Heinrich Heine, famoso poeta alemão da “Lorelei”, dizia que não conseguia solucionar uma dúvida: se a Terra é um hospital ou um hospício de humanos? Mas talvez essa dúvida não exista, porque o grosso da humanidade é tanto hospital como hospício; a Terra é mesmo habitada por doentes físicos, mentais e emocionais.
Buda dizia que a vida do homem é essencialmente sofrimento - e o sofrimento vem da culpa.
Todos os drama e dilemas da vida humana provém de uma culpa, que se manifesta em vários modos. A culpa está no fato do homem não ter desenvolvido o “sopro divino” da sua condição humana superior, mas de ter intensificado apenas o “sibilo da serpente,” ou seja, a sua animalidade intelectualizada.
Se o homem fosse como os demais animais, não teria culpa. Se o homem fosse espiritualizado, não seria culpado. Mas, como o homem é potencialmente um ser espiritual, mas que no momento histórico ele é um ser dinamicamente intelectual, ele é culpado. Pois, quem pode, deve; e quem pode e deve e não faz, crea débito - e todo débito gera sofrimento, e o sofrimento é a reação das leis cósmicas contra o devedor culpado.
A grande culpa da humanidade está no fato de ser apenas intelectualizada, em vez de ser também espiritualizada, numa comunhão geral entre todos os seus membros. A diferença entre o animal intelectual e o homem espiritual consiste na culpa da humanidade de todos os tempos e países. E esta culpa vai persistir até que o homem se espiritualize devidamente, realizando em si a imagem e semelhança de seu creador.
O animal intelectualizado sofre de várias maneiras essa tragédia da hipertrofia da inteligência e da atrofia da espiritualidade que é manifestada pela: possessividade, agressividade, sexualidade, enfermidade etc.
--- Primeira tragédia: Possessividade.
O senso de propriedade é totalmente desconhecido do animal. Nenhum animal diz, “isto me pertence.” Apesar de que alguns, têm um ligeiro senso de posse temporária; defendem o seu ninho, seu alimento, a sua caverna, seu pequeno território, sobretudo no tempo da procriação; mas fora desse período, ignoram propriedade. A abelha defende a sua colmeia, porque dela necessita para alimentar e proteger a sua prole; mas em plena natureza, todas as outras abelhas e insetos tem o direito de se apoderarem à vontade do néctar e do pólen das flores.
O homem, porém, vai ao cartório, produz um documento oficial e declara: isto aqui é só meu e dos meus, para todo o sempre. E vai ampliando a sua propriedade indefinidamente, explorando os seus semelhantes, e, sempre que possível se apodera da propriedade dos outros.
Por essa razão é que todos os Mestres espirituais exigem de seus discípulos, a renunciação aos bens terrenos, de terem apenas as posses necessárias para uma vida modesta e de conforto, inclusive o do usufruto por outros.
--- Segunda tragédia: Agressividade.
Essa mania de possessividade do animal intelectualizado provocou uma agressividade sem limites. Os animais tem diferentes ferramentas para se defender: garras, dentes, chifres, e outros artifícios. Mas a inteligência do homem aperfeiçoou essas armas naturais em forma de armas artificiais, inclusive de destruição em massa, possibilitando a destruição de milhares de seus semelhantes em poucos segundos, sem ser visto por suas vítimas. A defensiva natural degenerou numa ofensiva ilimitada. Ultimamente, a agressividade do animal intelectualizado chegou a uma forma monstruosa: nações poderosas fabricam e vendem as armas mais modernas aos que estão em guerra, provando que a indústria da morte é mais rendosa do que todas as indústrias da vida. O “excremento de Satanás,” como Giovanni Papini, filósofo e escritor italiano, chamava o dinheiro, é o deus supremo dessas feras intelectualizadas.
Todos os Mestres espirituais proíbem qualquer forma de agressividade.
--- Terceira tragédia: Sexualidade.
Os seres não humanos têm alguns meses por ano, geralmente na primavera, em que se reúnem para procriação. No resto do ano, o animal vive quase alheio ao cio sexual. O homem, porém, vive o ano inteiro no cio, geralmente sem nenhuma intenção de procriação, apenas por prazer pessoal.
Quando o homem é excessivamente libidinoso, é rotulado de “bestial” - mas isto é um insulto cruel contra as bestas selvagens; nenhuma delas é tão “bestial” como certos homens civilizados.
Os Mestres espirituais nunca foram contrários ao uso do sexo, mas advertem para o excesso de luxúria.
--- Quarta tragédia: Doenças.
A violação das leis naturais pela possessividade, agressão e sexualidade transformaram a humanidade em um vasto hospital e manicômio, como diz Heine. Os médicos dizem, e as estatísticas provam que pelo menos 90% da humanidade sofre de doenças físicas, mentais e emocionais.
Hipócrates, chamado o pai da medicina, dizia a seus pacientes: “Seja o vosso alimento o vosso medicamento.” Hoje em dia, não é mais possível dar essa recomendação ao homem civilizado: os nossos alimentos, não raro, são tão venenosos como os nossos medicamentos. A serviço da ganância, meses antes do plantio, os nossos agricultores envenenam o solo com adubos químicos. E depois de brotarem, envenenam as plantas sistematicamente com pesticidas, que, em parte são absorvidos pelas plantas e contaminam o organismo humano.
--- Quinta tragédia: Alcoolismo, Tabagismo e Drogas.
Esses vícios do ego degradam o homem, material, mental e moralmente - mas são tolerados, e até favorecidos, por quase todos os governos do mundo, porque o álcool, o fumo e drogas, pagam os maiores impostos - pois os governos necessitam desse dinheiro. As drogas por seu lado, além de subsidiarem a corrupção, destroem a alma do usuário e de quem as vende.
Assim, Satanás é alimentado oficialmente, porque os poderes públicos necessitam de seu “excremento,” para o bem da humanidade - a tamanho absurdo chega o homem intelectualizado em continuar a alimentar os problemas que cria, e com isso, dificultado a solução de seus males e loucuras.
Texto revisado, extraído do livro A Nova Humanidade
No comments:
Post a Comment