Friday 24 September 2021

RECEBENDO A GRAÇA E DISTRIBUINDO-A AOS HOMENS

Todos os grandes iniciados na espiritualidade e que atingiram a auto-realização, evitavam ser chamados de mestres. O chamado mestre, pode eventualmente direcionar seu discípulo a um caminho que o leve ao autoconhecimento e posterior auto-realização, mas o mestre é apenas uma seta no caminho. Cabe ao discípulo portanto, filtrar as experiências de ambos e assim seguir sua própria jornada.

A finalidade do chamado mestre não é a de levar consigo, indefinidamente, o discípulo, mas sim o de lhe dar plena autonomia e autocracia, de maneira que, algum dia, o discípulo possa seguir o seu caminho com perfeita clareza e absoluta segurança, sem o mestre. E então o mestre externo passou a ser um mestre interno, inerente ao discípulo. O maior triunfo de um verdadeiro mestre consiste em tornar-se supérfluo, pois o mestre que nunca se torna supérfluo não cumpriu a sua missão. Assim sendo, o verdadeiro mestre acaba sendo discípulo de todos.

Jesus, o maior gênio cósmico conhecido da humanidade e que atingiu a maior autorrealização, afirmou: “Não chameis ninguém vosso pai e vosso mestre. Um só é o vosso Pai...” e cada um é o mestre de si mesmo.

O que leva um pseudo iluminado a se apresentar como iluminado é, quase sempre, a ambição do prestígio, a cobiça do dinheiro ou o orgulho, e com isso, roubando a chave do conhecimento do reino de Deus.

Essa chave consiste numa experiência interna, não condicionada por nenhuma formalidade externa, pois o poder vem de dentro, e a fraqueza vem de fora.

“A letra mata - mas o espírito dá vida”.

O ritual dá prestígio externo – o espiritual dá força interna.

Quem exerce o ritual sem possuir o espiritual é falso profeta; roubou a chave do conhecimento do reino de Deus. Iludido, ilude os outros. Cego, conduz outros cegos, não é condutor e sim, sedutor.

Ignorância do mundo espiritual é treva – experiência é luz.

Só pode iluminar quem foi iluminado.

Só pode dar aos homens quem recebeu de Deus.

Só pode distribuir aos homens quem possui os tesouros da divindade.

É necessário que o guia espiritual compreenda que a única possibilidade de guiar os outros está em que ele se deixe guiar por Deus, e que nenhuma igreja ou seita lhe pode dar essa experiência. Todas as igrejas e seitas são como outras tantas setas colocados à beira do caminho da vida, nas encruzilhadas duvidosas, incertas; quem parar aos pés desses marcos ou se contentar apenas em olhar na direção indicada pelas flechas não chegará jamais ao final da jornada.

A alma do cristianismo não é algo que se possa ensinar ou aprender intelectualmente, como num curso de teologia, de explicação de textos, etc., é algo que deve ser vivido e sentido, e até sofrido, em profundo silêncio e fecunda solidão. Podem, na melhor das hipóteses, outros me guiar até o limiar do santuário, mas só eu é que posso transpor esse limiar e encontrar a Deus, face a face.

O dia mais glorioso para o verdadeiro mestre é o dia em que ele se torna supérfluo e dispensável, o dia em que a alma por ele guiada já não necessite de guia, por ter se tornado espiritualmente autônoma e independente, para andar segura e firme na peregrinação ao mais alto. 

Texto revisado e em parte extraído do livro Assim Dizia o Mestre

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