Friday 20 November 2020

ESTAÇÕES EMISSORAS DESCONHECIDAS

O homem, depois de atingir o mais alto grau de experiência espiritual, pode regressar sem perigo, para o interior do mundo das profanidades, ilusões e impurezas do ciclo repetitivo de nascimento e morte, trazendo com ele, sem se contaminar, a sacralidade e pureza da extinção da individualidade e da liberdade das existências materiais.

Entretanto, esse regresso não é necessário para todos. Há homens altamente espirituais cuja missão peculiar consiste em permanecerem na sua mística solidão.

Ninguém os conhece, ninguém lhes escreve a biografia. Possivelmente, esses solitários nem sequer tenham discípulos visíveis, vivem e morrem em completo anonimato.

Geralmente, a vida desses místicos solitários é considerada pelos profanos, como uma “existência inútil” - ou até rotulada de “egoísmo espiritual”.

Paul Brunton, no seu livro “Um Eremita no Himalaia,” escreveu brilhantes verdades sobre essa ideologia, e quem conhece as leis da Constituição Cósmica do Universo, sabe o que pensar desses místicos anônimos.

De fato, os seres humanos são sempre beneficiados espiritualmente não só pelas palavras proferidas por esses místicos, como dos autênticos livros sobre espiritualidade por eles escritos ou intuídos, mas sobretudo pelas invisíveis radiações de suas “estações emissoras” desconhecidas. Esses místicos funcionam, de fato, como aparelhos receptores de alta potência, como estações retransmissoras para quem quiser entrar em sintonia com os seus ensinamentos.

Na era eletrônica, esta comparação é facilmente compreensível. O espaço sideral está constantemente repleto de ondas eletrônicas, emitidas pelas poderosas estações emissoras do mundo inteiro. O éter está sempre cheio de sons, palavras, música. Pode não nos chegar aos ouvidos, mas, no entanto, é certo que estão no éter. Se não as ouvimos, é porque estamos ausentes. Verdade é que, objetivamente, estamos presentes à música, por exemplo; e subjetivamente estamos ausentes, por não termos contato consciente com ela, embora presente no espaço externo, a música não existe em nosso espaço interno, que é a nossa consciência. O que decide não é a presença, mas sim a consciência dessa presença.

No momento em que eu sintonizo a antena do meu radio receptor na onda da emissora, a música do espaço se faz presente em mim. O meu receptor converte em vibrações aéreas audíveis (sons) as ondas eletrônicas inaudíveis do éter, as quais, no princípio, quando entraram no microfone da estação emissora, também haviam sido vibrações aéreas. O som físico que entrou no microfone da emissora, e depois foi transformado em ondas eletrônicas do espaço, foi reconvertido pelo receptor na mesma onda aérea que lhe dera origem.

O que a nossa ciência e técnica construíram, já existiam no Universo, desde o início dos tempos. O Universo é emissor e receptor ao mesmo tempo. Ao nível do Creador, (a Fonte, Causa, Deus), o Cosmos é puramente emissor, creador, fonte, causador; e, no nível das creaturas (canal efeito, mundos), o Cosmos é receptor, creado, causado.

Entretanto, o receptor consciente pode ser, também, um retransmissor, emitindo da sua plenitude para outros receptores.

Os grandes iluminados, por mais desconhecidos que sejam, funcionam como poderosos retransmissores, e, se algum ser humano, em qualquer país do mundo, a qualquer distância, afinar o seu aparelho receptor - o seu consciente, a sua alma - pela frequência vibratória do desconhecido emissor, receberá a música divina por ele irradiada.

Essa música espiritual pode revelar-se, no receptor humano, como luz ou força, como inspiração ou entusiasmo, como verdade ou amor, como alegria ou felicidade, como grandes ideias ou sublimes ideais.

O receptor não necessita saber de onde lhe vem essas maravilhas; basta que sintonize a sua antena e será beneficiado pela desconhecida emissora de alguma alma sintonizada com a Divindade.

Não seria este o sentido das palavras de Mahatma Gandhi: “Quando um único homem chega à plenitude do amor, neutraliza o ódio de muitos milhões?” Esses milhões, beneficiados por um, nada sabe da existência dessa emissora de alta potência, “dessa grande alma”; basta que sejam susceptíveis à irradiação de amor.

Não será isto também que se deva entender pela atuação redentora de Jesus: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou no meio deles,” não teriam o mesmo sentido que onde dois ou três estiverem sintonizados pela minha vibração crística, eu lhes tornarei consciente a minha presença? ...

A música cósmica - da onipresença divina ou da redenção crística - está sempre no ar – “Eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos” - e toda a antena afinada por ela, será beneficiada.

“Ser-bom” quer dizer estar em sintonia consciente, ou supra consciente, com o Infinito; é ser um receptor de elevada sensibilidade, e retransmissor de alta potência.

Um único homem realmente bom vale mais para a redenção dos seres humanos do que milhões de outros que apenas falem bem ou fazem o bem.

O tempo e o espaço, o quando e o onde, nada tem a ver com a eficiência da irradiação espiritual.

Graças à existência dos grandes iluminados, por mais desconhecidos, os seres humanos não são piores do que são. E, se maior número de bons receptores houvesse no meio dos homens, muito mais sensível seria a atuação dos invisíveis emissores que retransmitem algo da plenitude que receberam da Divina Emissora.

Texto revisado, extraído do livro Rumo à Consciência Cósmica

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