Saturday 17 April 2021

O HOMEM É UM ENIGMA?

As enciclopédias definem o homem como um “ser animal racional, moral e social, mamífero, bípede, bímano, hábil em articular linguagem, que ocupa o topo da escala zoológica, um animal que é ao mesmo tempo: corpo, alma, espírito; razão e emoção; físico e metafísico; singular e coletivo; objetividade e subjetividade; consciência e inconsciência...”

O homem é uma creatura singular, um estupendo fenômeno, um grande enigma a ser melhor decifrado. Com o seu surgimento, a natureza apresenta o maior marco da sua evolução. Uma “descontinuidade na continuidade” da Vida, e a única creatura com a habilidade da criatividade no mais alto nível de suas potencialidades; somente ele possui faculdades e dons que o tornam único entre as outras creaturas. Diferentemente dos não-humanos, o homem não é apenas mais um elemento na paisagem em que vive, mas é um fator consciente que transforma e inventa. Consequentemente, o Universo conhecido seria incompleto sem o homem, faltaria o fator autodeterminante para completar os fatos externamente determinados, pois no homem, a pirâmide cósmica converge para o ápice mais elevado.

O filósofo grego Protágoras afirmava que o homem é a medida de todas as coisas, significando que o ser humano individual, em vez de um deus ou uma lei moral imutável, é uma fonte geradora de valores, enquanto Sócrates dizia ser o homem o objeto mais direto da preocupação filosófica.

Durante o estoicismo (onde a virtude é o único bem), e no neoplatonismo (da crença na qualidade superior da realidade imaterial), houve uma preocupação para que ocorresse a “dissolução do homem na natureza”, revelando a grande preocupação dessas duas concepções de pensamento, com esse admirável ser.

Segundo o conceito cristão, “o homem transcende o mundo”, e Jesus, superando todos os limites do conhecimento, se tornou o biótipo do homem integral por haver desenvolvido dinamicamente em si mesmo, as potencialidades herdadas dos Poderes Creadores.

Na corrente filosófica do racionalismo de Descartes, se rompe radicalmente com o mundo antigo e se cria um novo método para alcançar o conhecimento, onde este aparece enfatizando o papel da razão, que “considera a razão como a principal fonte e teste do conhecimento” ou “qualquer visão que apele à razão como fonte de conhecimento ou justificação.” Para os racionalistas, por meio da razão podem ser conhecidas proposições fundamentais que permitem descobrir por dedução, a verdade.

No espiritualismo idealista, o “espírito tem a primazia em tudo o que se relaciona com o mundo e a vida humana”, enquanto que para o materialismo, o “espírito não é mais do que uma forma de atividade da matéria que, em determinada fase de sua evolução, de formas simples para outras mais complexas, adquiriu consciência...”

Jackson Mivart, o celebre naturalista inglês, analisando psicologicamente o homem, afirmou que “o homem é diferente dos outros animais pelas características da abstração, da percepção intelectual, da consciência de si mesmo, da reflexão, da memória racional, do julgamento, da síntese e conclusão intelectual, do raciocínio, da intuição intelectual, das emoções e sentimentos superiores, da linguagem racional, do verdadeiro poder de vontade.” 1

Sócrates e Platão entendiam que o homem era o resultado do ser ou espírito imortal e do não ser, ou seja, a união da matéria com o espírito, que unidos, proporcionava ao homem o processo de evolução.

Os filósofos atomistas reduziram o homem à simples partículas atômicas que, quando desarticuladas se aniquilavam através do fenômeno biológico da morte.

A Filosofia, de acordo com as suas diversas escolas, tem procurado oferecer ao homem caminhos que o levem a continuar nas tentativas de interpretar a vida e entender o homem.

A psicologia, que inicialmente se ligava com a base filosófica, lentamente libertou-se buscando estudar a psique, atingindo importância para a compreensão do homem, dos seus problemas e seus desafios psicológicos.

A diversidade de tendências em explicar o fenômeno homem comprova o interesse dos estudiosos na busca da libertação do indivíduo em relação aos desafios e dificuldades que o afligem.

quarta força em psicologia, que surgiu nos Estados Unidos, é a transpessoal, a psicologia espiritual, ampliando o campo de investigação além do comportamental, da psicanalise e da psicologia humanista, fornecendo maiores esclarecimentos sobre o homem integral, permitindo a introdução de alguns ensinamentos e experiências dos místicos orientais, dando oportunidade para uma visão espiritualista do ser humano em maior profundidade.

O espiritismo, por sua vez, sintetizando diversas correntes do pensamento psicológico e estudando o homem na sua condição de Espírito eterno, apresenta a proposta de um comportamento filosófico idealista, no Imortalismo (uma doutrina ou crença na imortalidade da alma), que tem como princípio básico a imortalidade do indivíduo, auxiliando-o na resolução de seus problemas, sem violência e com base na reencarnação, apontando os melhores rumos que o homem possa seguir.

