O debate acerca das diferentes modalidades de alimentação humana – e do que melhor se adapta à sua alimentação, se estende por séculos, desde tempos imemoriais. Sabe-se que o homem foi por muito tempo caçado, virou presa de outros animais que se alimentavam dele, ou que invadiam seus territórios etc. No entanto de caçado ele aprendeu a ser caçador, e de sua própria espécie inclusive, do qual saboreava a carne de seus semelhantes nos rituais de canibalismo. Gostou tanto dessa atividade predatória e do sabor da carne, que atualmente, vastas extensões de terras no planeta, são usadas para alimentar a fome de carne de cadáveres herdada de seus antepassados.
Mas a Terra também oferecia em abundância, outras iguarias, como as raízes, tubérculos, folhas e frutos, cereais e nozes, sem contar o que os mares e os rios ofereciam e que, com o passar dos tempos e aumento do número da população, outras vastas extensões de terra e água são utilizadas para saciar a fome do homem. Mais recentemente, ele está voltando o seu paladar no consumo em larga escala, de insetos e vermes.
Porém, os séculos se passaram e o debate continua... o homem é carnívoro, macrobiótico, vegetariano (vegano, modalidade radical mais recentemente criada), pescetariano ou piscitariano, crudívoro, flexitariano, frugívoro ou insetívoro etc.? E a lista seguirá com novas modalidades!
Se formos analisar do ponto de vista da arcada dentária humana, com certeza chegaremos à uma conclusão, mas que pode também ser relativa. Possuímos os incisivos que cortam, mas não possuímos os caninos acentuados, que dilaceram. Os nossos pré-molares e molares não tem a anatomia dos ruminantes, e com isso podemos dizer que o homem é um omnívoro? Que come de tudo a seu gosto?
A quem cabe responder à essa pergunta? A cada um em particular, a partir de seu caráter, ou da moral e da ética, se supõe?
Recente trabalho científico mostrado pela rede BBC de televisão londrina, intitulado “Gut Feeling”, mostrou uma gama de pesquisas comportamentais e estudos científicos em laboratório com um grande número de pessoas que se apresentaram como cobaias humanas, e que resultou no seguinte: que quanto mais diversificada é nossa alimentação, mais garantida é nossa sobrevivência e saúde, pois quanto maior e rica é nossa flora intestinal, mais saudável se torna o homem e mais resistente fica seu organismo contra o ataque de enfermidades.
Mas... em tudo existe controvérsia. Os mais críticos, os de mente analítico intelectual, de ego emocional exacerbado, em tudo apontarão falhas.
“Nem só de pão vive o homem” ... Esse preceito formulado há mais de 2000 anos, mas que, no entanto, tem uma abordagem metafísica muito mais abrangente e atual, mostra que seres humanos em sintonia com a Causa Primária, também se alimentam, mas de outro tipo: da Energia Cósmica!
É só abrir as páginas, por exemplo, do fascinante livro “Autobiografia de um Iogue,” de Paramahansa Yogananda, e viajar nos relatos impressionantes de seres humanos de vivência ascética, que não se alimentavam de matéria alimentícia alguma. A famosa mística e estigmatizada alemã, Therese Newmann, com quem Yogananda esteve pessoalmente e testemunhou o fenômeno das chagas no corpo durante o período litúrgico da quaresma, sobreviveu por quase 40 anos se alimentando diariamente apenas de uma hóstia consagrada!
Fenômenos esses à parte, vamos analisar sob outro ponto de vista sem se prolongar sobre os conceitos da moral e da ética; da cultura, da educação, da tradição e cotidiano, e o que motiva o homem agir de uma determinada maneira, de seu caráter, diante dos conceitos do bem e do mal.
Comer carne sentindo culpa, da dor e o sofrimento imposto aos animais, deveria ser evitado. Mas se alimentar apenas de raízes, vegetais, cereais, frutas e nozes... não é também uma maneira de destruir a vida? E o custo ao planeta, do desemprego gerado se todos aderirem apenas a uma forma de alimentação? Quanto alimento é jogado no lixo! As estatísticas mostram que de cada 5 embalagens de supermercado com alimentos, uma é descartada, pois não se consumiu a tempo e apodreceu ou o prazo de validade expirou.
Um dilema, um impasse extremamente complexos!
Optar pela ética a favor dos não humanos, é uma atitude das mais virtuosas. No entanto, abdicar da ética com seus semelhantes humanos, é a reação mais hipócrita e paradoxal. Tratar os não humanos de uma maneira e os humanos de outra, representa aberração...
Adolf Hitler, que não bebia e não fumava, era estritamente vegetariano!
Por isso, convém lembrar que: fazer da ética um fato reconhecido sem possuir a mística, leva quase sempre, a consciência de vaidade e auto complacência, que já é uma derrota. A ética só existe pura, sem sacrifícios, se existir como uma atitude simultânea com a experiência mística; assim, se conserva sadia e verdadeira, bela e leve.
“Nem só de pão vive o homem,” não deixa de ser um aviso sutil. Jesus, o autor dessa frase estendeu nessa afirmação, um convite a um banquete onde pouquíssimos se apresentaram e até hoje sobram cadeiras vazias na mesa, pois o banquete espiritual costuma ser indigesto para o homem profano. Ele mesmo, bebia e comia em todas as mesas, e não se sabe se determinou uma dieta específica para si mesmo, e tampouco os evangelhos se referem à uma dieta formulada a todos. Certamente criticava a gula, e pedia a harmonia de caráter e comportamento. E finalizava suas argumentações com a mais brilhante das advertências:
“Não é o que entra na boca do homem que o contamina, mas sim o que sai da boca do homem através de seu coração, isso é que o contamina”!
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