Monday 13 December 2021

O CRISTO INTERNO

Até ao período do Concílio Vaticano II (1962-1965), que resultou em algumas reformas nas práticas ortodoxas da igreja, como meio de adaptação ao século 20, a teologia praticamente só discursava do Cristo externo, identificando-o com a pessoa humana de Jesus de Nazaré.

Atualmente, se fala no Cristo interno no homem. Aliás, esse Cristo interno aparece nos evangelhos, sobretudo na parábola da videira e seus ramos: a mesma seiva divina que circula no tronco da videira circula também nos ramos dela, isto é, o espírito divino, que é o Cristo em Jesus, é idêntico ao espírito divino que existe em todos os seres humanos. Jesus afirma que a presença de Deus é uma realidade em todo o ser humano - “o Pai está em mim, o Pai também está em vós” – mas a consciência e atuação do espírito divino, varia entre as pessoas. A presença de Deus é a mesma em todo o homem, entretanto, Jesus disse que o que torna o homem crístico, é a consciência e a vivência dessa presença divina!

“Aquele que em mim está, mas não produzir fruto, será cortado e jogado ao fogo e destruído; mas aquele que em mim está e produzir fruto, será podado (purificado) para que produza fruto ainda mais abundante”.

Com estas palavras, Jesus afirma a presença do Cristo divino em toda a creatura humana, ao passo que a atuação subjetiva desse Cristo interno depende da consciência do homem. A despeito dessa presença, o homem pode perecer espiritualmente, se não viver de acordo com esse espírito. Mas, se a presença objetiva do Cristo no homem produzir uma vivência subjetiva em harmonia com esse espírito, então esse ramo humano da videira divina será podado, ou purificado, a fim de produzir mais abundantemente. A poda dos ramos da videira se faz em certas épocas do ano, para que a seiva se concentre em pequeno espaço, produzindo frutos mais intensamente. Essa poda equivale a uma espécie de sofrimento da planta; a videira “chora”, como se diz popularmente, porque do ferimento do ramo caem pingos de seiva vital e umedecem o solo. Quem vive de acordo com o espírito do Cristo passa por um sofrimento-crédito para se tornar ainda mais espiritual. A espiritualidade não preserva o homem do sofrimento; o sofrimento-crédito acompanha a evolução espiritual do homem. No princípio, esse sofrimento é compulsório, como mostra a vida de pessoas espirituais; só mais tarde é que esse sofrimento passa a ser um sofrimento voluntário, como aconteceu a Jesus, que aceitou espontaneamente o sofrimento causado pelo processo da sua ascensão crística: “Ninguém me tira a vida; eu deponho a minha vida quando eu quero, e retomo a minha vida quando eu quero”. A dor, o sofrimento, é uma resistência provocada pela atuação do Eu sobre o ego, pois não há evolução sem resistência. Até na pessoa humana de Jesus houve uma resistência evolutiva, Jesus pede que o sofrimento passe dele; mas ao mesmo tempo o seu Cristo aceita livremente o sofrimento “para assim entrar em sua glória”.

O paradoxo do sofrimento, no mundo das existências finitas, é a maior das verdades, porque é o processo de evolução, e nele ocorrem dois fenômenos, o do sofrimento-débito e o sofrimento-crédito, que não podem ser confundidos, pois o primeiro é doentio, resultado da culpa, do erro, e o segundo é sadio, pois é a afirmação voluntária do processo para maior ascensão espiritual.

Os avatares, seres de elevada evolução espiritual e que descem às esferas dos mundos inferiores, como da Terra, procuram espontaneamente essa resistência evolutiva do sofrimento a fim de promover a sua espiritualização futura. Paulo de Tarso, na epístola aos filipenses, atribui essa “descida” ao próprio Jesus, que, das alturas dos esplendores divinos, desceu ao vale do sofrimento humano, e foi, por meio disto, exaltado.

O despertamento e a vivência de acordo com o Cristo interno marcam o roteiro da evolução ascensional, da cristificação do homem.

As palavras: “eu sou a luz do mundo – vós sois a luz do mundo” também exprimem a mesma identidade da luz do Cristo em Jesus e em outros homens. No entanto, essa identidade na luz tem muitos graus de intensidade e manifestação; em muitos homens, a luz está sob o velador opaco do ego, ao passo que em Jesus, a luz estava no alto do candelabro da sua consciência crística.

O evangelho do Cristo é rigorosamente monista, admitindo uma única essência manifestada em muitas existências.

Texto revisado, extraído do livro QUE VOS PARECE DO CRISTO?

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