Tuesday 25 May 2021

RELIGIÃO E MORALIDADE

Não existe nenhuma ligação direta entre religião e moralidade, desde que se entenda por religião, a mística, a experiência cósmica da Infinita Realidade.

Indiretamente, a moralidade é beneficiada pela religião, pois a religião se desenvolve melhor em um ambiente de aceitável conduta moral. 

A religião, o “primeiro e maior de todos os mandamentos” se refere diretamente à mística, à crença em um único Poder Creador; a moralidade, o “segundo mandamento” semelhante, mas não igual, se refere à relação entre os nossos semelhantes.

O homem religioso se abisma em Deus, vive inebriado de Deus, sente-se um com Deus, dilui-se num oceano de Amor e Beatitude, com toda a alma, com todo o coração, com toda a mente e com todas as suas forças, consequentemente, seus valores éticos se afirmaram nessa religiosidade.

A atitude moral do dia a dia pode ser praticada independente de qualquer identificação com igrejas, e nesse estado a-religioso, a ética sempre parece ser difícil e sacrificial: por isto, muitos homens procuram ser éticos por vaidade e ostentação, pelo ego ou pela inconsciente necessidade de encontrarem um substituto e conforto para sua falta de religião; quase sempre, o ateísmo vem ornado de filantropia; a caridade procura encher os vácuos do Amor, reprimindo com perfumosos analgésicos os sintomas de um mal cujas raízes profundas continuam a existir...

Depois de passar pela experiência mística, o homem continua a ser ético, mas a sua ética perdeu o brilhantismo moral dessa prática compulsória; esse homem já não é ético por virtude, por um imperativo categórico de consciência, mas sim, como um espontâneo transbordamento da sua experiência com Deus. Não ama a seu semelhante como a si mesmo porque vê nisto uma obrigação moral, um preceito ético, mas simplesmente porque o seu amor divino lança suas vibrações sobre toda a Natureza e em qualquer lugar do Universo...

Esse homem faz o bem por ser bom, e nem pode deixar de fazer o bem, porque o seu ser-bom é a sua íntima natureza, que ele finalmente descobriu. O seu caráter ético distinto no meio dos homens não é incompatível com a sua identidade mística com o grande Todo da Divindade, porque ele vê todas as partes nesse Todo. Solitário em Deus, não pode deixar de ser solidário com todas as creaturas de Deus, porque vê o Deus do mundo no mundo de Deus.

A ética humana horizontal tenta disciplinar o homem na sociedade – mas a experiência mística vertical torna o homem feliz, e a sua benevolência e beneficência humana não é senão o transbordamento dessa sua profunda e anônima felicidade.

Na simples ética humana, o homem apenas , e isto é doloroso, porque é sinônimo de perder e empobrecer.

Na mística divina, o homem recebe, e por isto pode dar sem limites, porque esse dar, nascido do receber divino, é lucro que faz enriquecer.

No recebimento místico, a alma concebe como se fosse esposa do Infinito.

Na distribuição ética, a alma dá à luz como mãe no meio de muitos finitos.

Na concepção mística, o homem recebe muito dos cofres do tesouro cósmico.

Na distribuição ética, o homem dá um pouco do seu ego humano.

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A moral, “relativo aos costumes”, é o conjunto de regras adquiridas através da cultura, da educação, da tradição e do cotidiano, e que orientam o comportamento humano dentro de uma sociedade.

As regras definidas pela moral regulam o modo de agir das pessoas, e está associada aos valores e convenções estabelecidos coletivamente por cada cultura ou por cada sociedade, partindo da consciência individual, que distingue o bem do mal, ou a violência dos atos de paz e harmonia. Ou em outras palavras, é o conjunto de regras aplicadas no cotidiano e usadas continuamente por cada cidadão. Essas regras orientam cada indivíduo, norteando as suas ações e os seus julgamentos sobre o que é moral ou imoral, certo ou errado, bom ou mau.

Os princípios morais como a honestidade, a bondade, o respeito, a virtude, e etc., determinam o sentido moral de cada indivíduo. São valores universais como costumes, regras, tabus e convenções estabelecidas por cada sociedade e que regem a conduta humana e as relações saudáveis e harmoniosas.

No sentido prático, a finalidade da moral é a de construir as bases que vão guiar a conduta do homem, determinando o seu caráter, altruísmo e virtudes, e por ensinar a melhor forma de agir e de se comportar em sociedade.

Não se pode entender igreja como religião; a igreja pode eventualmente conduzir seu seguidor a ser religioso. Religião verdadeira é a experiência mística do primeiro mandamento e a vivência ética do segundo.

Ética sacrificial, é o resultado do sofrimento que o homem geralmente enfrenta na procura do seu evolver espiritual, que só pode acontecer se o homem abdicar dos assédios de seu ego tirânico, sem o qual não pode existir esse evolver. O homem nasce livre, mas por onde ele anda, carrega suas algemas ... aprisionado pelas circunstâncias de sua cultura, seu país, aos seus modos e costumes, suas igrejas, aos seus apegos, conceitos e valores. Quando desperta no homem o desejo forte do Eu, sua zona de conforto começa a receber os impactos desse ego que resiste e que luta para se acomodar em seu estado anterior. Portanto, essas algemas se rompem apenas com a morte do ego... e isso exige um imenso sacrifício!

Texto revisado e em parte extraído do livro Ídolos ou Ideal?

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