Thursday 9 December 2021

É O CRISTO O CREADOR DO MUNDO?

O quarto Evangelho se refere ao Verbo, o Cristo-Logos, afirmando que “por ele foram feitas todas as coisas, e nada do que foi feito, foi feito sem ele”, onde João declara que o Cristo é o creador do Universo.

Na última ceia, Jesus se despede dos seus discípulos e se dirige ao Pai, dizendo: “Glorifica-me agora com aquela glória que eu tinha em ti, antes que o mundo fosse feito”.

Com isto, ao que parece, ele se refere à sua existência cósmica anterior à creação do Universo material, realizado por ele. Parece, segundo alguns teólogos, que a creação do mundo material diminuiu a glória do Creador Cristo, e ele reentra agora no esplendor da sua glória pré mundo.

A creação dos mundos, diz a filosofia oriental, é o “sacrifício cósmico” de Brahman, da Divindade Universal, ao passo que Brahma, corresponde ao Deus individual, ao Cristo creador. Brahman como tal é a Divindade neutra, a Tese Absoluta, ainda não polarizada nas antíteses positiva e negativa. Com a creação material principia a bipolaridade, base de toda a evolução do Universo.

Segundo a filosofia oriental, o Creador é Brahma, Deus, mas não Brahman, a Divindade. A Divindade é o Ser, Deus é o Agir.

No Gênesis, aparecem os Elohim, as Potências Creadoras, como autores do Universo: “No princípio crearam os Elohim o céu e a Terra”.

Brahma, Logos, Elohim, podem ser identificados, designando o princípio do Agir, enquanto Brahman, a Divindade, Yahveh, designam o princípio do Ser. A palavra Elohim, que aparece nos primeiros capítulos do Gênesis hebraico, em vez de Yahveh, pode ser etimologicamente identificado com Logos, palavra grega para “Verbo” ou Cristo.

Brahma, Lógos, Elohim significam, pois, o Deus-Agir, a imanência da essência na existência, o aspecto concreto da Divindade abstrata do puro Ser.

A Divindade transcendente no seu Ser não é, porém, objeto do conhecimento humano.

A Divindade Universal abstrata, como Ser, revela-se pelo Deus concreto do Agir, o que é do conhecimento humano.

O Cristo, é, pois, a creação da Divindade, ao passo que as creaturas dos mundos são Cristo gerados. No entanto, tudo, em última análise, é gerado pela Divindade Universal. Do Absoluto, do Infinito, são gerados todos os relativos finitos, as creaturas.

Prossegue então o Evangelho, depois de dizer que o Cristo-Logos é o creador do mundo:

“Nele estava a vida,

E a vida é a luz dos homens,

A luz brilha nas trevas,

E as trevas não a prenderam”.

Aqui, a filosofia cósmica de João atinge o clímax da estética literária, onde a seguinte linha começa com a resposta facilitada da precedente:

...vida, vida, luz, luz, trevas, trevas.

A quintessência do mundo creado, é vida, que é a fonte e base de tudo, do mundo mineral, vegetal, animal.

Esta vida, porém, atingiu no mundo hominal a perfeição da luz, isto é, da vida mais consciente. E as trevas do mundo inconsciente não prenderam a luz do consciente; as trevas inconscientes não extinguiram a luz do consciente.

Com estas palavras, o quarto Evangelho sintetiza os dois polos de todo o Universo creado: creação e evolução. A creação é a existência finita emanada da Essência infinita, ao passo que a evolução é o processo ascensional de uma existência rumo a outra existência. A Creação é, pois, o princípio das existências finitas emanadas da Essência infinita. O algo existente não veio do inexistente, esse algo veio da Essência infinita.

A creação não é algo separado do Infinito, assim como uma centelha que salta da fogueira, é fogo também! A creação é comparável ao processo do pensamento em relação ao pensador. O pensamento de quem pensa não é algo separado do pensador, mas é o próprio pensador enquanto pensante. O pensamento é uma manifestação parcial e imanente do próprio pensador.

Assim, a creatura está no Creador, que é uma manifestação parcial e imanente do Creador, é tornar o existente finito a partir da Essência infinita.

Esta é a ideia da filosofia perene: o monismo cósmico, equidistante do monoteísmo dualista e do panteísmo ilógico. O Infinito presente em todo os finitos que são idênticos na Essência, mas diferentes nas existências.

A Essência, poderia ser comparada a um lago de águas tranquilas, ao passo que as existências são como uma torrente que flui desse lago e se lançam montanha abaixo, ou seja, o estado neutro do lago se manifesta em forma positiva e negativa na torrente.

O amor na Essência, é bondade, mas nas existências, essa bondade passiva se converte em amor ativo; o ser-bom estático passa a ser um amar dinâmico; a brasa tranquila que erupciona em chama vivificante.

Texto revisado extraído do livro QUE VOS PARECE DO CRISTO?

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