Wednesday 3 November 2021

O SENTIDO DA VIDA, SEGUNDO MOISÉS, BUDA, CRISTO

Qual o sentido da vida humana, a razão-de-ser da sua existência?

Todos os gênios humanos conhecedores da verdade suprema da realidade espiritual, respondem o mesmo: o sentido da vida é a auto-realização do homem. E essa realização supõe, acima de tudo, o conhecimento da verdadeira natureza do homem.

Cerca de seis séculos antes da Era Cristã, nascido no sopé das montanhas do Himalaia, vivia um príncipe real chamado Siddhartha Gautama. Pouco depois do seu casamento, ele abandonou clandestinamente sua residência e peregrinou por 16 anos pelas regiões da Índia, em meditação e jejuns, na tentativa de descobrir uma resposta definitiva ao mistério do sofrimento humano, depois de se deparar com tanta miséria e dificuldades por onde andou.

Durante essa peregrinação, inclusive pelas florestas locais, ele via que os animais selvagens não sofriam, e por que devia o homem, a chamada coroa da creação, viver em sofrimento permanente? Certo dia, sentado à sombra de uma árvore, mergulhado em profunda meditação, seguido por alguns que o acompanhavam, despertou do seu prolongado êxtase e proferiu quatro palavras – e os que estavam ao seu redor, exclamaram: Buda! Buda! isto é: acordou, acordou.

Buda, esse peregrino real, até então, dormira toda a vida o sono da ilusão sobre si mesmo, identificando-se com o seu ego mental; de repente, despertou para a vigília da verdade libertadora.

O que Buda disse, depois de despertar para a luz da verdade, foram as palavras seguintes, que segundo os seus seguidores, representam as “Quatro Verdades Nobres de Buda”:

1)- A vida humana é essencialmente sofrimento.

2)- A causa deste sofrimento é a ilusão em que o homem vive sobre si mesmo.

3)- Com a transformação da ilusão em verdade sobre si mesmo, termina a culpa

e o sofrimento.

4)- O passo para o conhecimento dessa verdade é a profunda meditação sobre si

mesmo.

Ou seja: a verdade do sofrimento, a verdade da causa do sofrimento, a verdade do fim do sofrimento e a verdade do caminho que leva ao fim do sofrimento.

Cerca de mil anos antes de Buda, Moisés, com outras palavras, disse estas mesmas verdades: “Maldita seja a terra por tua causa”, que foi o que Adão ouviu do Deus vivo. Adão, identificado com o seu ego ilusório, se desviou da verdade libertadora sobre a sua verdadeira natureza, o que provocou sua expulsão do paraíso e o início do sofrimento.

E cerca de mil e quinhentos anos depois de Moisés e seiscentos anos depois de Buda apareceu o maior gênio cósmico que a humanidade consciente da verdade conhece - Jesus de Nazaré, que cristalizou numa parábola esta mesma verdade: que o homem que vive e age na ilusão sobre si mesmo é um “servo mau e preguiçoso” e perde até a sua natureza humana, ao passo que o homem que conhece e vive a verdade sobre si mesmo é um “servo bom e fiel”, que entra no gozo dessa verdade.

Esta verdade cósmica pode ser traduzida nas seguintes palavras: quem pode, deve; e quem pode e deve, e não faz, crea débito - e todo o débito gera sofrimento.

Quando as Leis Cósmicas dão a uma creatura uma potencialidade, esperam dessa creatura, a dinamização dessa potencialidade. Se o homem faz o que pode e deve, ele se realiza, faz a sua realização existencial; mas, quando o homem não faz o que pode e deve, ele sucumbe à sua frustração existencial.

Sendo o homem essencialmente o seu Eu racional (espiritual), ele pode e deve realizar seu Eu divino, seu Logos; é esta a sua realização existencial, que as Leis Cósmicas esperam dele. O homem é, potencialmente, o “sopro de Deus”, diz o Gênesis, que pode e deve dinamizar-se na “imagem e semelhança de Deus”; esta realização é a razão-de-ser da sua existência. O homem é dotado do poder do livre-arbítrio, pois não há evolução sem resistência; por isto, as Leis Cósmicas crearam no homem o ego mental, que o Gênesis chama a serpente, que deve manifestar-se e ser superado para que o homem se realize plenamente pelo poder do seu livre-arbítrio. Deus creou o homem o menos possível (sopro divino), creou o homem em vias de perfeição, para que o homem se possa crear o mais possível (imagem e semelhança de Deus) no estado do homem perfeito.

Enquanto o homem não dinamizar as suas potencialidades, fica sujeito ao sofrimento, porque não faz o que pode e deve; torna-se devedor e culpado, gerando seu sofrimento.  

Até hoje, quase toda a humanidade é culpada porque não se realiza na verdade, e sofre porque é culpada e devedora diante das eternas Leis da Justiça Cósmica, e sofrerá sempre, enquanto não estiver quite com esses compromissos.

Enquanto o servo não duplicar os talentos recebidos (as potencialidades que de Deus recebeu), continua devedor e sofredor, porque as Leis Cósmicas não distribuem potencialidades a esmo, mas exigem que o homem duplique por esforço próprio, o que recebeu; quem apenas devolve o que recebeu é um servo inútil, mau e preguiçoso.

O homem que apenas desenvolve o seu ego mental, e não o seu Eu racional (espiritual), vive numa frustração existencial, e não pode deixar de ser sofredor, por ser devedor e culpado da sua não-realização existencial.

Nos últimos tempos, a medicina conseguiu aumentar a longevidade da vida humana, por meio de medicamentos – mas não diminuiu os sofrimentos porque essa longevidade artificial é um prolongamento da agonia do homem, que continua a ser culpado.

Enquanto o homem não se realizar, não deixará de ser um sofredor, a despeito de todos os paliativos e camuflagens da medicina. Somente a realização existencial pode pôr termo ao sofrimento compulsório do homem.

Depois de deixar de ser devedor e culpado, o homem pode continuar a sofrer algum tempo por seus débitos passados, ou mesmo por culpa de seus semelhantes ainda devedores. Só quando toda a humanidade estiver sem culpa, o sofrimento não mais será compulsório.

O sofrimento por débitos próprios é lamentável – mas o sofrimento por débitos alheios é glorioso.

Somente os grandes avatares da humanidade, isentos de sofrimentos compulsórios, podem querer sofrer voluntariamente, porque sabem que sem resistência não há evolução – e eles são desejosos de evolução futura e autorrealização.

O Cristo Jesus, foi um desses homens, pois não sofreu por débito próprio, nem alheio, como ele mesmo diz, mas “para entrar em sua glória”. O seu sofrimento voluntário foi um sofrimento crédito, a serviço da sua evolução superior, e não um sofrimento débito.

Somente a nova humanidade, liberta de sofrimentos, é que iniciará a gloriosa humanidade dos avatares, de que o Cristo Jesus foi o precursor.

Texto extraído do livro O HOMEM

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