“Ouvir a voz do silêncio é compreender que de dentro da alma humana é que vem a única orientação verdadeira.” Mabel Collins
Para o homem profano e desavisado, o silêncio é uma simples ausência de ruídos, sobretudo de ruídos físicos, e como o ego tirânico só consegue sobreviver sob a atmosfera de ruídos, o silêncio representa para esse ego humano, a morte, pois não consegue compreender que as revelações da Divindade são silenciosas, que é o silencio da plenitude, a vida, que não preenche a vacuidade do ego ruidoso.
Certa vez, foi perguntado a um religioso, se ele fazia de manhã uma hora de silêncio meditativo, e ele respondeu que se praticasse esse silêncio, ia enlouquecer; alguém também disse que tinha certeza de que nem ela e ninguém era capaz de fazer meia hora de meditação.
--- Se ouve falar muito sobre o que Jesus disse e fez, mas não se fala sobre o que não disse e não fez; por exemplo, sobre os dezoito anos de silêncio em Nazaré e dos quarenta dias de meditação no deserto. Diversos livros hoje em dia, ainda tentam desvendar esse mistério. A grande maioria procura os fatos da verdade do Jesus histórico, mas poucos se concentram nas verdades de sua mensagem divina.
--- Moisés e Elias passaram 40 dias de silêncio na solidão com Deus.
--- Francisco de Assis passou meses inteiros de silêncio nas alturas do Monte Alverne, depois do que lhe aconteceu durante o aparecimento de Jesus crucificado e lhe imprimiu as suas chagas.
--- Paulo de Tarso, após sua conversão em Damasco, retirou-se para os desertos da Arábia, onde permaneceu três anos em solidão com Deus.
--- Rabindranath Tagore e Mahatma Gandhi praticavam longos períodos de silêncio.
--- A ordem dos monges Trapistas, cujo um de seus membros, Thomas Merton, que se tornou célebre pelos seus escritos, viveu praticamente a vida inteira em permanente silêncio. Sobre a porta de entrada desse mosteiro perto de Paris, se vê esta legenda: “O pesar de viver sem prazer bem vale pelo prazer de morrer sem pesar.”
--- Albert Einstein, esse brilhante cientista universal, visionário, humanista e místico, se abstraia durante muitas horas de seu dia-a-dia em profundo silêncio, em encontros solitários consigo mesmo, onde mergulhava em seus pensamentos, ou simplesmente em nada pensava, como ficou gravado na frase retirada de suas memórias: “Eu vivo pensando quase 100% de meu tempo, e nada descubro; deixo de pensar e mergulho no silêncio – e eis que a verdade se revela.”
Pode até se dizer que a Teoria da Relatividade é uma fuga de todas as coisas relativas e um refúgio para dentro do Absoluto...
Para que o homem, diz Mabel Collins em seu livro, “Luz no Caminho”, possa ouvir a voz dos Mestres, ele deve ter se tornado totalmente surdo aos ruídos profanos.
Um dos maiores tesouros que o Cristianismo oficial perdeu, nestes últimos séculos, foi, sem dúvida, o tesouro do silêncio dinâmico. E talvez seja uma das principais razões da sua ineficiência na sociedade humana. Nos dias atuais, as novas seitas evangélicas tentam conseguir mais adeptos – muitas vezes de forma histérica - sob a violência de ruídos estrondosos de sermões e músicas saídos de caixas acústicas, numa barulheira insuportável, incluindo fogos de artifício, sobre um púlpito que mais parece o picadeiro de um circo.
“Silêncio é receita – ruído é despesa.”
E quem tem mais despesas do que receitas abre falência e não é à toa que a pobre humanidade de hoje está quase falida.
Quando se pede ao homem profano para que exercite periodicamente um retiro espiritual por certo tempo, o desavisado logo pensa em doença física ou mental.
A razão deste horror ao silêncio é o conceito radicalmente falso sobre silêncio. O homem profano entende por silêncio, não falar nem ouvir nada. Outros, mais avançados, incluem no silêncio também a ausência de ruído mental e emocional, em nada pensar e nada desejar.
Entre mil pessoas, não se encontra uma que entenda por silêncio uma grandiosa atitude de presença cósmica ou uma fascinante plenitude do Universo. Só pensam em silêncio como ausência e vacuidade, e, como a natureza tem horror à ausência e à vacuidade, pois ela é plena, esses desavisados não podem amar e querer bem ao silêncio, que não lhes parece fecundação e enriquecimento da alma.
Enquanto o homem vive na falsa concepção - que quase todos aprendem nas escolas e igrejas - de que meditação consista em analisar determinados textos sacros, todas as portas permanecerão fechadas e nunca se aprenderá a arte divina do silêncio fecundo e enriquecedor.
Hoje em dia, se fala muito em meditar, mas meditar tem uma conotação muito mais profunda. Meditar é esvaziar-se totalmente de qualquer conteúdo do ego tirânico e se colocar plenamente consciente, como canal vazio, diante da plenitude da Fonte, ou em linguagem da Sagrada Escritura: “Sê quieto – e saberás que Eu sou Deus.” Ou ainda: “Deus resiste aos soberbos (para as pessoas plenas de ego) e dá sua graça aos humildes (para os vazios de ego).” Segundo a eterna matemática cósmica, a cosmo-plenitude plenifica somente a ego vacuidade, mas não plenifica a ego-plenitude.
Maria, mãe de Jesus, sabia disto quando exclamou diante de Isabel: “Deus encheu de bens aos famintos e despediu vazios os fartos.” Ou ainda no Sermão da Montanha: “Bem-aventurados os que tem fome e sede da justiça (da Verdade), porque eles serão saciados.”
O silêncio-presença e o silêncio-plenitude são uma ausência e uma vacuidade do ego humano que tem intenso desejo da Teo-presença e da Teo-plenitude.
Mesmo no terreno meramente humano vale esta matemática: o homem que já superou e se desiludiu da esperança de encontrar nas zonas periféricas das suas exterioridades relativas e inconstantes, a verdade divina, movimenta-se como o girassol, em direção ao centro do Absoluto e constante da Realidade.
Quem não vislumbra, ou pelo menos imaginou o Absoluto, Deus, em longos e profundos mergulhos de silêncio, vive plenificado de vacuidades e não sente o desejo pelo Absoluto.
Pela vacuidade do silêncio prolongado, a plenitude da alma flui irresistivelmente para dentro da vacuidade do cosmos humano.
O silêncio é a linguagem do espírito – que é interrompido pelo falar.
Texto revisado e em parte, extraído do livro EINSTEIN, O Enigma do Universo
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