Monday 6 December 2021

“CRISTO, O PRIMOGÊNITO DE TODAS AS CREATURAS”

Com estas palavras, Paulo de Tarso declara que o Cristo cósmico, o Verbo, o Logos, é uma creatura – mas não nega que ele é Deus. Ele é a primeira de todas as creaturas cósmicas, não humanas que emanaram da Divindade. Ele não é a Divindade, tanto assim que o próprio Jesus afirma que a Divindade, que ele chama “Pai”, é maior do que ele.

Há mais de 2000 anos que filósofos e teólogos discutem se o Cristo é Deus ou não. E não chegaram a um acordo.

Por que não? Porque confundem Deus com Divindade.

Os concílios definiram que o Cristo é Deus e excomungaram a todos os que o negam; mas não estabeleceram diferença nítida entre Deus e a Divindade, tentando evitar o politeísmo mediante o recurso à “Trindade”, do qual o Cristo seria a segunda pessoa.

O enigma não existe na realidade, e os livros sacros estabelecem compatibilidade entre Deus e creatura. O Cristo é Deus e é creatura. Nem o Cristo Jesus e seus discípulos afirmaram que o Cristo era a Divindade. O Jesus nega explicitamente a sua identidade com o “Pai” (Divindade): “Eu e o Pai somos um, o Pai está em mim, e eu estou no Pai, mas o Pai é maior do que eu”.

Se ele não tivesse dito que o Pai é maior do que ele, se poderia pensar que ele se tivesse igualado à Divindade. Mas ele nega expressamente a sua identidade com a Divindade, apesar de se dizer Deus.

Usando de uma comparação ilustrativa: um ser vivo pode dizer; eu estou na vida e a vida está em mim, mas eu não sou a vida, sou apenas um ser vivo; a vida é infinitamente maior do que eu.

Deus é uma emanação da Divindade, mas não é a Divindade.

A dificuldade dos teólogos nasce do fato de eles professaram o monoteísmo mosaico, ao passo que o Cristo Jesus fala em termos de monismo cósmico. O Evangelho é essencialmente monista, como, aliás, são todos os grande gênios e místicos; todos os finitos estão no Infinito (Potências Cósmicas, Divindade Universal), mas nenhum finito, nem mesmo a soma total dos finitos, é o Infinito. No monismo não há oportunidade para uma Divindade pessoal, porque toda a personalidade é necessariamente finita, ao passo que a Divindade é infinita e impessoal. Por isto, ela é infinitamente além de qualquer personalidade. Um Deus pessoal não pode ser a Divindade infinita.

A lógica dos livros sacros é absoluta, ao passo que os teólogos sofrem de uma deplorável falta de lógica, base de todas as confusões sobre o Cristo.

Toda a cristologia dos livros inspirados se torna compreensível, quando se faz nítida distinção entre Deus e Divindade.

Há milênios que a sapiência da filosofia oriental faz essa distinção: Brahman é a Divindade, ao passo que Brahma, Vishnu e Shiva são Deus, emanações individuais da Divindade Universal.

Quando Jesus, citando uma passagem da Bíblia do Antigo Testamento, diz aos Judeus: “Vós sois deuses”, ele toma a palavra Deus no sentido de creatura.

O Cristo, segundo João, é o “Unigênito do Pai” (da Divindade Universal); é o Deus creatura, o Deus-gerado. Segundo Paulo de Tarso, o Cristo é o primogênito de todas as creaturas, o primeiro Deus ou emanação oriunda da Divindade. O Cristo-Logos é o único “gerado”, ou filho, emanação da eterna Divindade Universal. As outras creaturas, inclusive os homens, são Cristo-gerados, mas não diretamente gerados pela Divindade; o gerado pela Divindade é um só, os Cristo-gerados são muitos.

O texto grego do quarto Evangelho explica que: “No princípio era o Logos (Cristo, Verbo) e o Logos estava com a Divindade, e o Logos era Deus”. Em grego, quando se usa “Theós” sem artigo, se deve entender, um Deus, quando usa “ho-Theós”, com artigo definido, se deve entender a única Divindade.

Texto revisado extraído do livro QUE VOS PARECE DO CRISTO?  

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