Certa vez, Albert Einstein, esse brilhante cientista-visionário-místico, humanista e universal, afirmou que: “Do mundo dos fatos - não conduz nenhum caminho para o mundo dos valores, porque estes vêm de outra região.”
Fato é ciência – valor é consciência!
Pelo fato de o homem conhecer e viver o mundo objetivo, ele fica confuso ao determinar alguma meta definitiva para a sua atividade humana. O conhecimento objetivo dos fenômenos fornece ao homem poderosos instrumentos para a consecução de determinados fins – mas o fim último e o desejo de sua realização têm que vir de outras regiões.
Valor é sinônimo de Realidade, captada consciente ou cosmicamente, que é a própria intuição, inspiração, revelação - ao passo que fatos são apenas facticidades quantitativas. E todas as facticidades são fictícias, irreais, relativas.
Surge então esse grande problema: se os fatos não conduzem o homem à Realidade, como a atingir? E talvez, essa seja a resposta: nenhum homem pode atingir a Realidade - mas esta pode atingir o homem, desde que esse homem se ache pronto para ser atingido. Ninguém pode achar a Deus - mas Deus pode achar o homem, se ele permitir ser achado.
“Quando o discípulo está pronto (atingível, permitir ser achado) é quando o mestre aparece (o atinge, o acha).”
É o que em religião se chama o “mistério da graça”. Ninguém pode causar, merecer um dom espiritual - mas esse dom pode ser dado, se o homem crear em si o ambiente propício para esse recebimento, em se tornando receptivo. O homem nunca pode ser causa de um efeito espiritual, mas pode ser condição para que a causa possa produzir o efeito. Não se pode produzir a luz solar, mas se pode abrir uma janela rumo ao sol, e o ambiente será iluminado, porque se adicionou uma condição favorável a essa iluminação, abrindo a janela; entretanto, esse abrir de janela, não é a causa, mas apenas uma condição, para que a causa, o sol, possa produzir o seu efeito.
Nenhum homem pode invadir o reino da Verdade - mas a Verdade pode invadir o homem, se ele permitir ser invadido. “De mim mesmo eu nada posso fazer - é o Pai em mim que faz as obras.”
Diante disto, a única atitude correta do homem perante o Infinito é de uma silenciosa e faminta receptividade a Deus. Quando a ego-vacuidade se aperfeiçoar, a Teo-plenitude plenificará a ego-vacuidade no homem. Nos demais seres da natureza, a Infinita Plenitude sempre plenifica as vacuidades - mas no ser consciente essa plenificação depende da presença de uma vacuidade consciente creada pelo homem. As Leis Cósmicas estabeleceram algo como uma resistência aos homens soberbos, cheios de ego, mas oferecem a sua graça aos humildes, aos pobres pelo espírito. É contra as leis da matemática cósmica que a Infinita Plenitude possa plenificar seres finitos; a Infinita Plenitude só pode plenificar vacuidades finitas, isto é, vacuidades na natureza não humana, e vacuidades conscientes no homem.
Essa atitude de receptividade é geralmente creada e nutrida no silêncio e na solidão - assim como na natureza física a fêmea quase sempre procura um lugar solitário para dar à luz a sua prole; o ser humano necessita de silêncio e solidão para conceber, gestar e dar à luz a sua prole mental ou espiritual. Gênios e místicos são silenciosos. E Deus é o Silêncio Infinito. Quanto mais alguém é de Deus tanto mais é do silêncio e da solidão. Silêncio e solidão são sociedades cósmicas e a mais intensa presença da Realidade; ruído e sociedade são, quase sempre, ausência de Realidade.
A silenciosa Realidade é inversamente proporcional aos ruidosos fatos.
“Nunca fales, se não tiveres plena certeza que o teu falar vale mais que o teu calar”.
Quase nada se sabe dos 30 anos da infância e juventude de Jesus, e pouquíssimo da sua vida pública. E que aconteceu durante os 40 dias e noites da sua permanência no deserto? Aconteceu o grande silêncio, que revelou o mais intenso e inigualável documento da humanidade, O Sermão da Montanha, a materialização das Leis Cósmicas!
“Se se perdessem todos os livros sacros da humanidade, e só se salvasse O Sermão da Montanha, nada estaria perdido.” (Mahatma Gandhi)
O que acontece no silêncio só pode ser sabido pelos silenciosos - os que sabem silenciar verbalmente, mentalmente, emocionalmente... Os que ainda vivem no ruído das palavras, dos pensamentos e das emoções nada sabem da Realidade, que só fala pelo silêncio, como Deus, a Realidade Infinita.
O mal das igrejas cristãs e organizações espiritualistas está no fato de só saberem falar daquilo que Jesus falou - ignorando aquilo que ele calou... Quem não aprendeu a arte suprema do calar não pode falar com plenitude, só pode tagarelar com vacuidade.
O falar é uma presença material e uma ausência espiritual - o calar é uma presença espiritual, mesmo na ausência material. Só se deve falar quando a plenitude espiritual do silêncio exige um transbordamento para dentro dos canais materiais do falar; sem isto, todo o falar é pura camuflagem e charlatanismo - espécie de crime, de estelionato, uma detestável fraude espiritual...
Nunca se deveria falar a não ser que a plenitude do calar obrigue a isto, pois muitas vezes, o falar não vale pelo que representa, mas só vale pelo calar...
Falar sem calar é corpo sem alma - um cadáver... e o mundo está repleto desses cadáveres falantes, dessas ruidosas vacuidades, dessas deslumbrantes bolhas de sabão, de um lindo colorido externo, mas vazias no seu interior.
Se tão belas coisas diz o Evangelho daquilo que Jesus falou - quão estupendas devem ter sido as coisas que ele guardou em silêncio... A sua receptividade para com o Pai atingiu o zênite durante o seu longo silêncio.
Poucos conhecem por experiência própria o mistério do silêncio. Para a maior parte das pessoas, silêncio quer dizer ausência, vacuidade - quando na realidade é presença e plenitude. Todos os grandes iluminados que a humanidade conhece viveram longos períodos de silêncio e solidão absolutos...
Pouco adianta que o homem viaje pelo mundo em busca da sabedoria - é necessário que os mundos viajem através dele, não para o encherem de ruídos, mas para intensificarem o seu silêncio...
Texto revisado e ampliado extraído do livro Minhas Vivências na Palestina, no Egito e na Índia
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