Impor silêncio temporário aos sentidos e ao intelecto é indispensável para ouvir a voz silenciosa da razão ou da alma - o Deus em mim.
A ação do fermento divino no homem é silenciosa, como silenciosas são todas as coisas grandes e sublimes. O que é realmente grande não necessita de ruidosa publicidade para se manter e expandir, dispensa deslumbrantes cartazes multicolores e sonora propaganda. Quanto maior o silêncio, tanto melhor para a grandeza, porque a alma das coisas grandes está para além das categorias de tempo e espaço, que não podem produzir nem destruir o que é eterno e infinito.
O homem profano necessita de barulhos múltiplos e violentos, tambores e trombetas, espocar de foguetes e bombas, gritaria histérica e descompassada, conversações desnecessárias, do circo telúrico de sua irracionalidade, e demais delírios de seu ego tirânico; só assim ele pode sentir suficientemente a sua própria existência, que, sem isso, sua personalidade se dissipa em tênue neblina de incertezas; quando o seu sujeito se sente objetivado e refletido no espelho desses ruídos externos, é que ele é capaz de sentir a sua própria existência. Daí a sua fome instintiva por barulhos!
Parafraseando o conhecido “penso, logo existo,” de Descartes, o homem profano poderia dizer: “Eu faço barulho, logo existo!” Se não fizesse barulho, não teria suficiente certeza da sua existência. De maneira que a plenitude de todo esse barulho externo é a confirmação da vacuidade interna de seu autor, porque o homem de plenitude interna não tem necessidade dessa compensação externa.
O homem intelectualmente erudito precisa do ruído articulado de discursos, conversas, sermões, conferências etc. O intelectual precisa de auditórios de intelectuais, e o veículo para transmitir o ruído mental de seus pensamentos é o ruído verbal dos discursos, que na plateia se torna novamente em ruído mental de pensamentos. Essa “luxúria” mental e verbal é característica no mundo intelectual. Poucos chegam à “castidade” do silêncio espiritual; a mente prostituída dificilmente aceita essa “virgindade”.
Mas quando o homem ultrapassa essas fronteiras evolutivas, entra em uma zona de maravilhoso silêncio, que lhe diz muito mais do que todos os ruídos inarticulados e articulados dos sentidos e da inteligência.
É, portanto, nesse silêncio fecundo, onde o divino fermento começa a trabalhar intensamente.
Texto revisado extraído do livro Assim Dizia o Mestre
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