Tuesday 17 November 2020

O FENÔMENO HOMEM

O texto de Huberto Rohden abaixo, escrito e publicado no livro Setas na Encruzilhada (edição em Português somente) em princípios da década de 60, tenta decifrar o fenômeno homem, esse ser ainda incógnito, que se revela de muitas maneiras, desde sua angelitude divinal, ao brilho na genialidade, o talento criativo e que consegue baixar às mais demoníacas atmosferas, ou seja, de anjo a monstro, pois a ele lhe foi doado um amplo intelecto e um livre-arbítrio que nenhum outro vivente no planeta, tem.

Dado à distância no tempo, até nossos dias, é possível que alguns conceitos científicos possam ter mudado, pois a ciência revela que não só os humanos, mas outros seres também tem desenvolvido altos níveis de inteligência creativa, pois muitos deles dividem com os homens, quase a totalidade de seus cromossomos, um cérebro similar, um caráter individual, personalidade própria, espírito individual e livre-arbítrio.

A ampla função do cérebro humano é ainda um mistério que a ciência tenta decifrar. Talvez só quando se esgotar nela mesma e buscar as respostas de suas indagações nos mistérios do mundo extra físico, no mundo metafísico, no Infinito, na Fonte, na origem de tudo, na Filosofia, na mística intimidade da Religião verdadeira que é a religação com o Creador – um laço que une o homem a Deus como fonte de sua existência - é que encontrará, talvez, as devidas respostas. Nesse sentido, Albert Einstein, esse genial cientista-místico universal, filósofo, visionário, humanista, afirmou: “Ciência natural sem religião é manca – religião sem ciência é cega.”

 

“O homem é o mais antigo habitante do planeta Terra, embora prevaleça a crença geral de que ele seja o mais recente, pois a ideia da creação do homem, vem desde a creação dos universos. Mas para que o homem se materialize no ambiente onde vive, foram exigidas todas as transformações telúricas por que a Terra passou e, assim, permitindo que possa viver nas condições climáticas favoráveis a ele.

No estado atual de sua evolução, é verdade, o homem é um ser recente; mas como homem potencial, ele é antiquíssimo. E, como toda creatura é realmente o que ela é potencialmente, se pode afirmar que o homem é o mais antigo habitante.

Felizmente, as descobertas da ciência corroboram essa afirmação. Fisicamente, o homem pertence à classe dos mamíferos superiores. Entretanto, alguns mamíferos se tornam adultos aos 3 anos de idade - ao passo que o homem, geralmente atinge a plenitude da sua evolução corporal apenas aos 21.

Por que essa diferença?

Principalmente por causa do cérebro humano, cujo desenvolvimento total exige período muito longo; e, para evitar a creação de um monstro, a Natureza obriga o organismo do homem a realizar evolução extremamente lenta, a fim de correr paralela ao desenvolvimento do cérebro.

Anatomicamente, o cérebro do mamífero superior é semelhante ao do homem, mas funcionalmente apresenta diferenças. O cérebro humano produz e capta vibrações de outra frequência, de caráter mental, e racional, vibrações essas, aparentemente diferenciadas das vibrações sensoriais do cérebro do animal. Devido talvez, a essa diversidade essencial, não há exemplo de que uma “inteligência animal” se tenha desenvolvido em inteligência humana.

Mesmo o mais inteligente animal adestrado para certos trabalhos e acrobacias, recai invariavelmente ao estado natural quando o treino cessa e é deixado a sós, prova que a sua inteligência é heterônoma, e não autônoma, como a do homem; é apenas um reflexo extrínseco da inteligência humana, e não uma inteligência com centro intrínseco na própria natureza específica do animal. A inteligência animal está inteiramente a serviço de sua própria biologia individual e sexual, ao passo que a inteligência humana pode atingir as mais excelsas culminâncias da abstração. Nunca nenhum animal se deu ao trabalho de calcular a distância entre a Terra e o Sol, medir a velocidade da luz ou investigar a trajetória das partículas atômicas.

São necessários cerca de 21 anos para crear uma estação emissora e receptora do tamanho e com a potência do cérebro humano. Mas como a história do indivíduo é a recapitulação da história da raça, segue-se que a espécie humana como tal levou cerca de 7 vezes mais tempo para a sua atual evolução do que qualquer animal.

Há milhões de anos e de séculos, a espécie “homem,” já vivia sobre a face da Terra, não na sua forma atual, mas em forma potencial.

De resto, os dados da biogenética confirmam a tese da biologia: o corpo humano, durante os 9 meses da sua vida intrauterina, percorre, rapidamente, todas as fases da sua evolução racial, desde a ameba unicelular, através das formas orgânicas de verme, molusco, invertebrado, peixe, mamífero, até atingir a forma do corpo humano atual.

O homem-ameba era homem.

O homem-molusco era homem.

O homem-peixe era homem.

O homem-lêmure era homem.

E se, algum dia, o homem-hominídeo de hoje transformar o seu corpo material e visível num corpo imaterial e invisível, ainda será homem. O corpo-luz do homem imortalizado é um verdadeiro corpo humano.