De acordo com Huberto Rohden, filósofo e educador brasileiro, precursor do espiritualismo universalista e propositor da Filosofia Universal que enfatiza o autoconhecimento e a autorrealização, o homem é uma entidade inédita e original que nunca deixa de ser homem. A sua jornada evolutiva, desde seu autoconhecimento até a auto-realização é o seu fim supremo e único - supondo que esse homem queira atingir esse objetivo. O homem pode aproximar-se cada vez mais de sua meta no evolver, e para isso, lhe foi dada a chance de desenvolver a partir de suas potencialidades, uma potencialidade maior, porque, apesar de completo, o homem ainda é um processo em andamento, um negócio inacabado e com a oportunidade de se tornar uma versão melhor de si mesmo; livre para semear de acordo com seu livre arbítrio, no entanto, obrigado a colher o que semeou. A escolha é responsabilidade de cada um e de todos.

Ocorre que mesmo que o homem atinja a excelsitude da sapiência, e isso não apenas ao nível do conhecimento, mas na razão espiritual, da vivência mística do primeiro mandamento, com a prática ética do segundo, ele não poderá jamais se identificar com o seu Creador, o Infinito, porque entre qualquer finito (o Homem), e o Infinito (o Creador), se interpõem uma distância infinita. Pode o homem se fazer um melhor indivíduo, na superação de seus dramas e dilemas, na sua moral e ética; pode o homem se integrar no Creador, mas não pode se dissolver nele.

Esta é a lei cósmica que governa a harmonia do Universo.

Todo enigma pode ser desvendado a partir da análise, da intuição, da iniciativa, da determinação em sua solução. Em todos os setores do conhecimento humano, incontáveis enigmas foram resolvidos. Ao homem cabe o conhecimento de si mesmo, como na natureza, que se revela com todo o seu esplendor. Enquanto ele continuar sendo uma caricatura, uma persona de máscaras diversas, entretendo o circo das mediocridades, permanece estagnado ou caminhando muito lentamente no processo de sua evolução, ele corre o risco de se desintegrar no éter. Isso porque a intelectualização do instinto fez do homem um monstro de ganância e agressividade, cujas garras e dentes se aperfeiçoaram na forma de armas de destruição em massa, de uma repugnante libertinagem sexual e de um inferno de doenças físicas e mentais, que nenhum outro animal não humano conhece ou experienciou.

Autoconhecimento ... É a chave para desvendar esse enigma, e a grande apoteose final dessa descoberta é a autorrealização, a maior glória que um homem pode alcançar.

________________

1)- Passados mais de 120 anos dessa afirmação de Mivart e em plena era da maior rede mundial de comunicação de computadores com os seus diferentes programas e informações, e de seus bilhões de usuários, não se pode mais afirmar categoricamente esta ou aquela certeza. A prudência acima de tudo, deve ser utilizada, pois o que o ser humano sabe, é apenas uma gota d’água no oceano de sua ignorância.  

Recentes estudos científicos mostram que muitos dos seres não humanos têm a habilidade de mostrar consciência individual particular e uma razão que está condicionada ao seu estágio de evolução existencial, pois a alma do Universo se faz presente em todos os seres da creação, assim sendo, esses seres também apresentam estados mentais, sentimentos, emoções, ações intencionais, inteligência, personalidade, espírito, livre-arbítrio, amor, intuição, compaixão, sentimento de culpa, de perda e de posse, e de domínio territorial.

De acordo com especialistas em ciência quântica, alguns são capazes de se comunicar conosco através de mensagens visuais de diferentes caracteres, incluindo reclamar por seus direitos. Eles são nossos iguais, dividindo nosso mesmo Universo, mas espalhados em diferentes aspectos.

Para citar um exemplo, as funções do cérebro de um cão labrador submetido a ressonância magnética, apresentou as mesmas e exatas funções que parte do cérebro humano apresenta. Como os mamíferos, de forma geral, evolucionam da mesma forma que o ser humano, apenas apresentando características físicas diferentes, é de se supor que do ponto de vista comportamental, eles tenham os mesmos atributos.

Os que amam e cultivam a convivência com os animais, em particular com os cães - com os quais os seres humanos tem quase 15 mil anos de relacionamento - se se observar com detalhes, se verifica que as várias espécies são portadoras de qualidades quase humanas, como pela prudência, paciência, disciplina, obediência, sensibilidade, inteligência, improvisação, espírito de serviço, vigilância e sede de carinho, infundindo a ideia de que, quanto mais perto se encontram das criaturas humanas, mais semelhantes ficam; aperfeiçoando paulatinamente seus instintos na busca da inteligência da mesma maneira que os humanos aspiram alcançar algum dia, um estágio maior de evolução.

E muitos outros não humanos, dentre todas as formas de vida, têm mostrado surpreendentes particularidades da inteligência universal habitando em suas existências.

Aos leitores interessados em mais uma surpreendente relação entre um humano e um não humano, visitar no sítio da Netflix, o documentário Professor Polvo, ganhador em 2020, do Prêmio da Academia de Melhor Documentário.

No comments:

Post a Comment