Tuesday 6 April 2021

NÃO RESISTAIS AO MALIGNO!

Nenhuma igreja, nenhum estado aceitaram, até hoje, essa doutrina, pois nessas instituições, nas sociedades, todos praticam violência, e continuam se guiando pela lei da retaliação estabelecida por Moisés, do olho por olho, dente por dente.

Uma sociedade organizada não pode se guiar pelo espírito da não violência, pois ela é fundamentada sobre o egoísmo, que aprova a violência. As sociedades tem determinados estatutos, leis, parágrafos jurídicos, que implicam sanção, isto é, violência, punição aos infratores dos estatutos jurídicos da sociedade.

Sendo que toda a sociedade é produto da inteligência, e a inteligência é, essencialmente, egoísta, não pode haver uma sociedade não-egoísta, não-violenta. Se Gandhi conseguiu libertar a Índia pela não-violência foi unicamente porque, ao redor dele, havia numerosos indivíduos firmemente alicerçados na mesma verdade, e não porque a sociedade indiana se guiasse pelo princípio altruísta da não violência. Toda e qualquer sociedade, pratica violência, caso contrário se destrói a si mesma não fazendo valer as suas leis.

Só o indivíduo pode praticar não violência, não pagando mal com mal, mas pagando o mal com o bem, amando aos que o odeiam.

Não resistir ao maligno é uma ordem que somente o indivíduo espiritualmente maduro, integral, segue. Uma sociedade, sendo fundamentalmente egoísta, nunca pode ser crística, embora possa se dizer cristã, apesar de que o cristianismo verdadeiro não se permite ser envernizado pelo egoísmo.

Nenhuma sociedade organizada pode abrir mãos dos seus direitos, sob pena de entrar em falência, ela só existe em virtude dos seus direitos; o direito, porém, é uma forma de egoísmo, portanto, injustiça e egoísmo geram violência.

O contrário do direito é a justiça, que é praticamente idêntica ao amor. A justiça, no sentido metafísico, é invariavelmente o perfeito ajustamento, a harmonia entre o indivíduo e o Universal, entre o homem e Deus, entre a creatura finita e o Creador Infinito, e essa justiça é o perfeito amor.

Segundo o estadista, jurista e filósofo romano Cícero: “Summum jus - Summa injuria” (o supremo direito é a suprema injustiça).

Quem reclama todos os seus direitos pessoais, age em nome de seu ego, que é necessariamente egoísta; mas quem pratica a justiça, age em nome da Constituição Cósmica do Universo, age em nome da própria alma do Universo, que é Deus; age, em nome do Amor Cósmico, que é a voz do divino Eu no homem.

Quem apela para seus “direitos” age em nome do ego, que é adepto da violência.

Quem apela para a “justiça” age em nome do Eu, que não é adepto da violência.

“Não resistir ao maligno” é, pois, um apelo para o divino Eu no homem, e não para o seu ego humano.

Há, na legislação mosaica, uma matemática estranha: supõe que uma violência se neutralize com outra violência. Se alguém me arranca um olho ou quebra um dente, e eu lhe arrancar também um olho e quebrar um dente, estamos quites; porque cobrei do meu devedor uma dívida em aberto. Na realidade, porém, não estamos quites, nem eu nem ele, porque um negativo dele mais um negativo meu somam dois negativos, criamos dois males no mundo; e, como a segunda ofensa exige uma terceira, da parte dele, e essa reclama uma quarta ofensa, da minha parte, e assim por diante, numa indefinida “reação em cadeia” - é claro que nós dois, vamos piorando o mundo cada vez mais, enchendo-o de negativos e mais negativos.

Contra essa falsa matemática mosaica de mais de três mil anos, Jesus apresenta a verdadeira matemática, absolutamente lógica e racional, afirmando que o negativo (mal) só se neutraliza pelo positivo (bem), e que o único modo de melhorar o mundo e a humanidade é pelo processo de:

1) não resistir ao mal;

2) de opor o bem ao mal.

Jesus derrotando Moisés!

Gandhi, esse famoso indiano cristão, compreendeu e praticava admiravelmente essa matemática espiritual de Jesus: a não violência e ao apego à verdade, ou seja, amor, justiça cósmica, a ponto de, logo depois de ser baleado, suas últimas palavras foram para que seu agressor não seja condenado!

Naturalmente, para que alguém possa praticar essa não-violência e essa benevolência, tem que passar por uma profunda experiência mística sobre a sua verdadeira natureza, não se identificando com seu ego físico-mental-emocional.

Texto revisado extraído do livro O Sermão da Montanha 

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