Jesus, cujo corpo era ora material, ora imaterial, ora visível, ora invisível, era verdadeiro homem, o “homem por excelência,” o “homem cósmico.” Assim como acontece com Babaji, o mestre plenamente iluminado das cavernas do Himalaia, um avatar imortal!

É necessário aqui, que se deixe mais compreensível a ideia da palavra “potência” ou “potencialidade.” Essa potência não é inerente ao veículo humano finito, mas sim, à Vida Infinita, a qual se serve de certos veículos finitos para se manifestar (parcialmente) no plano dos efeitos individuais. No corpo unicelular da ameba não existe a potência de crear o corpo pluricelular do molusco, do peixe, do mamífero, do homem. Essa potência é, na realidade, o Infinito, a Essência Não Manifesta, a Vida Universal do Cosmos, que se revela (parcialmente) através de algum veículo e aparece como Existência Manifesta. Essa forma existencial da Essência, varia para cada espécie, cada grupo, de indivíduo para indivíduo.

Na espécie “homem” essa forma existencial, mostrava o mais alto grau de potencialidade, porque este veículo era, segundo a Inteligência Cósmica, o mais apropriado. Se dermos ao mais perfeito dos minerais a potencialidade grau 5, ao mundo vegetal grau 10, ao mundo animal grau 20, teremos de admitir para espécie hominídea talvez a potência grau 100. Dizer que essa potência grau 100 estava “contida” nas potências 20, 10, 5, é o mesmo que abolir a lógica e a matemática. O maior não está contido no menor. Mas é fato de que a potência maior (100) se serviu das potências menores (20, 15, 5) como canais e veículos para atingir o 100. O 100, porém, veio do Infinito, assim como do mesmo Infinito fluíram todos os finitos, pequenos e grandes. Do Infinito, além de vir o 100, também vieram o 20, o 10 e o 5. A diferença não está no fato de terem os finitos vindo do Infinito, mas tão somente no modo como dele vieram, uns por caminhos mais curtos, outros por mais longos. O homem é de todas as creaturas a que está realizando jornada mais longa e diversificada - e ninguém sabe ainda o que o homem possa atingir em eras futuras ...

A ciência provou a realidade das diferentes fases por que passa o homem na sua formação - mas não provou, todavia, que ele tenha vindo do animal. Nunca um finito maior se forma a partir de um finito menor, embora possa vir através de finitos menores. Muitos dos tratados de evolucionismo, e sobretudo certos compêndios colegiais, se distinguem por uma estupenda falta de lógica, confundindo causa com condição, afirmando que o homem veio do animal, quando deviam dizer através do animal. A lógica é coisa raríssima, mesmo entre homens chamados cultos.

A filosofia, expressão suprema da lógica, sabe que, em hipótese alguma pode o maior vir do menor.

Há também os que se recusam a aceitar o fato da evolução do corpo humano através de formas inferiores, por motivos sentimentais e emocionais; veem como desonra o fato desse corpo ter percorrido estágios tão “imperfeitos” ...

As obras do jesuíta francês Teilhard de Chardin, traçam o itinerário evolutivo do homem através de zonas que ele denomina “hilosfera” (um mundo contendo apenas matéria inanimada), “zoosfera” (o mundo dos organismos vivos), noosfera (esfera do pensamento humano, ou intelecto) rumo à logosfera (esfera da razão); o homem começou no “ponto Alfa” e culminará no “ponto Ômega.” Muitos consideram esse teólogo e paleontólogo como materialista, pelo fato de ver o início do homem na matéria; não compreenderam Teilhard de Chardin; a essência de todos os finitos é o Infinito, isto é, a Essência Divina, imanente em todas as existências, sem excluir a matéria.

O que os materialistas chamam matéria são apenas os fenômenos perceptíveis dela; ninguém sabe o que é a matéria em sua essência invisível; é a grande Incógnita, que nem os sentidos percebem nem a inteligência concebe ... é a Essência Infinita. Se, de acordo com Chardin, o homem deriva da matéria, ele é derivado do Infinito; a matéria é apenas um canal, mas não é a Fonte de onde o homem fluiu. Aliás, quem não vê o Infinito imanente em todos os finitos, não compreenderá Teilhard de Chardin, como não compreenderá a mensagem de Jesus no Evangelho, quando diz: “O Pai está em mim, e eu estou no Pai ... o Pai também está em vós e vós estais no Pai.”

O homem veio do Infinito (creação), mas fluiu e flui ainda através de vários finitos (evolução) - até um dia, atingir o ponto culminante dos finitos, o “ponto Ômega.” o Cristo Cósmico.

Esse processo evolutivo do homem é possível, porque o seu livre-arbítrio o isenta do processo estático da causalidade mecânica, da prisão, do escravizante determinismo dos fatores alheios e externos, próprios da natureza não humana. O livre-arbítrio é uma causalidade dinâmica, uma autodeterminação espontânea, a onipotência dentro do homem.”

Texto revisado e em parte, extraído do livro Setas na Encruzilhada

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