Thursday 9 December 2021

O CRISTO É O FILHO UNIGÊNITO DO PAI?

Toda a cristandade aprendeu que, de acordo com a afirmação de João, o Cristo é o “Filho Unigênito do Pai”.

Acima de tudo, se deve lembrar que a palavra Pai equivale a “Divindade”, que nada tem que ver com uma pessoa, como é usado tradicionalmente.

E se pode dizer que o Cristo, o Verbo, o Logos, era “Filho” da Divindade?

A palavra “filho”, no sentido comum, supõe um pai e uma mãe, pois a bipolaridade na natureza terrestre só conhece filho como produto de um pai e de uma mãe.

Mas, na Divindade não há pai nem mãe, nem doador nem receptora, nem positivo nem negativo, pois é absolutamente neutra, embora essa neutralidade contenha implicitamente o polo positivo e o polo negativo.

Nesse sentido, o Cristo não é filho, pois quando a Essência se manifesta na existência, se tem uma emanação, um efluxo, isto é, uma manifestação parcial, finita, da Divindade Universal infinita.

A Divindade é a Essência; as creaturas são a existência revelada, manifestada, mas a existência não é a revelação total da Essência, nem mesmo uma divisão ou desmembramento dela. A Essência, como pura qualidade, se manifesta pela existência quantitativa, sem nada perder e nem ser afetada na sua essência qualitativa.

O Cristo cósmico, de que fala o quarto Evangelho, é a primeira e mais perfeita emanação da Divindade, a mais perfeita existência emanada da Essência.

Isto, todavia, não significa que o Cristo seja infinitamente e absolutamente perfeito, porque nenhuma existência pode ser de absoluta perfeição; se assim fosse a existência emitida seria idêntica à Essência emissora. Uma creatura absolutamente perfeita é um conceito intrinsecamente contraditório.

Quando Paulo de Tarso diz que o Cristo é o primogênito de todas as creaturas, ele supõe que o Cristo seja creatura e não o Creador, e toda creatura evolve, é elástica, mas nenhuma delas pode se igualar com o Creador.

Crear é a manifestação parcial da Essência em forma de uma existência – de Creador a creatura. Ao passo que de creatura a creatura é uma relação de evolução.

Crear é receber da Essência uma existência – a creação vem do Todo, mas a creação não aumenta a Realidade – manifesta apenas a Realidade em facticidades. Por outro lado, o aniquilamento da existência, não implica em nenhuma diminuição da Realidade, que é sempre infinita, com ou sem facticidades.

Salomão diz que a sabedoria de Deus brinca todos os dias sobre toda a Terra, e a filosofia oriental afirma que Brahman, a Divindade, faz um bailado com a natureza.

A creação, sendo um ato livre, é uma espécie de jogo, ou bailado, que a Essência infinita faz com as existências finitas.

A intuição cósmica vê perfeita logica na liberdade necessária e na necessidade livre, como já dizia, no século XVII, o exímio intuitivo Benedito Spinoza.

O Cristo é a mais perfeita emanação da Divindade, como observa Paulo de Tarso, na Epístola aos Filipenses.

Segundo o quarto Evangelho, o mundo material é uma creação do Cristo, e que se acha em permanente estado de evolução, sendo que essa evolução lembra o fluxo perpétuo, ou o movimento constante de Heráclito de Éfeso – ou a teoria da relatividade de Einstein. Todas as creaturas são antes, uma transformação, um processo dinâmico do que um processo estático. A Unidade, manifestada nas diversidades, se chama Universo, o Infinito revelado como finito, onde a mais alta emanação da Divindade infinita é o Cristo finito e em evolução.

O Cristo é a primeira e mais perfeita emanação da Divindade Universal em forma de creatura individual. Esta emanação cósmica se tornou materialmente perceptível na pessoa humana de Jesus de Nazaré.

Embora o Cristo e Jesus estejam inseparavelmente unidos, não é lógico identificar simplesmente Jesus com o Cristo.

Quando o homem, em horas de profunda cosmo-consciência, intui a Realidade para além de todas as facticidades, ele tem então a revelação exata, embora impensável e indizível, do Universo, da Essência Una revelada nas várias existências, a do Cristo cósmico feito homem, e a do Jesus humano feito cósmico.

Texto revisado, extraído do livro QUE VOS PARECE DO CRISTO?

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