Durante o ano de 1937, o Prof. Huberto Rohden, considerado o Paulo de Tarso brasileiro, viajou na vasta região amazônica, divulgando as mensagens do Evangelho de Jesus por meio de seus livros, palestras, conferências, encontros e distribuindo um famoso jornal de sua autoria, a “Cruzada da Boa Imprensa”, que espalhava para a humilde população local as verdades contidas no Evangelho.
Anos mais tarde,
esse mesmo jornal, que chegou a ser publicado na Europa e África, acabou sendo
proibido pelo clero romano, que não admitia uma voz defendendo o verdadeiro
Evangelho, pois para o clero, a imagem humilde dessa pratica cristã, colocava
em risco a ostentação e o luxo em que vive o evangelho do clero.
Infelizmente, até
os dias atuais, os fiéis católicos são mantidos artificialmente na ignorância
da verdadeira catolicidade cristã, e toda essa adulteração começou no século 4,
quando o sacerdócio, de ideal apostólico, passou a ser uma profissão lucrativa,
fonte de prestigio social, político e econômico. Enquanto o sacerdócio não se
reintegrar no espírito de absoluta gratuidade proclamada por Jesus, o pseudo
catolicismo clerical não será substituído pela catolicidade de Cristo.
Huberto Rohden,
após 25 anos de sacerdócio, com quase 100 obras literárias escritas e
posteriormente proibidas pelo clero, decidiu abandonar a igreja católica e se
voltar ao pensamento independente, filosófico e educacional-crítico, de seu
trabalho cristão em favor de toda a humanidade.
Abaixo, um pequeno
trecho de sua visão objetiva e mística dessa grandiosidade na natureza,
retirado de sua obra autobiográfica de dois volumes, “Por Um Ideal”, que é uma
fascinante jornada pelo interior de sua dimensão humana, assim como, pelos mais
distantes rincões de um país cheio de cores e diversidades.
“A estupenda
exuberância e deslumbramento da sua flora e fauna, não pode ser descrita na
silenciosa brancura de uma folha de papel inerte e dar ao leitor a exultante e
vibrante epopeia viva da realidade objetiva que é a floresta amazônica, pois
quem não viu com os seus próprios olhos, e viveu com sua alma, essas
magnificências, nunca terá exatamente a ideia do que seja essa maravilhosa
creação de Deus.
Calor perene,
umidade abundante, solo fértil – eis os requisitos básicos para esse eldorado
do mundo vegetal e animal no clímax da sua expansão e vitalidade. Aqui imperam
ainda, em toda sua majestade, os longínquos períodos pré-históricos da era
mesozoica, quando as condições no planeta se achavam empenhadas nessa dramática
evolução que assinala a transição da adolescência para a maturidade. Aqui, o
livro do Genesis continua aberto, em plena evolução do segundo ou terceiro “dia
da creação” ...
No meio dessas
selvas tropicais, novamente me invadiu o desejo de estar a sós para sempre, com
Deus e minha alma - a voz do meu estranho egoísmo místico. Porque será que o
contato com a natureza virgem nos inspira essa profunda e benéfica quietude
interior – quietude que poderá, ao mesmo tempo converter-se em malefício, num
veneno inebriante?
Os místicos
orientais costumam dizer que a natureza revela e vela a Deus, e isso é
profundamente verdadeiro. Revela, manifesta, porque é obra de Deus: vela,
oculta, porque esta revelação é incompleta. Na natureza não humana, Deus
aparece como um poder impessoal, revelado pelo imperativo ético do dever moral.
No entanto, Deus não é impessoal, como aparece na natureza, nem pessoal, como
aparece na consciência humana, mas supra personal, ou melhor, Todo-pessoal,
como aparece na experiência íntima dos grandes videntes e místicos, quando “arrebatados
ao terceiro céu”, percebem “ditos indizíveis”, como diz Paulo de Tarso, depois
de passar pela zona do impessoal e do pessoal e aterrissar nas praias
desconhecidas do Todo-pessoal cujo conteúdo é “dito” à alma, mas não pode ser dito
pelo intelecto ou pelos lábios humanos. Permitir-se ser absorvido e embriagado
pelo fascínio impessoal da natureza é um perigo sutil, um veneno suavemente
mortal para o homem sensível o suficiente a essa sedução, mas ainda não
suficientemente iniciado na personalidade única do mundo divino ...
Quem jamais
experimentou, no seu subconsciente, essa veemente sucção dos misteriosos
abismos da natureza não humana, sabe do perigo que há nessas inebriantes
melodias das tenebrosas Circes das profundezas e das fascinantes Sereias de
ilhas longínquas ... E sabe também que esses demônios dos abismos de mundos
desconhecidos só se transformam em anjos de alturas celestes depois que o homem
ingressou na intensa luz de uma experiência do reino de Deus dentro dele mesmo.
Para esse homem cessou a funesta sucção do redemoinho rumo ao abismo; a natureza
se lhe tornou amiga e aliada no seu caminho em demanda ao Creador comum de
ambos.
Eu pensava em tudo
isto e muito mais, na misteriosa penumbra que me envolvia por entre os
gigantescos troncos e as altíssimas frondes dessa imensa catedral das selvas
amazônicas, ao trovejante Te-Deum da cachoeira e das discretas melodias das
aves e dos insetos em redor.”
Texto revisado extraído do livro Por Um Ideal, volume II
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