte: o taumaturgo aplica uma lei natural que está para além das fronteiras do mundo material, digamos da física e da química de laboratório, mas não está fora da Natureza como um todo, por que fora dela, nada existe.
R– O que existe para além das forças materiais da natureza?
L– Existem as forças mentais e as forças espirituais, que é a Razão, ou o eterno Lógos. Mas tanto o material como o mental e o espiritual fazem parte da natureza.
Para um homem que conhece água apenas em seu estado líquido e nunca a viu congelada, que conceito formaria desse elemento? Para ele, essa água não faz parte das leis da natureza porque ele vê na forma líquida, o estado normal da mesma! Imagine se a visse em estado de vapor; será que a aceitaria como água, essa substância suspensa no ar? Não seria isso também contra as leis naturais da gravidade?
E se essa água sofresse a ação de uma eletrólise transformando-a nos gases H (hidrogênio) e O (oxigênio); e se alguém dissesse a esse homem que esses elementos são altamente inflamáveis; será que ele aceitaria a combinação de H e O como água? Não, ele diria: a água apaga o fogo, consequentemente, não admitindo semelhante coisa como científica e natural!
E se fosse dito a ele que o hidrogênio e o oxigênio podem ser desintegrados a ponto de resultar uma energia milhares de vezes mais sutil e poderosa do que todos os estados anteriores da água?
Água, gelo, vapor, gás, energia nuclear – a mesma substância em cinco estados diversos, e tanto mais poderosos quanto menos materiais, mais sutis, dotados de propriedades e modos de agir distintos. Será que isto é ciência natural?
Talvez não seja ciência para os rudimentos do conhecimento primário, mas é ciência nos níveis superiores da universidade do espírito.
Do mesmo modo, o milagre é anticientífico para os que pouco conhecem do Livro da Natureza, mas para os universitários da razão e do espírito, o milagre é a mais brilhante confirmação das leis da natureza, porque revela a sua infinita amplitude.
Quase nada se pode fazer com um litro de água, se essa for derramada em um pequeno moinho de brinquedo, que giraria por poucos minutos apenas. Mas, com a mesma quantidade de água, evaporada e aplicada aos pistões de uma pequena máquina, se pode produzir alguma força.
Ainda com o mesmo litro d’água, desintegrada pelo bombardeio atômico, se pode obter a energia suficiente para mover uma aeronave.
Ora, assim como o homem de antigamente só sabia utilizar as forças periféricas da água, e agora lança mão da energia nuclear que se pode obter da mesma, sem ultrapassar nem contradizer as leis da natureza, da mesma forma se serve o taumaturgo, mental ou espiritual, de forças naturais desconhecidas e não atingidas pelo homem comum, conhecedor apenas de forças materiais.
O que o Cristo Jesus fez, todo o homem cristificado pode fazer, como ele mesmo afirmou: “As mesmas obras que eu faço vós as fareis, e as fareis maiores”. “Nada é impossível àquele que em fé”.
Trata-se
simplesmente de libertar dentro de cada ser, energias profundas e poderosas.
Infelizmente, o homem comum reluta liberta-las porque vive centrado nas ilusões
do materialismo e não crê na existência dessas energias, por absoluta falta de
fé.
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